quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Curiosity observa um invulgar eclipse solar

Trânsito da lua Fobos sobre o disco solar numa sequência de três imagens obtidas pelo robot Curiosity a 17 de Agosto de 2013 (sol 369 da missão).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS/TAMU.

No dia 17 de Agosto, o Curiosity fez uma pequena pausa na sua jornada no interior da cratera Gale para observar um belíssimo fenómeno nos céus marcianos - a passagem de Fobos, a maior lua de Marte, na frente do Sol. O evento ocorreu perto do meio-dia local, exactamente na altura em que a pequena lua se encontrava no seu ponto mais próximo do robot, o que permitiu que a silhueta de Fobos surgisse particularmente grande sobre o disco solar.

"Estas foram de longe as imagens mais detalhadas de um trânsito lunar alguma vez obtidas na superfície marciana, e este foi especialmente proveitoso porque foi anular", afirmou à NASA Mark Lemmon, um dos membros da equipa científica responsável pelas MastCam. "Foi ainda mais próximo do centro do Sol que o previsto, pelo que aprendemos algo."

No trânsito de 17 de Agosto, Fobos passou 2 a 3 quilómetros mais próximo do centro do Sol que o que havia sido antecipado pelos investigadores. Observações como esta são particularmente úteis porque permitem aos cientistas refinar o conhecimento que têm acerca das órbitas das duas luas marcianas.

Estas imagens são apenas uma pequena parte da sequência obtida pelo Curiosity nesse sol. As restantes imagens deverão ser transmitidas em breve para a Terra, para serem incluídas num pequeno filme onde se visualizará o fenómeno em toda a sua extensão.

Sonda indiana detecta água magmática na superfície da Lua

O pico central da cratera Bullialdus numa vista oblíqua obtida pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter, a 08 de Agosto de 2012.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Cientistas americanos descobriram evidências da presença de água de origem magmática na superfície da Lua. Usando dados recolhidos pelo instrumento da NASA Moon Mineralogy Mapper (M3), que seguia a bordo da sonda lunar indiana Chandrayaan-1, Rachel Klima e colegas encontraram concentrações relativamente elevadas de iões hidróxilo (OH-) no pico central da cratera Bullialdus, em rochas formadas no interior da crusta e do manto lunares. Esta foi a primeira vez que uma sonda na órbita lunar detectou água proveniente do interior do satélite natural da Terra.

Bullialdus é uma cratera de impacto com cerca de 60,7 quilómetros de diâmetro, situada na parte ocidental de Mare Nubium, nas proximidades do equador lunar. Esta área é particularmente interessante porque se encontra numa região com um ambiente desfavorável para a interacção das partículas do vento solar com a superfície lunar dar origem a quantidades significativas de moléculas de água.

"Durante muitos anos, os cientistas pensaram que as rochas da Lua se encontravam completamente secas, e que qualquer água detectada nas amostras das Apollo tinha de ser contaminação terrestre", afirmou Klima, geóloga planetária do Laboratório de Física Aplicada da Universidade de Johns Hopkins. "Há cerca de cinco anos, novas técnicas laboratoriais usadas para estudar as amostras lunares revelaram que o interior da Lua não é tão seco como se pensava. Pela mesma altura, dados obtidos a partir da órbita lunar conduziram à detecção de água na superfície lunar, no que se pensa ser uma fina camada gerada pelo impacto do vento solar na superfície da Lua."

"Infelizmente, esta água superficial não nos dá qualquer informação acerca da água magmática, que existe em camadas mais profundas na crusta e no manto", disse Justin Hagerty, cientista da U.S. Geological Survey e co-autor deste trabalho. "No entanto, conseguimos identificar os tipos de rocha [certos] no interior e nos arredores da cratera Bullialdus."

Arrancadas das profundezas da Lua pelo impacto que formou Bullialdus, as rochas que constituem o seu pico central foram cristalizadas em condições muito particulares. "As rochas que formam o pico central da cratera são de um tipo denominado norite, que frequentemente cristaliza quando o magma ascende, mas fica preso no subsolo, em vez de ser libertado na superfície sob a forma de lava" explica Klima. "Este tipo de rocha não se encontra apenas na cratera Bullialdus. No entanto, a sua exposição combinada com uma abundância relativamente baixa de água nesta região permitiu-nos quantificar a concentração de água de origem magmática nestas rochas."

