sábado, 21 de junho de 2014

Solstício de Verão 2014

Região do polo norte terrestre iluminada pelo Sol. Imagem obtida a 20 de junho de 2014, pelo satélite meteorológico americano GOES-West.
Crédito: Brian McNoldy, UM/RSMAS.

Ocorre hoje, pelas 11:51 (hora de Lisboa), o solstício de verão. Este instante marca o início do verão no hemisfério norte, e é assinalado do ponto de vista astronómico pelo momento em que o Sol atinge a máxima declinação a norte do equador celeste. A estação mais quente do ano prolongar-se-á por 93,65 dias, até ao próximo Equinócio, que ocorrerá no próximo dia 23 de setembro, pelas 03:29 (hora de Lisboa).

A palavra solstício tem origem no latim solstitium (Sol parado), e está associada à ideia de que quando o Sol atinge os pontos extremos de declinação, detém por instantes o seu movimento aparente no céu.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Um oceano em Caronte?

Representação artística da superfície de Plutão. Suspensa no céu encontra-se Caronte, a maior lua de Plutão.
Crédito: ESO/L. Calçada.

Caronte, a maior lua de Plutão, poderá ter um oceano de água líquida no seu interior, sugere um estudo recentemente publicado na revista Icarus. Localizados a mais de 4,4 mil milhões de quilómetros de distância do Sol, os dois objetos formam um dos poucos sistemas binários do Sistema Solar. Caronte tem pouco mais de metade do diâmetro de Plutão e segue uma órbita a apenas 17,5 mil quilómetros de distância do centro de massa do sistema, um ponto exterior a Plutão. O interior de Caronte contém uma maior proporção de materiais voláteis que o interior de Plutão, o que sugere que o sistema teve origem num gigantesco impacto.

Atualmente, a órbita de Caronte é aproximadamente circular, mas no passado, terá sido significativamente elíptica, pelo que terá produzido tensões gravitacionais significativas no interior de Caronte geradas pela força de maré. Estas tensões poderão ter criado condições muito semelhantes às que hoje observamos em Encélado e Europa - dois mundos com crustas fraturadas e com evidências de oceanos no seu interior.

Europa em cores naturais. Mosaico construído com imagens obtidas pela sonda Voyager 2 a 09 de Julho de 1979.
Crédito: NASA/JPL/Björn Jónsson.

Para testar esta hipótese, a equipa de investigadores liderada por Alyssa Rhoden criou uma série de modelos computacionais da evolução do sistema Plutão-Caronte. "O nosso modelo prevê diferentes padrões de fraturas dependendo da espessura do gelo superficial, da estrutura do interior da lua e da facilidade com que se deforma, e de como evoluiu a sua órbita", afirmou Rhoden à NASA.

O trabalho mostra que se no início a órbita de Caronte tivesse apenas uma excentricidade mínima, a fricção gerada no seu interior pelo efeito de maré teria produzido calor suficiente para criar um oceano de água líquida subsuperficial. Esta fricção teria ainda provocado um ligeiro atraso nas marés relativamente à posição orbital de Plutão e Caronte, o que, por sua vez, teria desacelerado a rotação de Plutão e transferido a sua energia rotacional para Caronte, provocando a sua aceleração e, consequentemente, a sua migração para o exterior.

"Dependendo de como evoluiu exatamente a órbita de Caronte - em particular, se entrou numa fase de elevada excentricidade - poderá ter havido calor suficiente da deformação de maré para manter por algum tempo água líquida debaixo da superfície de Caronte" disse Rhoden. "Usando modelos da estrutura interior plausíveis, que incluam um oceano, descobrimos que não teria sido necessária muita excentricidade (menos de 0,01) para gerar fraturas na superfície como as que observamos em Europa."

Representação artística da sonda New Horizons no sistema plutoniano.
Crédito: JHUAPL/SwRI.

Neste momento, a New Horizons encontra-se a caminho do sistema plutoniano. Em Julho do próximo ano, a sonda da NASA passará a aproximadamente 27 mil quilómetros de distância de Caronte, pelo que teremos, pela primeira vez, imagens em alta resolução da sua superfície.

