sábado, 31 de março de 2012

Missão Cassini: espectaculares imagens de Encélado, Jano, Dione e Reia

Na passada terça-feira, a sonda Cassini concretizou uma passagem a apenas 74 km da superfície de Encélado. O encontro teve como objectivo principal o estudo da composição química dos jactos de vapor e de partículas de gelo de água em actividade na região do pólo sul, pelo que grande parte das observações estiveram reservadas aos espectrómetros INMS, CAPS e CIRS. Durante a aproximação, a câmara de ângulo fechado da Cassini focou o lado nocturno da lua e fotografou as plumas em contra-luz através de diversos filtros de cor. Aqui está a mais bela imagem desse conjunto.

Encélado e as suas espectaculares plumas, numa imagem obtida pela sonda Cassini a 27 de Março de 2012.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Após o encontro com Encélado, a Cassini navegou pelas proximidades de Jano, Dione e Reia. A equipa de imagem da missão aproveitou estas passagens não programadas para aumentar o acervo de retratos da superfície gelada destes pequenos mundos. Eis alguns magníficos exemplares.

Jano vista pela Cassini a 27 de Março de 2012.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Jano em frente da Saturno numa composição em cores aproximadamente naturais construída com imagens obtidas pela Cassini a 27 de Março de 2012, através de filtros para o ultravioleta próximo, o verde e o infravermelho próximo.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

Evander, uma cratera com 350 km de diâmetro situada na região do pólo sul de Dione. Imagem obtida pela sonda Cassini a 28 de Março de 2012.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Reia pairando sobre os anéis de Saturno. São visíveis ainda duas pequenas luas passando a grande velocidade junto aos anéis (a segunda está parcialmente oculta pelos anéis no lado esquerdo da imagem). Imagem obtida pela câmara de ângulo fechado da Cassini a 29 de Março de 2012.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Imagem de contexto mostrando o mesmo cenário da imagem de cima. É visível entre Saturno e Reia a pequena lua Mimas.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Cientistas observam a dança de um gigantesco tornado solar

Os tornados solares são fenómenos relativamente frequentes na superfície do Sol, que muitas vezes precedem a libertação de violentas ejecções de massa coronal. Recentemente, o Solar Dynamics Observatory registou imagens de uma destas magníficas estruturas elevando-se a uma altitude equivalente a 5 vezes o diâmetro da Terra!

Sequência de imagens obtidas a 25 de Setembro de 2011 pelo Solar Dynamics Observatory (AIA, canal de 171 Å), mostrando um monstruoso tornado em rotação na atmosfera solar.
Crédito: NASA/Dr. Xing Li, Dr. Huw Morgan and Mr. Drew Leonard.

Investigadores da Universidade de Aberystwyth, País de Gales, analisaram em detalhe as imagens e descobriram algumas particularidades interessantes que poderão ajudar a compreender os mecanismos que mobilizam as ejecções de massa coronal. Durante um período de algumas horas, o Solar Dynamics Observatory observou gases superaquecidos a temperaturas na ordem dos 50.000 a 2.000.000º C a serem sugados de uma densa proeminência e a moverem-se em espiral até às camadas mais exteriores da atmosfera solar. Estes gases moviam-se a velocidades que atingiram os 300 mil quilómetros por hora!
Aparentemente, os tornados solares arrastam consigo dobras do campo magnético solar, moldando-as numa estrutura em hélice por onde é ejectado material da superfície. É este movimento ascendente de gás superaquecido que, segundo Xing Li e colegas, poderá desempenhar um papel fundamental na formação de uma ejecção de massa coronal.
A equipa espera poder estudar mais destes tornados durante o actual ciclo solar. Entretanto, podem apreciar o vídeo apresentado ontem pelos investigadores na UK-Germany National Astronomy Meeting 2012.

terça-feira, 27 de março de 2012

Um dia de Verão em Shackleton

Shackleton é uma antiga cratera lunar com 21 km de diâmetro e 4,2 km de profundidade, situada nas proximidades do pólo sul da Lua. É um local muito interessante porque o seu interior mantém-se permanentemente imerso na escuridão, ocultando do Sol preciosos depósitos de gelo de água e de outras substâncias voláteis.
Recentemente, o astrónomo amador Howard Fink produziu uma bela animação que mostra a iluminação de Shackleton durante um dia lunar de Verão, quando o Sol se encontra na sua máxima elevação sobre esta região (cerca de 1,4 graus a sul do equador lunar).