A água magmática providencia aos cientistas importantes informações acerca da composição interna da Lua e dos processos vulcânicos que moldaram a superfície lunar. "Compreender a composição interna ajuda-nos a formular perguntas acerca da formação da Lua, e de como os processos magmáticos mudaram à medida que esta arrefecia", disse Klima.

Com esta detecção remota de água magmática, os cientistas podem agora começar a enquadrar alguns dos resultados obtidos nas amostras laboratoriais num contexto mais alargado, incluindo em regiões que se encontram longe dos locais de alunagem das missões Apollo. "Precisamos agora de olhar para outros locais na Lua, e tentar testar as nossas descobertas acerca da relação entre elementos vestigiais incompatíveis (como, por exemplo, o tório e o urânio) e a assinatura do hidróxilo", afirmou Klima. "Nalguns casos, isto envolverá contabilizar a água superficial que é produzida por interacções com o vento solar, pelo que será necessária a integração de dados provenientes de diferentes missões."

Este trabalho foi publicado no passado fim-de-semana na revista Nature Geoscience. Podem encontrar o artigo aqui.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

NASA vai reactivar o observatório espacial WISE

Representação artística do observatório WISE.
Crédito: NASA/JPL-Caltech.

O WISE vai voltar ao serviço no próximo mês de Setembro. A NASA vai reactivar o observatório de infravermelhos para cumprir uma nova missão que se estenderá por mais três anos. A missão terá como objectivo principal a descoberta e caracterização de objectos próximos da Terra - rochas espaciais que se aventuram com regularidade a menos de 45 milhões de quilómetros da órbita do nosso planeta.

Lançado para o espaço em Dezembro de 2009, o WISE passou cerca de 13 meses a perscrutar a esfera celeste em busca da radiação térmica das estrelas mais frias da Galáxia, das galáxias mais luminosas do Universo, e de alguns dos objectos mais escuros do Sistema Solar. Em Agosto de 2010, o observatório esgotou as suas reservas de hidrogénio líquido, um fluído refrigerador que mantinha os seus detectores livres de interferências provocadas pelo calor gerado pelo seu funcionamento. Dois dos seus quatro detectores mantiveram-se, no entanto, sensíveis o suficiente para caçarem cometas e asteróides, pelo que em Outubro de 2010 a NASA estendeu a sua missão por mais 4 meses. Em Fevereiro de 2011, o WISE foi colocado em hibernação numa órbita polar.

Em pouco mais de 1 ano, o WISE observou 158 mil dos mais de 600 mil asteróides conhecidos. As suas descobertas incluíram mais de 34 mil objectos da Cintura de Asteróides, 21 cometas e 135 asteróides com órbitas próximas da órbita da Terra (NEOs).

A NASA espera que o observatório use na sua nova missão o seu telescópio de 400 mm e as suas duas câmaras de infravermelhos ainda funcionais para descobrir 150 NEOs adicionais, e para caracterizar o tamanho, o albedo e as propriedades térmicas de outros 2.000 já conhecidos.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O dia em que a Terra acenou a Saturno

Pessoas na Terra cumprimentando o gigante Saturno.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/habitantes da Terra.

No dia 19 de Julho, a Cassini tomou partido de uma passagem na sombra de Saturno para fotografar o planeta e seu sistema de anéis em contraluz. Nessas imagens, aninhado no negrume do espaço, a uma distância de 1,45 mil milhões de quilómetros, encontrava-se um pequeno ponto azul pálido, o planeta Terra.

Para celebrar este retrato invulgar do nosso lar, a NASA convidou as pessoas de todo o mundo a irem ao exterior e a acenarem na direcção de Saturno no momento em que as imagens estavam a ser captadas. Os participantes foram ainda encorajados a fotografarem-se a si próprios enquanto acenavam, e a partilharem as fotografias em diversas plataformas na internet ligadas ao evento. Pessoas de mais de 40 países responderam ao desafio e partilharam mais de 1.400 fotografias, imagens que a equipa da missão Cassini usou para criar a espectacular montagem de cima. Cliquem aqui para a apreciarem na sua máxima resolução.

A Terra vista da órbita de Saturno numa composição em cores naturais obtida pela Cassini a 19 de Julho de 2013.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.