"Uma vez que é tão fácil termos fraturas, se chegarmos a Caronte e não existir nenhuma, [tais observações] colocarão fortes limitações em quão alta a excentricidade poderia ter sido, e quão quente poderia ter sido o seu interior", acrescentou Rhoden. "Esta investigação dá-nos um avanço relativamente à chegada da New Horizons - [mostra-nos] o que devemos procurar e o que podemos aprender com ela. Vamos a Plutão e Plutão é fascinante, mas Caronte irá ser também fascinante."

A órbita de Caronte encontra-se agora num estado final de estabilidade, com as rotações de Plutão e de Caronte desaceleradas ao ponto dos dois corpos mostrarem sempre o mesmo lado um ao outro. Tal configuração não deverá gerar marés significativas no interior da lua de Plutão, pelo que qualquer oceano subsuperficial deverá estar nesta altura completamente solidificado.

Podem encontrar o artigo com todos os pormenores relativos a este trabalho aqui.

terça-feira, 17 de junho de 2014

As duas faces de Febe

Fez na semana passada dez anos que a Cassini entrou no sistema saturniano. Depois de uma viagem de mais de 6 anos e meio, com assistências gravitacionais em Vénus, na Terra, e em Júpiter, a sonda da NASA mergulhou a grande velocidade em direção a Saturno, sobrevoando a lua Febe durante a fase final da sua aproximação ao planeta.

Febe orbita Saturno a uma distância média de 12,9 milhões de quilómetros, pelo que iria estar fora do alcance dos instrumentos da Cassini a partir do momento que esta atingisse a órbita previamente planeada em redor do planeta. Sabendo que esta seria uma oportunidade única de estudar de perto este enigmático objeto, os responsáveis da missão traçaram uma trajetória que passasse deliberadamente a apenas 2068 quilómetros de distância da sua superfície. O encontro teve como resultado estes dois belíssimos mosaicos:

Perspetiva da Cassini durante a sua aproximação a Febe. Mosaico construído com imagens obtidas a 11 de junho de 2004, pelas câmaras do sistema de imagem e do espetrómetro VIMS (resolução da imagem original: 60 metros/pixel).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SSI/UA/Daniel Macháček.

Perspetiva da Cassini na sua despedida a Febe. Mosaico construído com imagens obtidas a 11 de junho de 2004, pelas câmaras do sistema de imagem e do espetrómetro VIMS (resolução da imagem original: 60 metros/pixel).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SSI/UA/Daniel Macháček.

Febe é um objeto esferoide, com um diâmetro aproximado de 213 quilómetros e uma superfície muito escura. A sua órbita é retrógrada e alongada, o que sugere que este pequeno mundo não partilha uma origem comum com Saturno e as suas luas interiores. Com uma densidade de apenas 1,6 g/cm3, Febe é provavelmente um centauro capturado - um objeto da Cintura de Kuiper que no passado terá migrado para os domínios dos quatro planetas exteriores.

Os dois mosaicos de cima são da autoria de Daniel Macháček (um dos membros do fórum UmmanedSpaceflight.com) e mostram as duas faces de Febe em cores aproximadamente naturais. Jasão surge proeminente nos dois retratos. Com 101 quilómetros de diâmetro, esta é a maior cratera visível na superfície de Febe. No seu interior podemos ver Ergino, uma cratera cujas vertentes interiores exibem desmoronamentos brilhantes - provavelmente áreas com gelo de água puro recentemente exposto.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Dupla de radiotelescópios capta espetaculares imagens do asteroide 2014 HQ124

Asteróide 2014 HQ124 numa sequência de 20 imagens de radar obtidas a 08 de junho de 2014, pelos radiotelescópios de Goldstone e de Arecibo. A resolução na direção vertical é de cerca de 3,75 metros por pixel.
Crédito: Marina Brozović e Joseph Jao (Jet Propulsion Laboratory)/Caltech/NASA/USRA/Arecibo Observatory/NSF.

No passado domingo, o asteroide 2014 HQ124 realizou uma passagem a apenas 1,3 milhões de quilómetros da Terra (o equivalente a cerca de 3,2 vezes a distância média entre a Lua e o nosso planeta). Trabalhando em conjunto, os cientistas dos observatórios de Arecibo, em Porto Rico, e de Goldstone, nos Estados Unidos, aproveitaram a oportunidade para produzirem algumas das mais detalhadas imagens de radar de um objeto próximo da Terra. As imagens foram obtidas cerca de 9 horas após a maior aproximação do asteroide à Terra, e revelam um objeto com uma complexa estrutura em forma de amendoim, com cerca de 370 metros de comprimento, e com um período de rotação de 20 horas.

