A lua Encélado, vista pela sonda Cassini a 14 de abril de 2012.
Crédito: NASA/JPL/SSI/Gordan Ugarkovic.
Uma equipa de cientistas norte-americanos usou dados recolhidos pela sonda Cassini para construir um novo modelo químico do oceano interior de Encélado. O modelo demonstra que os géiseres de Encélado têm origem num reservatório de água com um pH de 11 a 12, e uma concentração de cloreto de sódio (NaCl) idêntica à dos oceanos terrestres. No entanto, a presença de concentrações substanciais de carbonato de sódio (Na2CO3) sugere que o oceano da pequena lua de Saturno tem uma composição química mais semelhante à das águas alcalinas do lago Mono, nos Estados Unidos, e do lago Magadi, no Quénia. Este trabalho foi publicado no passado mês de abril na revista Geochimica et Cosmochimica Acta e traça o esboço de um ambiente extraterrestre potencialmente favorável ao desenvolvimento da vida tal como a conhecemos.
"A determinação do pH melhora a nossa compreensão acerca dos processos geoquímicos [que ocorrem] no oceano de Encélado", explica Christopher Glein, investigador do Instituto Carnegie, nos Estados Unidos, e primeiro autor deste trabalho.
O modelo criado por Glein e colegas sugere que o elevado pH do oceano de Encélado resulta de um processo geoquímico conhecido por serpentinização. Na Terra, este processo ocorre quando rochas ígneas pobres em sílica e ricas em ferro e magnésio ascendem desde as camadas superiores do manto até ao fundos oceânicos, locais onde interagem quimicamente com a água. Esta interação produz alterações profundas na estrutura e composição mineralógica destas rochas, e conduz à formação de fluídos aquosos extremamente alcalinos.
"Porque é a serpentinização [um processo] de tão grande interesse? Porque as reações entre as rochas ricas em metais e a água do oceano produzem também hidrogénio molecular (H2), [uma molécula] que constitui uma fonte de energia química essencial para a manutenção de biosferas profundas na ausência de luz no interior de luas e planetas", afirma Glein. "Este processo é central para uma ciência emergente como a astrobiologia, porque o hidrogénio molecular tanto pode levar à formação de compostos orgânicos, como os aminoácidos, que podem conduzir à origem da vida, como pode também servir de [fonte de] alimento para a vida microbiana (exemplo: bactérias metanogénicas). Como tal, a serpentinização providencia uma ligação entre os processos geológicos e os processos biológicos. A descoberta da serpentinização torna Encélado um candidato ainda mais promissor para uma génese independente da vida."
Uma génese independente não implica, porém, necessariamente, uma continuidade da vida até aos dias de hoje. A verdade é que os cientistas nada sabem acerca da atual disponibilidade de H2 no interior de Encélado, pelo que é possível que o sistema tenha atingido no passado um estado de completo equilíbrio químico, o que inviabilizaria a sobrevivência de uma biosfera baseada neste processo. Esta será certamente uma questão importante a ter em conta na avaliação da habitabilidade de oceanos interiores em pequenos mundos como Encélado e Europa.
Podem encontrar todos os detalhes deste trabalho aqui.
Crédito: NASA/JPL/SSI/Gordan Ugarkovic.
Uma equipa de cientistas norte-americanos usou dados recolhidos pela sonda Cassini para construir um novo modelo químico do oceano interior de Encélado. O modelo demonstra que os géiseres de Encélado têm origem num reservatório de água com um pH de 11 a 12, e uma concentração de cloreto de sódio (NaCl) idêntica à dos oceanos terrestres. No entanto, a presença de concentrações substanciais de carbonato de sódio (Na2CO3) sugere que o oceano da pequena lua de Saturno tem uma composição química mais semelhante à das águas alcalinas do lago Mono, nos Estados Unidos, e do lago Magadi, no Quénia. Este trabalho foi publicado no passado mês de abril na revista Geochimica et Cosmochimica Acta e traça o esboço de um ambiente extraterrestre potencialmente favorável ao desenvolvimento da vida tal como a conhecemos.
"A determinação do pH melhora a nossa compreensão acerca dos processos geoquímicos [que ocorrem] no oceano de Encélado", explica Christopher Glein, investigador do Instituto Carnegie, nos Estados Unidos, e primeiro autor deste trabalho.
O modelo criado por Glein e colegas sugere que o elevado pH do oceano de Encélado resulta de um processo geoquímico conhecido por serpentinização. Na Terra, este processo ocorre quando rochas ígneas pobres em sílica e ricas em ferro e magnésio ascendem desde as camadas superiores do manto até ao fundos oceânicos, locais onde interagem quimicamente com a água. Esta interação produz alterações profundas na estrutura e composição mineralógica destas rochas, e conduz à formação de fluídos aquosos extremamente alcalinos.
"Porque é a serpentinização [um processo] de tão grande interesse? Porque as reações entre as rochas ricas em metais e a água do oceano produzem também hidrogénio molecular (H2), [uma molécula] que constitui uma fonte de energia química essencial para a manutenção de biosferas profundas na ausência de luz no interior de luas e planetas", afirma Glein. "Este processo é central para uma ciência emergente como a astrobiologia, porque o hidrogénio molecular tanto pode levar à formação de compostos orgânicos, como os aminoácidos, que podem conduzir à origem da vida, como pode também servir de [fonte de] alimento para a vida microbiana (exemplo: bactérias metanogénicas). Como tal, a serpentinização providencia uma ligação entre os processos geológicos e os processos biológicos. A descoberta da serpentinização torna Encélado um candidato ainda mais promissor para uma génese independente da vida."
Uma génese independente não implica, porém, necessariamente, uma continuidade da vida até aos dias de hoje. A verdade é que os cientistas nada sabem acerca da atual disponibilidade de H2 no interior de Encélado, pelo que é possível que o sistema tenha atingido no passado um estado de completo equilíbrio químico, o que inviabilizaria a sobrevivência de uma biosfera baseada neste processo. Esta será certamente uma questão importante a ter em conta na avaliação da habitabilidade de oceanos interiores em pequenos mundos como Encélado e Europa.
Podem encontrar todos os detalhes deste trabalho aqui.
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