A iluminação da cratera Shackleton durante um dia lunar com o Sol na sua máxima declinação a sul. Animação construída com modelos tridimensionais gerados a partir de dados obtidos pelo instrumento LOLA, o altímetro da missão Lunar Reconnaissance Orbiter. Os pequenos picos localizados nas proximidades de Shackleton são artefactos instrumentais.
Crédito: NASA/LRO/LOLA Science Team/animação de Howard Fink.

Auroras austrais sobre o Oceano Índico

Preparem-se para mais um espantoso vídeo criado pela tripulação da Estação Espacial Internacional.


O vídeo foi construído a partir de uma sequência de imagens obtidas pelos membros da Expedição 30 a 04 de Março de 2012 (num período aproximado de 8 minutos). O cenário nocturno situa-se no extremo sul do Oceano Índico e é iluminado por cortinas de auroras austrais que ondulam acima das águas frias que separam o arquipélago das Kerguelen da região a sul da Austrália.

sexta-feira, 23 de março de 2012

O que escondem as áreas permanentemente sombrias das regiões polares de Mercúrio?

Foi com grande entusiasmo que, no início dos anos 90, a NASA anunciou uma inesperada descoberta em Mercúrio. Munidos do sistema de radar Goldstone-VLA, cientistas planetários americanos identificaram nas regiões polares do planeta superfícies com elevada reflectividade radar, que sugeriam a presença de depósitos de gelo de água no interior das crateras mais profundas. Esta extraordinária descoberta viria a ser confirmada nos anos seguintes em sucessivos mapeamentos da região realizados pelo Radiotelescópio de Arecibo.
Gelo na superfície de Mercúrio? Como poderia sobreviver gelo de água num planeta tão próximo do Sol? A resposta está na inclinação do eixo de rotação do tórrido planeta. De acordo com as mais recentes medições realizadas pela sonda MESSENGER, o eixo de rotação de Mercúrio tem uma inclinação inferior a 1º, o que permite a existência de pequenas áreas permanentemente sombrias no interior das crateras mais profundas das regiões polares. Como nunca são aquecidas pelo Sol, estas superfícies mantêm-se a temperaturas suficientemente baixas para aí aprisionar gelo de água por longos períodos de tempo.

Imagens de radar da região do pólo norte de Mercúrio, obtidas a partir do observatório de Arecibo em Julho de 1999 (a) e em Agosto de 2004 (b) (resolução: 1,5 km/pixel). As zonas mais claras correspondem a superfícies com elevada reflectividade radar. A seta indica a direcção de incidência média do radar.
Crédito: John Harmon, Martin Slade e Melissa Rice (imagem publicada na revista Icarus, no artigo de 2011 Radar imagery of Mercury’s putative polar ice: 1999–2005 Arecibo results).

Um dos principais objectivos da missão primária da MESSENGER (concluída no passado dia 18 de Março) era recolher dados que permitissem determinar a natureza dos misteriosos depósitos polares. Anteontem, membros da equipa científica da missão apresentaram na 43ª Lunar and Planetary Science Conference (a decorrer durante esta semana) os primeiros resultados dessas observações.
Nancy Chabot, membro da equipa responsável pelo Mercury Dual Imaging System (MDIS), mostrou a localização das superfícies com elevada reflectividade radar em imagens da região do pólo norte de Mercúrio obtidas pela MESSENGER. Nas imagens foi possível verificar que todas as zonas brilhantes se encontram em áreas permanentemente abrigadas da luz solar. Chabot revelou ainda que quase todas as crateras com mais de 10 quilómetros de diâmetro situadas acima dos 80º de latitude (crateras profundas e complexas) contêm os misteriosos depósitos. Estas observações são consistentes com a hipótese dos depósitos serem constituídos por gelo de água.