Descoberto no passado dia 23 de abril pelo observatório espacial WISE, 2014 HQ124 foi apelidado de "A Besta" em alguns blogues americanos. "Estas observações de radar mostram que o asteroide não é uma besta, mas sim uma beldade", afirmou Alessondra Springmann, analista de dados do Observatório de Arecibo.



A maioria das observações de radar envolvem apenas um radiotelescópio, que transmite o sinal para o asteroide e recebe as ondas de rádio refletidas pela sua superfície. Nesta sessão, os cientistas testaram uma configuração bistática, com a antena de 70 metros de Goldstone a transmitir o sinal e a antena de 305 metros de Arecibo a receber as ondas de rádio refletidas. "Usámos dois telescópios porque essa combinação permitiu-nos obter imagens com um detalhe duas vezes superior ao que Arecibo teria alcançado só por si", disse Lance Benner, o cientista do Laboratório de Propulsão a Jato que liderou as operações em Goldstone.

Esta configuração permitiu combinar a máxima resolução de 3,75 metros por pixel de Goldstone com a sensibilidade ímpar da antena de Arecibo, providenciando as primeiras imagens de alta resolução de um asteroide com o mínimo de ruído possível. Os cientistas esperam adotar este novo sistema com maior regularidade no estudo de asteroides com órbitas próximas da órbita da Terra.

Além de receber o sinal de Goldstone, o observatório de Arecibo também transmitiu, tendo o sinal de retorno sido recebido por quatro radiotelescópios do sistema Very Long Baseline Array. "Usando múltiplos telescópios para seguir o movimento do eco de radar de um asteroide através da Terra, podemos determinar a sua rotação de forma independente das imagens de radar", disse Michael Busch, um astrónomo que esteve envolvido nas observações no Instituto SETI, nos Estados Unidos. "Isto resolve ambiguidades nas imagens de radar e é essencialmente para as previsões da trajetória a longo termo."

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Sol emite três fulgurações classe X em apenas 24 horas

Três fulgurações emitidas em menos de 24 horas pela região ativa 2087. Imagens obtidas a 10 e a 11 de junho de 2014 pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory, através de filtros para o ultravioleta extremo (131 e 171 Å).
Crédito: NASA/SDO.

A região ativa 2087 produziu na manhã de ontem uma nova fulguração classe X de curta duração - a terceira em apenas 24 horas! A explosão atingiu o seu pico de intensidade pelas 10:06 (hora de Lisboa) e esteve associada a um bloqueio nas transmissões de rádio de alta frequência classe R3 no hemisfério diurno da Terra. Dados preliminares sugerem que não houve qualquer ejeção de massa coronal (EMC) com origem neste evento.

Imagens obtidas pelo observatório STEREO-A permitiram, entretanto, confirmar que as fulgurações de anteontem produziram duas EMC que se combinaram numa única nuvem de plasma com um flanco direcionado ao nosso planeta. De acordo com as previsões do NOAA, a nuvem deverá atingir o campo magnético terrestre durante o dia de amanhã. O impacto deverá desencadear pequenas tempestades geomagnéticas nas regiões polares, pelo que se esperam auroras nas latitudes mais elevadas durante a madrugada de sábado.

Mapa das regiões ativas atualmente visíveis no disco solar. Imagem obtida a 11 de junho de 2014, pelo instrumento Helioseismic and Magnetic Imager do Solar Dynamics Observatory.
Crédito: NASA/SDO.

Espera-se que a atividade solar se mantenha em alta nos próximos dias. Neste momento, as regiões ativas 2080 e 2087 exibem campos magnéticos instáveis com potencial para a produção de novas fulgurações classe X. A região 2087 é particularmente potente, e está a voltar-se gradualmente na direção da Terra, pelo que as próximas fulgurações poderão produzir EMC diretamente apontadas ao nosso planeta.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Atividade solar em alta: duas fulgurações classe X em menos de duas horas!

