O cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko numa imagem obtida pela sonda Rosetta, a 25 de março de 2015.
Crédito: ESA/Rosetta/NavCam.
A sonda Rosetta detetou a presença de ingredientes cruciais para o aparecimento da vida na Terra na nuvem de gás e poeira que rodeia o núcleo do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko. A descoberta foi divulgada anteontem, num artigo publicado na revista Science Advances, e suporta a ideia de que os cometas foram fundamentais no estabelecimento de uma química prebiótica responsável pela formação dos primeiros organismos vivos no nosso planeta.
Entre os compostos detetados pela sonda europeia encontram-se a glicina, o mais pequeno dos 20 aminoácidos que compõem as proteínas. Os cientistas tinham já detetado quantidades vestigiais deste aminoácido em amostras de partículas de poeira do cometa Wild-2 enviadas para a Terra em 2006 pela missão Stardust. No entanto, a presença de possíveis contaminantes terrestres nas amostras não possibilitou confirmar com 100% de certeza a sua origem cometária.
"Esta é a primeira deteção inequívoca de glicina num cometa", disse Kathrin Altwegg, primeira autora deste trabalho e investigadora principal do Rosetta Orbiter Spectrometer for Ion and Neutral Analysis (ROSINA), o instrumento responsável pelas medições. "Ao mesmo tempo, detetámos também outras moléculas orgânicas que podem ser precursoras da glicina, o que deu pistas para possíveis vias a partir das quais a glicina poderá ser formada."
Os dados foram obtidos antes do cometa alcançar o periélio da sua órbita, em agosto de 2015. A primeira deteção foi realizada em outubro de 2014, antes do lançamento do robot Philae, numa altura em que a Rosetta orbitava o núcleo de 67P a uma distância de apenas de 10 km. A deteção seguinte ocorreu durante um voo rasante a 28 de março de 2015, quando a sonda europeia sobrevoava o cometa a altitudes entre os 15 e os 30 km. A Rosetta observou ainda a presença de glicina nas semanas que antecederam o periélio, em períodos coincidentes com fortes erupções na superfície do cometa, num período em que a sonda euorpeia se encontrava a mais de 200 km de distância e rodeada por uma nuvem de poeira relativamente densa.
Espetros de massa de alguns dos compostos detetados pelo instrumento ROSINA, a 9 de julho de 2015. No gráfico inferior direito podemos ver o pico correspondente à glicina (C2H5NO2).
Crédito: Altwegg et al. (2016).
"Vemos uma forte ligação entre a glicina e a poeira, o que sugere que provavelmente é libertada, talvez com outros voláteis, pelo manto gelado dos grãos de poeira, a partir do momento que estes aquecem na cabeleira", explicou Altwegg. A glicina sublima a temperaturas ligeiramente inferiores a 150 ºC, o que sugere que, em condições normais, o núcleo do cometa liberta apenas uma pequena quantidade devido às baixas temperaturas da sua superfície. Isto explica o facto da Rosetta não ter detetado continuamente a sua presença.
"A glicina é o único aminoácido conhecido que é capaz de se formar sem a presença de água líquida, e o facto de o vermos na companhia de moléculas precursoras e de poeira sugere que se forma no interior de grãos gelados de poeira interestelar ou por irradiação do gelo com radiação ultravioleta, antes de ficar ligada e conservada no cometa por milhares de milhões de anos", disse Altwegg.
A deteção de fósforo foi outro dos resultados importantes divulgados neste trabalho. O fósforo é um dos elementos chave da estrutura dos ácidos nucleicos e dos fosfolípidos que compõem as biomembranas, e é usado pelas células no armazenamento e transferência de energia entre os diferentes compartimentos celulares.
"Existem ainda muitas incertezas acerca da química presente logo após a formação da Terra, e existe ainda, obviamente, uma enorme lacuna evolutiva para preencher entre a chegada destes compostos químicos, através do impacto de cometas, e a tomada das rédeas pela vida", afirmou Hervé Cottin, um dos coautores deste trabalho. "Mas o ponto importante é que os cometas não se modificaram ao longo de 4,5 mil milhões de anos, pelo que oferecem-nos um acesso direto a alguns dos ingredientes que provavelmente foram parar na sopa prebiótica que eventualmente resultou no aparecimento da vida na Terra."
Os detalhes deste trabalho podem ser encontrados aqui.
Crédito: ESA/Rosetta/NavCam.
A sonda Rosetta detetou a presença de ingredientes cruciais para o aparecimento da vida na Terra na nuvem de gás e poeira que rodeia o núcleo do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko. A descoberta foi divulgada anteontem, num artigo publicado na revista Science Advances, e suporta a ideia de que os cometas foram fundamentais no estabelecimento de uma química prebiótica responsável pela formação dos primeiros organismos vivos no nosso planeta.
Entre os compostos detetados pela sonda europeia encontram-se a glicina, o mais pequeno dos 20 aminoácidos que compõem as proteínas. Os cientistas tinham já detetado quantidades vestigiais deste aminoácido em amostras de partículas de poeira do cometa Wild-2 enviadas para a Terra em 2006 pela missão Stardust. No entanto, a presença de possíveis contaminantes terrestres nas amostras não possibilitou confirmar com 100% de certeza a sua origem cometária.
"Esta é a primeira deteção inequívoca de glicina num cometa", disse Kathrin Altwegg, primeira autora deste trabalho e investigadora principal do Rosetta Orbiter Spectrometer for Ion and Neutral Analysis (ROSINA), o instrumento responsável pelas medições. "Ao mesmo tempo, detetámos também outras moléculas orgânicas que podem ser precursoras da glicina, o que deu pistas para possíveis vias a partir das quais a glicina poderá ser formada."
Os dados foram obtidos antes do cometa alcançar o periélio da sua órbita, em agosto de 2015. A primeira deteção foi realizada em outubro de 2014, antes do lançamento do robot Philae, numa altura em que a Rosetta orbitava o núcleo de 67P a uma distância de apenas de 10 km. A deteção seguinte ocorreu durante um voo rasante a 28 de março de 2015, quando a sonda europeia sobrevoava o cometa a altitudes entre os 15 e os 30 km. A Rosetta observou ainda a presença de glicina nas semanas que antecederam o periélio, em períodos coincidentes com fortes erupções na superfície do cometa, num período em que a sonda euorpeia se encontrava a mais de 200 km de distância e rodeada por uma nuvem de poeira relativamente densa.
Espetros de massa de alguns dos compostos detetados pelo instrumento ROSINA, a 9 de julho de 2015. No gráfico inferior direito podemos ver o pico correspondente à glicina (C2H5NO2).
Crédito: Altwegg et al. (2016).
"Vemos uma forte ligação entre a glicina e a poeira, o que sugere que provavelmente é libertada, talvez com outros voláteis, pelo manto gelado dos grãos de poeira, a partir do momento que estes aquecem na cabeleira", explicou Altwegg. A glicina sublima a temperaturas ligeiramente inferiores a 150 ºC, o que sugere que, em condições normais, o núcleo do cometa liberta apenas uma pequena quantidade devido às baixas temperaturas da sua superfície. Isto explica o facto da Rosetta não ter detetado continuamente a sua presença.
"A glicina é o único aminoácido conhecido que é capaz de se formar sem a presença de água líquida, e o facto de o vermos na companhia de moléculas precursoras e de poeira sugere que se forma no interior de grãos gelados de poeira interestelar ou por irradiação do gelo com radiação ultravioleta, antes de ficar ligada e conservada no cometa por milhares de milhões de anos", disse Altwegg.
A deteção de fósforo foi outro dos resultados importantes divulgados neste trabalho. O fósforo é um dos elementos chave da estrutura dos ácidos nucleicos e dos fosfolípidos que compõem as biomembranas, e é usado pelas células no armazenamento e transferência de energia entre os diferentes compartimentos celulares.
"Existem ainda muitas incertezas acerca da química presente logo após a formação da Terra, e existe ainda, obviamente, uma enorme lacuna evolutiva para preencher entre a chegada destes compostos químicos, através do impacto de cometas, e a tomada das rédeas pela vida", afirmou Hervé Cottin, um dos coautores deste trabalho. "Mas o ponto importante é que os cometas não se modificaram ao longo de 4,5 mil milhões de anos, pelo que oferecem-nos um acesso direto a alguns dos ingredientes que provavelmente foram parar na sopa prebiótica que eventualmente resultou no aparecimento da vida na Terra."
Os detalhes deste trabalho podem ser encontrados aqui.
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