O pólo norte de Mercúrio numa projecção estereográfica construída com imagens obtidas pela sonda MESSENGER. Estão desenhadas a cada 5º as linhas de latitude e a cada 30º as linhas de longitude (os 0º de longitude correspondem à linha vertical de baixo). As superfícies brilhantes ao radar mapeadas pelo Radiotelescópio de Arecibo estão assinaladas a amarelo.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington.

Greg Neumann apresentou resultados obtidos pelo instrumento Mercury Laser Altimeter (MLA) que complicam, no entanto, as conclusões de Chabot. Apesar do MLA ser usado essencialmente para medir a topografia de Mercúrio, a intensidade do brilho do pulso de luz devolvido pela superfície mercuriana pode fornecer interessantes informações relativas à sua composição. Se existisse gelo de água nas zonas permanentemente sombrias das crateras polares de Mercúrio seria de esperar a detecção de um intenso pulso de retorno no altímetro da MESSENGER. Na verdade, não foi isso aconteceu. Sempre que o laser do MLA incidia nessas superfícies, o pulso de retorno detectado era muito menos brilhante que o das regiões iluminadas pelo Sol. E isto acontece apesar da superfície de Mercúrio ser das mais escuras do Sistema Solar (mais escura ainda que a superfície da Lua)!
Então qual é afinal a natureza deste bizarro material escuro? A solução para este enigma poderá estar nas temperaturas destas áreas permanentemente obscuras. Baseados nos perfis topográficos obtidos pelo MLA, cientistas da missão criaram um modelo que mostra as temperaturas médias e extremas das regiões polares de Mercúrio. O que descobriram é verdadeiramente curioso. Como seria de esperar, no modelo as zonas mais frias encontram-se nas áreas inacessíveis à luz solar, os mesmos locais onde se acumulam os depósitos com alta reflectividade radar. No entanto, estas superfícies não são suficientemente frias para que o gelo de água se mantenha estável por longos períodos de tempo. A situação altera-se porém a profundidades de 10 a 20 cm, regiões onde a temperatura desce aos 100 K (-173º C). É aqui (numa profundidade acessível ao radar) que os depósitos de gelo subsistem.
Mas então o que se encontra na superfície? Como explicou David Paige na sua apresentação, existem muitos materiais com as características observadas. Os melhores candidatos são, no entanto, compostos orgânicos complexos semelhantes aos encontrados nos meteoritos condritos carbonáceos. Estes compostos seriam voláteis noutras regiões de Mercúrio, mas nas áreas permanentemente escondidas da luz solar encontram condições ideais para se consolidarem numa fina camada negra acima do gelo.
Os cientistas da missão aguardam agora a conclusão da análise dos dados obtidos pelo espectrómetro de neutrões para poderem determinar com maior precisão a natureza destes compostos. Esperam-se assim nos próximos meses novos segredos revelados nestes locais recônditos do Sistema Solar.

terça-feira, 20 de março de 2012

Começou a Primavera

Ocorreu hoje de madrugada, pelas 05:14 (hora de Lisboa), o equinócio vernal, o momento que assinala o início da Primavera no hemisfério norte. Este ano esta estação prolonga-se por 92,75 dias, até ao próximo solstício que ocorre no 21 de Junho, às 00:09 (hora de Lisboa).
No dia do equinócio, o Sol demora, exactamente, em todo o planeta, 12 horas a percorrer o céu diurno (a palavra equinócio deriva do latim aequus nox e significa "noite igual ao dia"). Do ponto de vista astronómico, o equinócio é marcado pelo instante em que o Sol, no seu movimento aparente no céu, cruza o equador celeste.