A segunda de duas fulgurações classe X produzidas pelo Sol a 10 de junho de 2014. Imagem obtida pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory, através de um filtro para o ultravioleta extremo (193 Å).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

O Sol produziu ontem duas fortes fulgurações de curta duração. A primeira foi um evento classe X2,2 com um pico de intensidade pelas 12:42 (hora de Lisboa). A segunda fulguração foi um evento classe X1,5 e atingiu a sua máxima intensidade pelas 13:52 (hora de Lisboa). Ambas tiveram origem na região ativa 2087, uma pequena mas complexa mancha solar localizada no extremo sudeste do disco solar.



Raios X e radiação ultravioleta provenientes das duas fulgurações atingiram de imediato o lado diurno da Terra, produzindo ondas de ionização na alta atmosfera que afetaram a normal propagação dos sinais de rádio de alta frequência em grande parte do continente europeu durante algumas horas. Dados preliminares sugerem que a segunda fulguração esteve ainda associada a uma ejeção de massa coronal com uma velocidade estimada de 1350 km/s. A nuvem de plasma viaja numa direção perpendicular à da Terra, pelo que não se esperam alterações significativas na atividade geomagnética associadas a este fenómeno.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Os transneptunianos de Herschel

Representação artística dos objetos transneptunianos observados pelo observatório espacial Herschel.
Crédito: ESA/Herschel/PACS/SPIRE.

Durante a sua prolífica missão, o observatório espacial europeu Herschel observou 132 dos mais de 1400 pequenos mundos até agora detetados na Cintura de Edgeworth–Kuiper. Situada além da órbita de Neptuno, a aproximadamente 4,5 a 7,5 mil milhões de quilómetros de distância do Sol, esta vasta região alberga uma imensa população de objetos gelados remanescentes do período de formação do Sistema Solar exterior.

As observações realizadas pelo Herschel consistiram na recolha dos espectros destes objetos, nas bandas submilimétricas e do infravermelho distante. Estes dados permitiram a determinação das suas dimensões e albedo, propriedades que se encontram de outro modo dificilmente acessíveis. A imagem de cima mostra uma representação gráfica dos 132 objetos incluídos nas observações do Herschel, ordenados de acordo com estas propriedades.

As suas dimensões variam entre menos de 50 a 2400 quilómetros de diâmetro, sendo os dois maiores os planetas anões Plutão e Éris. Dois apresentam uma forma visivelmente alongada: Haumea - representado na primeira fila como um objeto branco em forma de amêndoa; e Varuna - o terceiro maior objeto da terceira fila. Alguns possuem as suas próprias luas (não representadas).

Os albedos medidos pelo Herschel refletem uma variedade de composições superficiais: albedos baixos (representados na imagem a castanho) são uma indicação de uma abundância de materiais superficiais escuros, como, por exemplo, compostos orgânicos; albedos muito elevados (representados a branco) sugerem o predomínio de água e outros materiais voláteis.

Podem ler mais sobre estas observações aqui.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Vista a partir de Pillinger Point

O Opportunity tem estado nas últimas duas semanas a explorar Pillinger Point, um afloramento rochoso localizado no topo de Murray Ridge, a meio caminho entre Solander Point e Cape Tribulation, o seu próximo alvo científico na orla da cratera Endeavour. O local situa-se num dos pontos mais elevados de Murray Ridge, pelo que os membros da missão aproveitaram esta oportunidade para captarem este espetacular panorama sobre o interior da cratera. Vejam em baixo:


A cratera Endeavour vista a partir de Pillinger Point. Mosaico de imagens obtidas pelo Opportunity entre 14 e 19 de Maio de 2014 (sóis 3663 a 3668).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Cornell Univ./Arizona State Univ./James Sorenson (Unmannedspaceflight.com).

Dados obtidos pelo espectrómetro CRISM da sonda Mars Reconnaissance Orbiter sugerem que as rochas de Pillinger Point são ricas em montmorillonite, um filosilicato pertencente ao subgrupo das esmectites (argilas ricas em alumínio).

Na imagem podemos contemplar não só toda a extensão de Pillinger Point com também Solander Point, à esquerda, e o extremo setentrional de Cape Tribulation, à direita. Em frente encontra-se o mar de dunas de areia que preenche o chão da cratera Endeavour.