Poderão organismos terrestres colonizar a superfície de Marte? De acordo com um recente trabalho de um grupo de cientistas do DLR (Deutsches Zentrum für Luft- und Raumfahrt), sim. Durante 34 dias, Jean-Pierre de Vera e os seus colaboradores do Instituto de Investigação Planetária, em Berlim, mantiveram líquenes antárcticos da espécie Pleopsidium chlorophanum selados numa câmara com condições ambientais semelhantes às da superfície marciana. No final da experiência, os investigadores verificaram que os líquenes não só estavam vivos como também se tinham adaptado ao seu novo ambiente, ocupando nichos em fissuras abrigadas nas rochas e no solo marcianos simulados.
O líquen antárctico Pleopsidium chlorophanum.
Crédito: DLR.
Os líquenes são seres vivos simples, mas com uma incrível capacidade de adaptação a condições extremas. O seu sucesso na colonização dos mais variados ambientes terrestres tem origem na sua invulgar organização e fisiologia. Os líquenes são, na verdade, uma associação simbiótica entre um fungo (o micobionte) e uma alga ou cianobactéria (o fitobionte). Os micobiontes são muito mais numerosos e envolvem completamente os fotobiontes, alimentando-se dos nutrientes por si produzidos e controlando os seus ciclos reprodutivos. Os fotobiontes beneficiam da protecção que o tecido fúngico fornece contra a luz intensa, a seca e as temperaturas extremas.
Câmara de simulação das condições ambientais de Marte usada na experiência.
Crédito: DLR.
No interior da câmara de simulação, os líquenes suportaram condições verdadeiramente inóspitas. Os investigadores recriaram uma atmosfera muito semelhante à de Marte, com uma composição de 95% de CO2, 4% de N2 e vestígios de Ar e de O2, e uma pressão de apenas 6 milibares (o equivalente à pressão atmosférica encontrada 35 quilómetros acima da superfície terrestre). Os constituintes minerais do solo e das rochas onde se fixaram os líquenes foram escolhidos com base nos dados disponibilizados por missões como as do robots Spirit e Opportunity. Fontes luminosas especiais, abrangendo todo o espectro desde ultravioleta até ao infravermelho, reproduziram em ciclos de 16 horas de luz e 8 horas de escuridão, a intensa radiação solar que atinge a superfície do planeta vermelho. Por fim, a temperatura no interior da câmara oscilou em ciclos semelhantes aos da luz, entre os -50ºC e os 23ºC.
Os resultados deste trabalho sugerem que a fotossíntese é um processo biológico possível de concretizar nas condições extremas oferecidas em Marte. Os líquenes polares demonstraram ser sobreviventes criativos, colonizando em poucos dias os nichos mais abrigados no ambiente artificial da câmara de simulação. A forma como estes organismos se adaptaram tão rápido a condições inóspitas remete-nos para duas noções muito importantes. Em primeiro lugar, uma vez instalada a vida procura sempre soluções engenhosas para sobreviver, pelo que não é abusivo concluir que se alguma vez a vida floresceu em Marte, ela possa estar presente nos dias de hoje nos habitats mais abrigados. Em segundo lugar, esta extraordinária capacidade de adaptação dos organismos terrestres às duras condições do planeta vermelho mostra que a protecção de uma possível biosfera marciana deverá constar entre as principais prioridades no planeamento de missões de exploração a Marte.
Os investigadores estão agora a testar as mesmas condições desta experiência com outros organismos, incluindo líquenes polares e alpinos e cianobactérias. Entre os organismos seleccionados contam-se alguns usados em experiências realizadas na Estação Espacial Internacional, em plataformas de exposição às condições do espaço. Até agora os resultados demonstram que um variado leque de líquenes e cianobactérias isolados de ambientes polares apresentam as mesmas capacidades de adaptação às condições ambientais marcianas observadas na primeira experiência.
Este trabalho foi apresentado em Abril passado na Assembleia Geral da União Europeia de Geociência (podem encontrar um sumário e algum material da apresentação aqui e aqui).
O líquen antárctico Pleopsidium chlorophanum.
Crédito: DLR.
Os líquenes são seres vivos simples, mas com uma incrível capacidade de adaptação a condições extremas. O seu sucesso na colonização dos mais variados ambientes terrestres tem origem na sua invulgar organização e fisiologia. Os líquenes são, na verdade, uma associação simbiótica entre um fungo (o micobionte) e uma alga ou cianobactéria (o fitobionte). Os micobiontes são muito mais numerosos e envolvem completamente os fotobiontes, alimentando-se dos nutrientes por si produzidos e controlando os seus ciclos reprodutivos. Os fotobiontes beneficiam da protecção que o tecido fúngico fornece contra a luz intensa, a seca e as temperaturas extremas.
Câmara de simulação das condições ambientais de Marte usada na experiência.
Crédito: DLR.
No interior da câmara de simulação, os líquenes suportaram condições verdadeiramente inóspitas. Os investigadores recriaram uma atmosfera muito semelhante à de Marte, com uma composição de 95% de CO2, 4% de N2 e vestígios de Ar e de O2, e uma pressão de apenas 6 milibares (o equivalente à pressão atmosférica encontrada 35 quilómetros acima da superfície terrestre). Os constituintes minerais do solo e das rochas onde se fixaram os líquenes foram escolhidos com base nos dados disponibilizados por missões como as do robots Spirit e Opportunity. Fontes luminosas especiais, abrangendo todo o espectro desde ultravioleta até ao infravermelho, reproduziram em ciclos de 16 horas de luz e 8 horas de escuridão, a intensa radiação solar que atinge a superfície do planeta vermelho. Por fim, a temperatura no interior da câmara oscilou em ciclos semelhantes aos da luz, entre os -50ºC e os 23ºC.
Os resultados deste trabalho sugerem que a fotossíntese é um processo biológico possível de concretizar nas condições extremas oferecidas em Marte. Os líquenes polares demonstraram ser sobreviventes criativos, colonizando em poucos dias os nichos mais abrigados no ambiente artificial da câmara de simulação. A forma como estes organismos se adaptaram tão rápido a condições inóspitas remete-nos para duas noções muito importantes. Em primeiro lugar, uma vez instalada a vida procura sempre soluções engenhosas para sobreviver, pelo que não é abusivo concluir que se alguma vez a vida floresceu em Marte, ela possa estar presente nos dias de hoje nos habitats mais abrigados. Em segundo lugar, esta extraordinária capacidade de adaptação dos organismos terrestres às duras condições do planeta vermelho mostra que a protecção de uma possível biosfera marciana deverá constar entre as principais prioridades no planeamento de missões de exploração a Marte.
Os investigadores estão agora a testar as mesmas condições desta experiência com outros organismos, incluindo líquenes polares e alpinos e cianobactérias. Entre os organismos seleccionados contam-se alguns usados em experiências realizadas na Estação Espacial Internacional, em plataformas de exposição às condições do espaço. Até agora os resultados demonstram que um variado leque de líquenes e cianobactérias isolados de ambientes polares apresentam as mesmas capacidades de adaptação às condições ambientais marcianas observadas na primeira experiência.
Este trabalho foi apresentado em Abril passado na Assembleia Geral da União Europeia de Geociência (podem encontrar um sumário e algum material da apresentação aqui e aqui).
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