Pinnacle Island vista em cores naturais pelo robot Opoortunity a 26 de Janeiro de 2014.
Crédito: NASA/JPL/Sérgio Paulino.
E pronto. O já conhecido Journal of Cosmology voltou à carga com mais um artigo anunciando a descoberta de vida extraterrestre. O texto é assinado por Rhawn Joseph, um acérrimo defensor da ideia, no mínimo, controversa da panspermia direccionada, e versa sobre a pequena rocha que, no início de Janeiro, apareceu misteriosamente junto ao robot Opportunity.
De acordo com Joseph, as imagens disponibilizadas pela NASA são uma "evidência de actividade biológica" na superfície do planeta vermelho". Porquê? Nas palavras do autor, "a misteriosa estrutura em forma de taça, que apareceu em Marte, não se parece com uma rocha ou meteorito, mas com um líquen, que na Terra é conhecido por Apothecia".
Antes de mais, convém esclarecer o seguinte pormenor: não existem líquenes do género Apothecia. Os líquenes são associações simbióticas estáveis entre um fungo (o micobionte) e, pelo menos, um parceiro fotossintético (o fotobionte), que pode ser uma microalga, uma cianobactéria, ou ambos. Algumas espécies fúngicas liquenizadas produzem apotecas (em inglês, apothecia), que são pequenas estruturas reprodutivas em forma de taça.
Apotecas em Xantoria parietina, um líquen foliáceo comum na Europa.
Crédito: Umberto Salvagnin.
Após esta confusão inicial, Joseph tenta fundamentar a sua convicção, fazendo comparações entre as imagens obtidas pelo Opportunity e algumas imagens e esquemas de apotecas. Joseph afirma, ainda, que "a ausência de um campo de detritos ou perturbações no solo marciano ou pequenas rochas na vizinhança da estrutura exclui meteoros (não seriam meteoritos?) ou uma rocha que possa ter sido deslocada de outro sítio", pelo que a súbita aparição desta curiosa estrutura só poderia ser explicada pela exposição de um líquen marciano a humidade, e consequente formação de uma apoteca.
Obviamente, que esta interpretação não tem qualquer suporte nos dados disponibilizados pela NASA. Não só as imagens mostram, claramente, uma estrutura rochosa, como são simples e claras as hipóteses providenciadas pela equipa da missão para o seu súbito aparecimento junto ao Opportunity. Ao contrário do que é afirmado por Joseph, a rocha foi estudada em detalhe pelo robot da NASA, inclusive com a sua pequena câmara microscópica (como podem confirmar aqui), pelo que é completamente desajustado o role de acusações com que Joseph preenche a pretensa discussão do artigo.
Enfim... Vida em Marte? Nunca é demais relembrar a ilustre frase de Carl Sagan: "afirmações extraordinárias requerem provas extraordinárias".
Actualização:
Rhawn Joseph não conteve a sua indignação para com a ausência de uma resposta oficial da equipa científica da missão Mars Exploration Rovers (MER) relativamente às suas alegações, e avançou anteontem com uma acção judicial contra a NASA e o seu administrador Charles Bolden. Joseph acusa John Callas (director do projecto MER), Steven Squyres (investigador principal da MER), Charles Bolden e outros administradores da NASA de negligenciarem os seus apelos, e exige que a NASA "cumpra um dever público, científico e legal, que é fotografar de perto, e examinar e investigar com todo o detalhe científico, um putativo organismo biológico". Num expoente máximo de deselegância, Joseph afirma, ainda, que "qualquer adulto inteligente, adolescente, criança, chimpanzé, macaco, cão ou roedor com uma réstia de curiosidade, aproximar-se-ia, investigaria e examinaria de perto" a misteriosa estrutura em forma de taça, e que a NASA em vez de investigar, avança com uma explicação que é "bizarra, absurda, ignorante e pouco mais do que pensamento mágico".
Podem desfrutar de todo o conteúdo desta acção aqui.
Crédito: NASA/JPL/Sérgio Paulino.
E pronto. O já conhecido Journal of Cosmology voltou à carga com mais um artigo anunciando a descoberta de vida extraterrestre. O texto é assinado por Rhawn Joseph, um acérrimo defensor da ideia, no mínimo, controversa da panspermia direccionada, e versa sobre a pequena rocha que, no início de Janeiro, apareceu misteriosamente junto ao robot Opportunity.
De acordo com Joseph, as imagens disponibilizadas pela NASA são uma "evidência de actividade biológica" na superfície do planeta vermelho". Porquê? Nas palavras do autor, "a misteriosa estrutura em forma de taça, que apareceu em Marte, não se parece com uma rocha ou meteorito, mas com um líquen, que na Terra é conhecido por Apothecia".
Antes de mais, convém esclarecer o seguinte pormenor: não existem líquenes do género Apothecia. Os líquenes são associações simbióticas estáveis entre um fungo (o micobionte) e, pelo menos, um parceiro fotossintético (o fotobionte), que pode ser uma microalga, uma cianobactéria, ou ambos. Algumas espécies fúngicas liquenizadas produzem apotecas (em inglês, apothecia), que são pequenas estruturas reprodutivas em forma de taça.
Apotecas em Xantoria parietina, um líquen foliáceo comum na Europa.
Crédito: Umberto Salvagnin.
Após esta confusão inicial, Joseph tenta fundamentar a sua convicção, fazendo comparações entre as imagens obtidas pelo Opportunity e algumas imagens e esquemas de apotecas. Joseph afirma, ainda, que "a ausência de um campo de detritos ou perturbações no solo marciano ou pequenas rochas na vizinhança da estrutura exclui meteoros (não seriam meteoritos?) ou uma rocha que possa ter sido deslocada de outro sítio", pelo que a súbita aparição desta curiosa estrutura só poderia ser explicada pela exposição de um líquen marciano a humidade, e consequente formação de uma apoteca.
Obviamente, que esta interpretação não tem qualquer suporte nos dados disponibilizados pela NASA. Não só as imagens mostram, claramente, uma estrutura rochosa, como são simples e claras as hipóteses providenciadas pela equipa da missão para o seu súbito aparecimento junto ao Opportunity. Ao contrário do que é afirmado por Joseph, a rocha foi estudada em detalhe pelo robot da NASA, inclusive com a sua pequena câmara microscópica (como podem confirmar aqui), pelo que é completamente desajustado o role de acusações com que Joseph preenche a pretensa discussão do artigo.
Enfim... Vida em Marte? Nunca é demais relembrar a ilustre frase de Carl Sagan: "afirmações extraordinárias requerem provas extraordinárias".
Actualização:
Rhawn Joseph não conteve a sua indignação para com a ausência de uma resposta oficial da equipa científica da missão Mars Exploration Rovers (MER) relativamente às suas alegações, e avançou anteontem com uma acção judicial contra a NASA e o seu administrador Charles Bolden. Joseph acusa John Callas (director do projecto MER), Steven Squyres (investigador principal da MER), Charles Bolden e outros administradores da NASA de negligenciarem os seus apelos, e exige que a NASA "cumpra um dever público, científico e legal, que é fotografar de perto, e examinar e investigar com todo o detalhe científico, um putativo organismo biológico". Num expoente máximo de deselegância, Joseph afirma, ainda, que "qualquer adulto inteligente, adolescente, criança, chimpanzé, macaco, cão ou roedor com uma réstia de curiosidade, aproximar-se-ia, investigaria e examinaria de perto" a misteriosa estrutura em forma de taça, e que a NASA em vez de investigar, avança com uma explicação que é "bizarra, absurda, ignorante e pouco mais do que pensamento mágico".
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