Equinócios e solstícios vistos do espaço. Esta animação mostra a mudança diária da linha do terminador na Terra (a linha que separa o dia da noite) durante um ano, vista pelo satélite geostacionário Meteosat-9. As maiores inclinações desta linha correspondem aos solstícios. Quando esta linha é completamente direita ocorre um equinócio.
Crédito: NASA/EUMETSAT.

domingo, 18 de março de 2012

Dois mundos surpreendentes

Encélado e Titã numa composição em cores naturais construída com imagens obtidas pela sonda Cassini a 12 de Março de 2012.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

Na semana passada, a sonda Cassini realizou uma sessão de monitorização de nuvens no hemisfério subsaturniano de Titã. Durante a sessão, partes do disco difuso da maior lua de Saturno foram momentaneamente ocultadas pela lua Encélado e por uma porção do sistema de anéis.
O encontro entre os dois surpreendentes mundos foi registado pela Cassini através de filtros para a banda do visível, o que permitiu a construção deste retrato em cores naturais. Na altura Titã encontrava-se muito distante, a cerca de 2,45 milhões de quilómetros de distância. Encélado estava muito mais próxima, distando apenas cerca de 1,05 milhões de quilómetros da sonda da NASA.

Estará o impacto de um asteróide na origem das anomalias magnéticas da Lua?

Os cientistas têm-se intrigado com as anomalias magnéticas encontradas em algumas regiões da Lua desde que os astronautas da missão Apollo 12 descobriram, pela primeira vez, rochas fortemente magnetizadas nas planícies de Mare Cognitum, no sul de Oceanus Procellarum. Tipicamente, as rochas recolhidas nas missões Apollo são pobres em ferro, o que lhes confere um fraco potencial de magnetização. Por outro lado, a distribuição de regiões fortemente magnetizadas na superfície lunar nem sempre se correlaciona com estruturas geológicas que possam fornecer pistas sobre a sua origem, como por exemplo, bacias de impacto, vulcões ou fluxos de lava. Um trio de investigadores acreditam agora terem encontrado na antiga bacia de impacto de Pólo Sul-Aitken a chave para a solução deste enigma.

Astronauta da missão Apollo 12 colhendo uma amostra de rocha lunar.
Crédito: NASA.

Com um diâmetro médio de 2.200 km e com cerca de 13 km de profundidade, a gigantesca depressão é a maior estrutura de impacto do Sistema Solar. A sua forma elíptica é uma clara evidência de que terá sido esculpida pelo impacto de um grande objecto numa trajectória oblíqua. A norte de Pólo Sul-Aitken concentra-se o mais proeminente grupo de anomalias magnéticas de toda a superfície lunar.

A bacia de impacto de Pólo Sul-Aitken. Estão evidenciados a vermelho na metade esquerda da imagem os grupos de anomalias magnéticas situadas no limite norte da depressão.
Crédito: NASA/LRO/Science/AAAS.

Mark Wieczorek do Institut de Physique du Globe de Paris e os seus dois colegas do Massachusetts Institute of Technology publicaram um artigo na revista Science onde especulam que esta coincidência é uma forte evidência de que a gigantesca bacia foi esculpida por um grande asteróide com 10 a 30% de ferro na sua composição, e cerca de 100 vezes mais magnetizado que os materiais da crusta lunar. Para testarem a sua hipótese, os investigadores realizaram várias simulações de impacto em computador, onde fizeram variar as dimensões do projéctil, a sua velocidade e o ângulo da sua trajectória. Descobriram que o impacto de um asteróide rico em ferro, com 200 km de diâmetro, num ângulo de 45º e a uma velocidade de 15 km.s-1 provocaria a distribuição dos seus materiais num padrão semelhante ao observado para as anomalias magnéticas lunares. Curiosamente, as simulações reproduzem inclusive a presença de fortes anomalias isoladas no lado mais próximo da Terra, como é o caso de Reiner Gama e Descartes.
Os fragmentos metálicos do asteróide teriam condições para ser magnetizados durante o seu arrefecimento, caso existisse um campo magnético global na Lua quando a bacia de Pólo Sul-Aitken se formou, há cerca de 4,3 mil milhões de anos - uma distinta possibilidade, de acordo com os autores. Depois do dínamo lunar cessar a sua actividade, essas regiões poderiam permanecer magnetizadas, criando o estranho retalho observado nos dias de hoje.
Podem consultar o artigo original deste trabalho aqui.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Missão LRO comemora 1000 dias na órbita da Lua com dois espetaculares vídeos

A sonda Lunar Reconnaissance Orbiter completou anteontem 1.000 dias na órbita da Lua. Para assinalar tão impressionante longevidade, a equipa científica da missão preparou dois espectaculares vídeos. O primeiro, intitulado Evolution of the Moon, mostra a evolução da Lua ao longo de 4,5 mil milhões de anos em pouco mais de 2 minutos e meio. O segundo vídeo, Tour of the Moon, leva-nos numa visita a alguns dos locais mais interessantes da superfície lunar.

A Lua nem sempre teve o aspecto que nos é familiar. A sua superfície foi lentamente moldada ao longo de 4,5 mil milhões de anos por inúmeros impactos. Este vídeo mostra os principais eventos que esboçaram a actual face lunar.
Crédito: NASA/GSFC.

Este vídeo transporta-nos numa visita a alguns dos locais mais interessantes da superfície lunar, incluindo a gigantesca bacia de impacto de Mare Orientale, a misteriosa cratera Shackleton, os vulcões do complexo de Compton-Belkovich, ou o Vale de Taurus-Littrow, local de alunagem da missão Apollo 17.
Crédito: NASA/GSFC.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Sol aponta um gigantesco buraco coronal na direcção da Terra

O Solar Dynamics Observatory tem estado a assistir nos últimos dias à lenta deslocação de um enorme buraco coronal acima da superfície do Sol. A gigantesca abertura deve a sua presença a uma lacuna na estrutura do campo magnético da coroa, que permite a fuga de um rápido e denso fluxo de partículas carregadas para o espaço interplanetário. Neste momento, o buraco coronal está voltado na direcção da Terra, pelo que se espera um aumento da actividade geomagnética nos próximos dias devido à interacção do campo magnético terrestre com o intenso vento solar gerado na região.

Buraco coronal observado ontem pelo Solar Dynamics Observatory na banda do ultravioleta extremo (193 Å). Estão representadas as linhas do campo magnético da coroa solar (representação obtida a partir de cálculos realizados com base no modelo PFSS).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium/Helioviewer.

A densidade de plasma no interior dos buracos coronais é tipicamente 100 vezes inferior à observada noutras regiões da coroa. Normalmente, os gases da coroa são superaquecidos a temperaturas superiores a 1.000.000 ºC, facto que os torna particularmente brilhantes em imagens captadas na banda do ultravioleta extremo. Devido à sua baixa densidade, os buracos coronais são relativamente mais frios e, consequentemente, mais escuros nessa zona do espectro electromagnético.
Durante os períodos de actividade solar mínima, os buracos coronais tendem a ficar confinados às regiões polares do Sol. A sua ocorrência em latitudes inferiores vai-se tornando mais comum à medida que o ciclo solar se aproxima do seu auge, pelo que a sua presença nestas regiões do disco solar nesta fase do actual ciclo é um fenómeno perfeitamente normal.

terça-feira, 13 de março de 2012

Estranho material negro em Vibídia

A cratera Vibídia, em Vesta. Imagem obtida pela sonda Dawn a 21 de Outubro de 2011 (resolução: 70 metros/pixel).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA.

Vibídia é uma pequena cratera vestiana que se destaca pela distribuição diferencial de materiais de aspecto e cor distintos em seu redor. Os materiais mais brilhantes formam um padrão circular que se estende a mais de 15 quilómetros da orla da cratera. A curta distância e no seu interior distingue-se um outro material mais escuro, curiosamente também visível na vertente de uma cratera vizinha (em baixo).
A origem e natureza deste material é ainda desconhecida, mas um levantamento preliminar da sua presença na superfície de Vesta sugere uma distribuição heterogénea (ver aqui). Em Vibídia parece localizar-se preferencialmente numa camada bem delimitada, que denuncia a presença de um estrato subsuperficial nesta região, escondido por um fino manto de regolito.
Vejam mais imagens de Vesta aqui.

domingo, 11 de março de 2012

Cratera listrada em Arabia Terra

Algumas regiões de Marte ostentam verdadeiras obras de arte. Vejam, por exemplo, o caso desta cratera fotografada recentemente pela Mars Reconnaissance Orbiter.

Listras radiais numa pequena cratera situada nos planaltos de Arabia Terra, em Marte. Imagem obtida a 05 de Fevereiro de 2012 pela câmara HiRISE da sonda Mars Reconnaissance Orbiter.
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

As listras que decoram o interior desta cratera são estruturas vulgarmente encontradas em encostas por toda a superfície poeirenta de Marte. Pensa-se que são constituídas por material finamente granulado que se precipita ao longo de declives acentuados, formando bandas escuras que se desvanecem com o tempo.
A cratera da imagem destaca-se pela beleza do padrão radial de listras que exibe, certamente fruto de episódios repetidos de queda de material granulado do cimo das suas encostas.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Memoriais lunares ao dia da mulher

O Dia Internacional da Mulher é assinalado em muitos países, há já várias décadas, no dia 8 de Março. A data ganhou particular relevância na União Soviética como símbolo político de exaltação da mulher soviética como peça fundamental na construção do regime comunista e na defesa da pátria durante a Grande Guerra Patriótica (II Grande Guerra Mundial).
Em 1971, os controladores da missão soviética Lunokhod 1 comemoraram a data de uma forma muito original. Ordenaram ao sofisticado robot que desenhasse com as suas rodas no regolito de Mare Imbrium um memorial ao dia da mulher. Depois de completar uma figura em forma de 8, o Lunokhod 1 reposicionou-se para criar um panorama que incluísse o memorial.

Memorial ao dia da mulher criado em 1971 pelo Lunokhod 1. Esta é uma parte do panorama fotografado pelo robot soviético pouco depois de ter criado a figura.
Crédito: Laboratory of Comparative Planetology.

Dois anos mais tarde, o seu sucessor Lunokhod 2 criaria um memorial semelhante, desta vez na orla da cratera Le Monnier, no extremo leste de Mare Serenitatis. Este segundo memorial tem a particularidade de ser facilmente reconhecível em imagens recentemente obtidas pela sonda americana Lunar Reconnaissance Orbiter.

Parte de um panorama obtido em 1973 pelo robot soviético Lunokhod 2 mostrando o memorial ao dia da mulher por si criado.
Crédito: Laboratory of Comparative Planetology.

O mesmo memorial fotografado quatro décadas mais tarde pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter. É visível a escassos metros a Luna 21, a sonda que transportou o Lunokhod 2 até à superfície da Lua.
Crédito: NASA/GSFC/ Arizona State University.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Espectacular explosão solar esta madrugada!

A região activa 1429 voltou esta madrugada à carga com uma poderosa fulguração classe X5,4, uma das mais intensas do actual ciclo. A explosão produziu de imediato uma interrupção nas comunicações rádio de alta frequência que afectou todo o hemisfério diurno terrestre durante alguns minutos. O fenómeno esteve ainda associado à libertação de uma brilhante ejecção de massa coronal que deverá passar amanhã nas proximidades da Terra e provocar uma forte tempestade geomagnética.

A fulguração desta madrugada vista pelo Solar Dynamics Observatory na banda do ultravioleta extremo (171 Å).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium/Helioviewer.

A fulguração gerou também um intenso fluxo de protões na direcção da Terra, que está a produzir neste momento uma tempestade de radiação solar classe-S3.

Um dos efeitos mais notórios das fortes tempestades de radiação solar é o ruído nos sistemas de imagem dos satélites provocado pela colisão das partículas energéticas nos seus detectores ópticos. Esta imagem foi obtida há cerca de 2 horas pelo coronógrafo LASCO do SOHO, quando a tempestade atingia uma intensidade classe S3.
Crédito: LASCO/SOHO Consortium/NRL/ESA/NASA.

segunda-feira, 5 de março de 2012

SDO observa forte fulguração solar

Depois de um período de quase duas semanas de relativa tranquilidade, a actividade solar está novamente em alta. A região activa 1429 tem estado a produzir fortes fulgurações desde que emergiu no passado dia 2 de Março no extremo leste do disco solar. O Solar Dynamics Observatory detectou hoje de madrugada mais uma explosão - uma fulguração classe-X, a mais forte até agora emitida pela região. Vejam em baixo as imagens:

Fulguração classe-X1 observada pelo Solar Dynamics Observatory na banda do ultravioleta extremo (131 Å). As variações bruscas de brilho são artefactos produzidos pelo software responsável por esta animação, e resultam de ajustes ao aumento do brilho do disco solar provocado pelo fenómeno.
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium/Helioviewer.