"Obrigado a todos vós, longe ou perto, jovens ou mais velhos, que se juntaram à missão Cassini para assinalar a primeira vez que os habitantes da Terra souberam com antecedência que o nosso retrato estava a ser obtido a partir de distâncias interplanetárias", afirmou à NASA Linda Spilker, cientista do projecto Cassini. "Apesar da Terra ser demasiado pequena nas imagens obtidas pela Cassini para que sejam discerníveis quaisquer seres humanos, a missão montou esta colagem para que possamos celebrar todas as vossas mãos a acenar, patas erguidas, faces sorridentes e obras de arte."

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Cassini fotografa hélice Earhart

Hélice Earhart vista pela sonda Cassini a 11 de Maio de 2013.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.

Esta primeira fase inclinada da Missão Solstício da Cassini tem oferecido à sonda da NASA vistas impressionantes sobre o sistema de anéis de Saturno. Uma das actividades recorrentes no último ano tem sido a procura e monitorização de hélices no anel A do planeta.

Geradas pela perturbação gravitacional das mini-luas embebidas no sistema de anéis nas partículas anulares vizinhas, as hélices poderão providenciar novas pistas acerca dos mecanismos envolvidos na formação dos planetas.

Na imagem de cima é possível ver a hélice Earhart, uma estrutura com cerca de 130 quilómetros de comprimento que reside no interior do anel A. Observações realizadas durante o último equinócio saturniano, em Agosto de 2009, indicam que a mini-lua responsável por esta hélice deverá ter cerca de 400 metros de diâmetro.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Curiosity observa Fobos e Deimos dançando nos céus marcianos

No passado dia 1 de Agosto, o Curiosity registou a ocultação de Deimos pela lua Fobos numa espectacular sequência de 41 imagens obtidas pela MastCam de 100 mm. Esta foi a primeira vez que as duas luas marcianas foram observadas em simultâneo a partir da superfície do planeta vermelho.

Algumas das imagens chegaram à Terra apenas ontem, um atraso justificado pela prioridade dada pela NASA à transmissão de imagens de navegação fundamentais para o planeamento do percurso do robot no terreno traiçoeiro da cratera Gale.

O encontro das duas luas de Marte nos céus marcianos. Sequência de 41 imagens obtidas pelo Curiosity a 01 de Agosto de 2013.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Malin Space Science Systems/TAMU.

Estas observações vão permitir aos investigadores uma maior precisão no cálculo dos parâmetros orbitais das duas luas. “O objectivo último é melhorar o conhecimento das órbitas o suficiente para que possamos melhorar a medição do efeito de maré provocado por Fobos na superfície sólida de Marte, o que por sua vez nos trará mais conhecimento acerca do interior do planeta”, afirmou Mark Lemmon, um dos investigadores da missão. “Poderemos ainda obter dados bons o suficiente para detectar variações de densidade no interior de Fobos, e para determinar se a órbita de Deimos se altera de forma sistemática.”

Ilustração comparando o tamanho aparente das duas luas marcianas no céu do planeta vermelho com o tamanho aparente da Lua nos céus terrestres. Deimos tem 12 quilómetros de diâmetro. Fobos é um pouco maior, com 22 quilómetros de diâmetro. As duas luas encontravam-se, respectivamente, a 20.500 e a 6.240 quilómetros de distância na altura da captação das imagens. A Lua tem 3.474 quilómetros de diâmetro, e encontra-se, tipicamente, a 380 mil quilómetros de distância de um observador na Terra.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Malin Space Science Systems/TAMU.

Apesar de Fobos ter um diâmetro inferior a um centésimo do diâmetro da Lua, a maior lua de Marte orbita muito mais próximo do planeta vermelho que a nossa lua da Terra, pelo que, vista da sua superfície, Fobos surge nos céus marcianos com metade do diâmetro aparente da Lua nos céus terrestres. A pequena lua viaja numa espiral apertada na direcção do planeta vermelho, pelo que está condenada à destruição pela força de maré dentro de algumas dezenas de milhões de anos.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Saturno e Titã lado a lado

Saturno e Titã vistos pela Cassini a 11 de Agosto de 2013.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/Sérgio Paulino.

A equipa da imagem da missão Cassini presenteou-nos com mais um espectacular retrato obtido na órbita de Saturno.

Na imagem, o planeta posa ao lado da lua Titã, a uma distância superior a 1,71 milhões de quilómetros. O Sol posiciona-se quase por detrás dos dois objectos, iluminando as camadas mais elevadas da densa atmosfera titaniana, o que produz um anel brilhante quase perfeito em seu redor.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O lado negro de Matabei

A cratera Matabei numa imagem obtida pela sonda MESSENGER a 30 de Agosto de 2011.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington.

