Crédito: NASA/JPL-Caltech/University of Arizona/University of Idaho.
Com a aproximação do Verão no hemisfério norte de Titã, os lagos e mares de metano e etano da região do pólo norte, estão agora, finalmente, ao alcance dos sensores remotos de infravermelhos da sonda Cassini. Imagens obtidas recentemente por estes instrumentos mostram que muitas destas superfícies líquidas encontram-se rodeadas por materiais brilhantes nunca antes vistos noutras regiões da lua de Saturno.
Titã é o único objecto conhecido, além da Terra, com massas líquidas estáveis na sua superfície. A grande maioria reside na região do pólo norte, acima dos 55º de latitude. Mapeada em grande parte pelo radar da Cassini, esta região apenas tinha sido examinada de forma parcial e pouco detalhada pelas câmaras do subsistema de imagem e pelo espectrómetro de infravermelhos VIMS (Visual and Infrared Mapping Spectrometer).
A recente combinação da chegada da luz solar às latitudes mais setentrionais, de condições atmosféricas excepcionais na região do pólo norte, e de trajectórias polares com geometrias de observação muito favoráveis, vieram, no entanto, proporcionar à Cassini, nos últimos meses, uma visão sem precedentes dos inúmeros lagos e dos grandes mares presentes nesta região.
"A observação realizada pelo VIMS dá-nos uma visão holística de uma área que antes apenas tínhamos observado em pedaços e em baixa resolução", afirmou à NASA Jason Barnes, um dos cientistas da equipa responsável pelo instrumento da Cassini. "Parece que o pólo norte de Titã é ainda mais interessante do que pensávamos, com uma complexa interacção de líquidos em lagos e mares, e depósitos deixados pela evaporação de antigos lagos e mares."
Os mares e alguns lagos do pólo norte de Titã, numa imagem de infravermelho obtida pela Cassini, a 12 de Setembro de 2013.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SSI/JHUAPL/University of Arizona.
As novas imagens de infravermelho obtidas pelo VIMS revelam a presença de faixas de terreno brilhantes nas margens dos lagos e mares da região do pólo norte titaniano, semelhantes às identificadas há dois anos nos leitos secos de antigos lagos localizados a sul de Ligeia Mare. Os dados sugerem que estas áreas não são mais do que materiais depositados por processos semelhantes aos responsáveis pela formação dos evaporitos encontrados em planícies salgadas na Terra.
A presença destas unidades brilhantes numa região onde se concentram a grande maioria das massas líquidas de Titã sugere que esta é uma área com uma geologia única em toda superfície da lua de Saturno. A morfologia distintiva dos lagos, com silhuetas circulares recortadas e margens inclinadas, tem levado os cientistas a propor diversas explicações para a sua formação. Contam-se entre as mais vulgares o colapso de antigas caldeiras vulcânicas, e a presença na região de terrenos cársicos, versões extraterrestres dos terrenos que estão na origem das belas paisagens observadas, por exemplo, na costa dálmata, na Croácia.
"Desde que os lagos e mares foram descobertos, que nos temos questionado porque se concentram eles nas latitudes mais setentrionais", disse Elizabeth Turtle, cientista da equipa de imagem da missão. "Portanto, verificar que existe algo de especial relativo à superfície nesta região é uma grande pista que nos ajuda a limitar as possíveis explicações."
"A região dos lagos setentrionais de Titã é uma das regiões mais parecidas com a Terra e intrigantes do Sistema Solar", afirmou Linda Spilker, cientista do projecto Cassini. "Sabemos que aqui os lagos mudam com as estações, e a longa missão da Cassini em Saturno dá-nos também a oportunidade de observar as mudanças das estações em Titã. Agora que o Sol brilha no norte e nós temos estas maravilhosas observações, podemos começar a comparar os diferentes conjuntos de dados, e a desvendar o que os lagos de Titã estão a fazer na região do pólo norte."
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