A explosão provocou uma momentânea interrupção na propagação de ondas rádio de alta frequência no hemisfério diurno da Terra, e libertou uma ejecção de massa coronal que deverá atingir nas próximas horas os planetas Mercúrio e Vénus. Não se esperam alterações significativas na actividade geomagnética nos próximos dias resultantes deste evento.

domingo, 4 de março de 2012

Tesouros da missão Voyager: ciclones jovianos

É impressionante a quantidade de imagens obtidas pelas duas sondas Voyager que nunca foram tornadas públicas. Tudo isso aconteceu não porque a NASA as quisesse esconder, mas porque simplesmente é um vasto material em bruto, até agora apenas usado por cientistas. E digo até agora porque felizmente começam a proliferar amadores com a paciência e a habilidade necessárias para mergulharem nesse imenso tesouro e trazerem a público belíssimos retratos dos gigantes gasosos e das suas luas. Relembro que todo esse vasto material está disponível a quem o quiser observar (e utilizar) aqui.
Daniel Macháček é um dos entusiastas desta actividade. Recentemente, desenterrou dos arquivos de dados da NASA imagens do planeta Júpiter obtidas pela sonda Voyager 2 em 1979. Com a mestria com que já nos habituou, compôs um magnífico retrato da atmosfera turbulenta do gigante gasoso. Os pormenores visíveis são impressionantes. Numa extensão de cerca de 12 mil quilómetros, desfilam grandes ciclones, cada uma com o seu respectivo olho bem delineado. Vejam:

Tempestades na Cintura Temperada do hemisfério norte de Júpiter. Mosaico de imagens obtidas pela sonda Voyager 2 a 9 de Julho de 1979. O retrato final foi colorizado, usando como modelo uma outra imagem de contexto (em baixo).
Crédito: NASA/JPL/Daniel Macháček.

Imagem de contexto em cores aproximadamente naturais, mostrado a região retratada na imagem de cima e comparando-a com as dimensões da Terra.
Crédito: NASA/JPL/Daniel Macháček.

Espectacular, não? E que tal ao som deste tema?

sábado, 3 de março de 2012

Dione tem atmosfera de oxigénio

A lua Dione fotografada pela sonda Cassini a 11 de Outubro de 2005.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

A sonda Cassini detectou pela primeira vez iões de oxigénio molecular (O2+) junto à superfície de Dione, confirmando a presença de uma ténue atmosfera em redor desta lua de Saturno. A descoberta foi divulgada num artigo recentemente publicado na revista Geophysical Research Letters (ver aqui).
Há já algum tempo que os cientistas suspeitavam da presença de O2+ em Dione. Nos anos 90, o telescópio espacial Hubble tinha detectado nesta lua saturniana a assinatura espectral de ozono (O3), o que sugeria a existência de quantidades apreciáveis de oxigénio molecular junto à sua superfície. A confirmação da existência de uma ténue atmosfera (ou exosfera) de O2+ em Dione surgiu a 7 de Abril de 2010, durante uma passagem próxima da sonda Cassini, a apenas 503 quilómetros de altitude. Com o seu instrumento INMS (Ion and Neutral Mass Spectrometer), a sonda da NASA mediu densidades de iões situadas entre 0,01 e 0,09 O2+.m-3,o equivalente ao encontrado a 480 quilómetros acima da superfície terrestre.
Terá a exosfera de Dione origem biogénica? É muito improvável que tal ocorra. Como explicam os autores do artigo, o oxigénio molecular de Dione deverá ser libertado da sua superfície pelo intenso bombardeamento do gelo de água superfícial com protões solares ou outras partículas energéticas. Os cientistas da missão vão, no entanto, continuar a procurar outros processos responsáveis pelo O2+ da exosfera dioniana, incluindo mecanismos geológicos.