A orla meridional da cratera mercuriana Matabei exibe um conjunto de raios escuros, que se projectam para sul ao longo de mais de 150 quilómetros. Raios que partem de apenas um dos lados da cratera são geralmente encontrados em crateras formadas por impactos com ângulos de incidência inferiores a 15º (vejam, por exemplo, o caso da cratera Hovnatanian). No entanto, no caso de Matabei, os raios escuros são, provavelmente, materiais escuros que se encontravam distribuídos de forma irregular nas camadas subsuperficiais, e que foram escavados e ejectados para a superfície nas primeiras fases do impacto.

Matabei possui, ainda, um interessante conjunto de cavidades, visíveis na imagem como áreas de intenso brilho na metade sul da cratera. Matabei deve o seu nome a Iwasa Matabei, um pintor japonês do século XVIII.

domingo, 11 de agosto de 2013

Passagem por Elsie Mountain

Paisagem rochosa vista pelo Curiosity a 30 de Julho de 2013 (sol 349).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS/Sérgio Paulino.

O robot Curiosity usou a sua MastCam de 100 mm para obter este panorama sobre uma pequena colina na paisagem estéril de Aeolis Palus, a grande planície que separa Aeolis Mons (informalmente conhecido por Monte Sharp) da orla setentrional da cratera Gale. Denominada Elsie Montain, esta elevação encontra-se coberta por um conjunto de blocos rochosos escuros, provavelmente de natureza granítica.

Vejam todos os pormenores deste panorama em baixo:

sábado, 10 de agosto de 2013

Robot Kirobo chega à Estação Espacial Internacional

Terminaram há poucas horas as operações de acoplagem da cápsula de reabastecimento japonesa Kounotori-4 (também conhecida por HTV-4) à Estação Espacial Internacional. O veículo não tripulado foi lançado no passado dia 4 de Agosto, a partir do Centro Espacial de Tanegashima, no Japão, com o objectivo de transportar até à Estação Espacial Internacional cerca de 5,4 toneladas de mantimentos e equipamento.

Kirobo, o robot falante num teste de microgravidade.
Crédito: Kibo Robot Project.

Num dos oito compartimentos de carga da Kounotori-4 seguia um passageiro especial, o pequeno robot Kirobo. Com apenas 34 centímetros de comprimento, Kirobo foi concebido por cientistas e engenheiros da Universidade de Tóquio para conversar com o astronauta japonês Koichi Wakata, que deverá chegar à Estação Espacial Internacional no próximo mês de Novembro. O pequeno robot vem equipado com tecnologia de reconhecimento facial e de voz, e consegue interpretar emoções e responder de forma coerente em japonês.



Kirobo permanecerá na Estação Espacial Internacional até Dezembro de 2014 para testar a interacção entre humanos e robots no espaço. O seu nome resulta da contracção entre as palavras kibo, que em japonês significa "esperança", e robo, uma expressão usada genericamente no Japão para robot.

sábado, 3 de agosto de 2013

Duas luas num céu estrelado

Fobos e Deimos vistos da superfície marciana numa imagem obtida pela MastCam de 100 mm do Curiosity a 01 de Agosto de 2013.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS.

Foram publicadas há poucas horas as primeiras imagens de uma fabulosa sequência obtida anteontem pelo robot Curiosity a partir da superfície marciana. As imagens mostram o encontro das duas luas de Marte no céu estrelado sobre a cratera Gale.

Deimos surge na sequência como um pequeno ponto brilhante com poucos pixels de diâmetro. Fobos, no entanto, exibe algumas das estruturas mais proeminentes da sua superfície.

Na imagem de cima é possível observar a orla ocidental de Stickney, a maior cratera de Fobos, e a cratera Hall, uma bacia de impacto localizada no pólo sul, cujo nome honra o astrónomo Asaph Hall, o descobridor das duas luas marcianas.

1 ano do Curiosity em apenas 2 minutos

Estamos a apenas 3 dias do Curiosity completar 12 meses de missão na superfície do planeta vermelho. Para assinalar a data, a NASA produziu um vídeo que sumariza em 2 minutos todas as actividades do robot no interior da cratera Gale, desde a sua chegada a 6 de Agosto de 2012 até ao passado mês de Julho. O vídeo é composto por uma série de 548 imagens captadas pelas HazCam frontais. Vejam em baixo: