quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Uma nova ilha no Mar Vermelho

Uma nova ilha emerge das águas do Mar Vermelho, no extremo norte do arquipélago de Al-Zubair. Imagem obtida pelo satélite Earth Observing-1 a 23 de Dezembro de 2011.
Crédito: NASA.

No passado dia 19 de Dezembro, pescadores iemenitas da cidade portuária de As-Salif observaram uma erupção ao largo de uma pequena ilha desabitada do arquipélago de Al-Zubair. O relato ganhou credibilidade horas depois quando o satélite Aura detectou na região elevados níveis de dióxido de enxofre, uma clara assinatura da presença de actividade vulcânica no local. Nos dias seguintes, imagens obtidas pelo satélite Aqua denunciavam uma pequena pluma vulcânica elevando-se acima das águas do Mar Vermelho, no extremo norte do arquipélago.
O que a princípio parecia uma pequena erupção submarina, viria a transformar-se escassos dias depois no nascimento de uma nova ilha. A 23 de Dezembro, imagens captadas pelo satélite da NASA EO-1 confirmavam a presença de uma massa de terreno sólido alimentando uma pluma vulcânica.

Comparação da imagem de cima com uma outra da mesma região obtida há pouco mais de quatro anos. É evidente a presença de uma nova ilha no local da erupção, ocupando uma área anteriormente preenchida pelas águas do Mar Vermelho.
Crédito: NASA (montagem e anotações de Sérgio Paulino).

O arquipélago de Al-Zubair é constituído por dez pequenas ilhas vulcânicas relativamente recentes, que emergem de uma plataforma submarina paralela à falha do Mar Vermelho, a fronteira geológica entre as placas tectónicas Arábica e Africana. As últimas erupções de que há registo na região ocorreram há mais de 150 anos, em pleno século XIX.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Maravilhosas imagens do cometa Lovejoy

Lovejoy tem estado a dar um maravilhoso espectáculo nos céus do hemisfério sul nestas duas últimas semanas do ano. Muitos têm sido aqueles que aproveitam esta raríssima oportunidade para captar imagens deste impressionante sobrevivente, antes do seu regresso às profundezas geladas do Sistema Solar exterior. Aqui ficam dois magníficos vídeos obtidos recentemente em plenos Andes chilenos.

Lovejoy erguendo-se acima dos telescópios que compõem o Very Large Telescope, em Cerro Paranal, nos Andes chilenos. Imagens obtidas na madrugada de 22 de Dezembro de 2011.
Crédito: Gabriel Brammer/ESO.

Lovejoy emergindo dos Andes chilenos, pouco antes do nascer do Sol. Imagens obtidas a 23 de Dezembro de 2011, nas proximidades de Santiago do Chile.
Crédito: Stéphane Guisard.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Vénus e Lua juntos no céu

Ontem, tal como esperava, fui presenteado com um belíssimo espectáculo celeste à saída do trabalho. Perto do horizonte, no céu crepuscular a poente, Vénus brilhava a pouco menos de 10º de um fino crescente lunar! Como tinha a máquina fotográfica comigo, não desperdicei esta rara oportunidade e obtive alguns registos deste par invulgar. Partilho aqui convosco o melhor que consegui:

Vénus e Lua em conjunção nos céus de Lisboa.
Crédito: Sérgio Paulino.

Para quem não teve a felicidade de poder contemplar esta conjunção, terá nova oportunidade amanhã. Não deixem de a observar!

domingo, 25 de dezembro de 2011

Estranha sombra na cratera Arquimedes

O astrofotógrafo Alan Friedman registou recentemente uma estranha sombra na cratera Arquimedes. Aparentemente, um objecto desconhecido atravessou a face iluminada da Lua em direcção a todos os lares terrestres. Entretanto, crianças por todo o mundo relataram terem sido visitadas ontem por um idoso obeso vestido de vermelho, aparentemente, o condutor de um veículo com uma silhueta semelhante.

Uma estranha sombra na superfície lunar.
Crédito: Alan Friedman.

Espero que tenham tido uma excelente noite de Natal. Boas Festas a todos!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Lovejoy visto da Estação Espacial Internacional

A NASA acabou de publicar um fabuloso vídeo construído com imagens obtidas anteontem a partir da Estação Espacial Internacional. O vídeo mostra o cometa Lovejoy erguendo-se sobre o horizonte da Terra no momento em que a Estação cruzava os céus australianos, 386 quilómetros acima da ilha da Tasmânia. Às magníficas imagens segue-se um breve comentário do seu autor, o astronauta americano Dan Burbank, sobre a experiência de observar tal objecto a partir da órbita terrestre - nas suas palavras, "talvez a coisa mais maravilhosa que alguma vez vi no espaço"! Vejam:

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Solstício de Inverno 2011

O último pôr-do-sol deste Outono na baía de Cascais.
Crédito: Sérgio Paulino.

Hoje de madrugada, pelas 05:30 (hora de Lisboa), ocorre o Solstício de Inverno, o instante que marca o início da estação mais fria do ano no Hemisfério Norte. Em Astronomia, os Solstícios correspondem aos momentos em que o Sol atinge declinações extremas, ou seja, posições máxima e mínima no céu em relação ao equador. A palavra tem origem latina (Solstitium) e está associada à ideia que o Sol ficaria estacionário ao atingir essas posições.
A nova estação prolongar-se-á por 88,99 dias, até ao próximo Equinócio, que ocorrerá no dia 20 de Março de 2012 às 05:14 (hora de Lisboa).

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A odisseia de Lovejoy na coroa solar

Na madrugada de 16 de Dezembro, contra todas as expectativas, o cometa Lovejoy reemergiu de um dos ambientes mais hostis do Sistema Solar. Durante quase uma hora, o núcleo cometário de Lovejoy esteve imerso nos domínios infernais da coroa solar, suportando temperaturas superiores a 1,5 milhões de graus Celsius! A simples sobrevivência a esta intensa experiência é um claro indício que este extraordinário objecto deveria ser muito maior que o inicialmente estimado. Para sobreviver a tal adversidade, o núcleo de Lovejoy deveria ter pelo menos 500 metros de diâmetro antes do seu encontro com o Sol. A coroa solar reclamou, no entanto, uma fracção significativa da sua massa, pelo que o cometa reemergiu certamente mais pequeno e mais frágil.
Talvez o aspecto mais fascinante da odisseia de Lovejoy tenha sido, no entanto, a forma como a sua cauda reagiu ao ambiente extremo da coroa. Vejam (e revejam) em baixo algumas imagens obtidas pelos observatórios STEREO-A e SDO.

Entrada do cometa Lovejoy na coroa solar. Imagens obtidas pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly (AIA) do Solar Dynamics Observatory (SDO), através do canal de 171 Å (Fe IX).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

A passagem de Lovejoy na coroa solar num diferente ângulo. Imagens obtidas pelo instrumento SECCHI do observatório STEREO-A, através do canal de 171 Å (Fe IX).
Crédito: STEREO/NASA.

As imagens mostram a cauda de Lovejoy contorcendo-se à medida que atravessa o plasma escaldante da coroa solar. Que fenómeno é este?
Ninguém sabe ainda o que se passou. A verdade é que estas são as primeiras imagens da passagem de um cometa nestes domínios do astro-rei. De acordo com Karl Battams do Naval Research Laboratory, o estranho movimento da cauda resulta provavelmente da rápida ionização das suas partículas de poeira à medida que abandonam o núcleo cometário. Depois de carregadas, as partículas de poeira poderão ter interagido de alguma forma com as linhas do campo magnético da coroa, dispersando-se abruptamente ao longo dos arcos coronais.
Os cientistas vão continuar a analisar a pilha de dados obtida por pelo menos seis observatórios espaciais (STEREO-A, STEREO-B, SDO, SOHO, Proba-2 e Hinode) em busca de uma explicação mais clara e definitiva para este curioso fenómeno. Entretanto, o cometa Lovejoy tornou-se visível a olho nu nos céus matinais do hemisfério sul, na direcção da constelação do Escorpião, pelo que... porque não aproveitar as primeiras horas do dia para observar este extraordinário objecto?

domingo, 18 de dezembro de 2011

As cores de Titã

Retrato de Titã em cores naturais. Composição construída com três imagens obtidas a 16 de Dezembro de 2011 pela sonda Cassini, através de filtros para as cores azul, verde e vermelho.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

A atmosfera de Titã é única no Sistema Solar. Apesar de ser constituída quase na totalidade por azoto e metano (respectivamente, 95,0% e 4,9% na troposfera inferior), alberga uma variedade impressionante de outros compostos moleculares. Na sua viagem até à superfície titaniana, a sonda Huygens conseguiu detectar quantidades vestigiais de hidrogénio, árgon, monóxido de carbono, ácido cianídrico, dióxido de carbono e vapor de água, bem como mais de vinte outros compostos orgânicos, contando-se entre os mais abundantes: o etano, o acetileno, o propano, o etileno, o metilacetileno, o acetonitrilo, o cianoacetileno, o diacetileno, o dinitrilo e o benzeno. Toda esta riqueza química tem origem na destruição das moléculas de metano na termosfera titaniana, pela acção da radiação ultravioleta, dos raios cósmicos e das partículas do vento solar aprisionadas e aceleradas pelo campo magnético de Saturno.
No entanto, nenhuma destas moléculas é responsável pela distinta cortina alaranjada que oculta a superfície de Titã. A mesma fábrica química que destrói o metano nas camadas mais elevadas da atmosfera, produz um grupo enigmático de moléculas complexas conhecidos por tolinas, que formam uma fina névoa azulada logo acima da estratosfera. Desconhece-se a estrutura química destes compostos, mas a sua precipitação para as camadas atmosféricas mais baixas poderá estar na origem da neblina alaranjada de Titã, provavelmente pela sua transformação química em compostos mais complexos, tais como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Lovejoy sobrevive!

Esta é uma notícia acabada de ser divulgada pela NASA. Lovejoy sobreviveu à passagem pelo periélio! O cometa conseguiu reemergir intacto do outro lado do disco solar! Aqui têm as imagens.

Lovejoy reemergindo do seu encontro com o Sol. Imagem obtida esta noite pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly (AIA) do Solar Dynamics Observatory (SDO), através do canal de 171 Å (Fe IX).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

Para os mais desatentos, Lovejoy é um membro da família de cometas rasantes Kreutz recentemente descoberto por Terry Lovejoy, um astrónomo amador australiano. Poucas horas antes de passar a menos de 140 mil quilómetros da superfície solar, Lovejoy atingiu um brilho de magnitude -4, tornando-se no cometa rasante ao Sol mais brilhante das últimas décadas. Para aprender um pouco mais sobre estes objectos, a NASA reservou parte do precioso tempo do Solar Dynamics Observatory para acompanhar em detalhe a passagem de Lovejoy pelo periélio, passagem esta que se concretizou há pouco mais de 2 horas.
Nas próximas horas deverão ser divulgadas novas imagens deste evento. Vamos aguardar.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Cometa Lovejoy entra no campo de visão do SOHO!

Anunciei aqui na semana passada a espantosa descoberta de um novo membro da família de cometas rasantes ao Sol Kreutz, realizada pelo astrónomo amador Terry Lovejoy. Na altura adiantei que o cometa iria surgir pela primeira vez nas imagens do coronógrafo LASCO do observatório SOHO esta semana. Ontem de manhã, o cometa C/2011 W3 (Lovejoy) concretizou a sua aparição no campo de visão do SOHO. Vejam em baixo:

O cometa Lovejoy visto pelo coronógrafo LASCO do observatório SOHO.
Crédito: LASCO/SOHO Consortium/NRL/ESA/NASA.

De acordo com Karl Battams (responsável pelo site de cometas rasantes ao Sol do Naval Research Laboratory), Lovejoy é sem dúvida o cometa rasante ao Sol mais brilhante alguma vez observado pelo coronógrafo LASCO. Neste momento, o seu brilho já ultrapassa a magnitude 2,0 - bem acima do limiar da visibilidade a olho nu! No entanto, se Lovejoy seguir o padrão dos outros membros da família Kreutz, o seu brilho poderá mesmo aumentar até 8 ordens de magnitude! Ou seja, poderá atingir a magnitude -4 a -5, o suficiente para ser observado em plena luz do dia com o Sol devidamente bloqueado por um edifício ou outro objecto (ATENÇÃO: nunca olhar através de binóculos ou telescópios apontados na direcção do Sol sem filtros apropriados; tal acção provocará danos irreversíveis na visão).
Dentro de 24 horas, Lovejoy fará uma passagem a apenas 140 mil quilómetros da superfície do Sol! Apesar do seu núcleo ser particularmente grande (cerca de 200 metros de diâmetro), o cometa não deverá sobreviver intacto a tal ambiente extremo.
Estarão certamente disponíveis mais informações sobre este objecto dentro das próximas horas. Fiquem atentos!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Missão Cassini: imagens espectaculares do encontro com Dione

Depois da fenomenal série de trânsitos observados na semana passada, a Cassini concretizou anteontem uma passagem a apenas 98,8 km de distância da superfície de Dione! Este encontro foi primariamente destinado à obtenção de leituras térmicas das extensas fracturas existentes no hemisfério líder, e à realização de medições da propagação de ondas rádio no interior desta lua de Saturno para a determinação do seu grau de diferenciação interna. No entanto, apesar das limitações impostas por estas observações, a equipa de imagem conseguiu programar a sonda para a captação de algumas das mais belas imagens de toda a missão. Vejam em baixo:

Ocultação de Mimas pela lua Dione. Imagem obtida pela Cassini a 12 de Dezembro de 2011.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Mimas reemergindo no lado nocturno de Dione. Imagem obtida pela Cassini a 12 de Dezembro de 2011.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

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A pequena lua Prometeu pouco antes de ser ocultada por Dione. Estão incluídos neste cenário os anéis de Saturno e a lua Epimeteu. Animação composta por três imagens obtidas pela sonda Cassini a 12 de Dezembro de 2011.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/animação de Sérgio Paulino.

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Mais uma ocultação de uma lua pastora por Dione. Desta vez é Pandora a assumir o protagonismo. Animação composta por duas imagens obtidas pela sonda Cassini a 12 de Dezembro de 2011.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/animação de Sérgio Paulino.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Festim de trânsitos na órbita de Saturno

A Cassini assistiu na semana passada a uma fenomenal sequência de trânsitos envolvendo quatro das cinco maiores luas de Saturno. Durante a actual fase equatorial da missão, a Cassini beneficia de uma posição privilegiada para observar as luas mais interiores do sistema sem a interferência dos anéis. No entanto, é relativamente raro alinharem-se duas ou mais luas no seu campo de visão, pelo que os cinco trânsitos registados na semana passada foram um verdadeiro festim.
Deixo-vos aqui quatro composições em cores naturais e uma animação, cada uma a retratar um dos cinco eventos.

Dione e Reia vistos pela Cassini a 07 de Dezembro de 2011. Reia encontrava-se a 1,67 milhões de quilómetros. Dione estava mais distante, a 1,95 milhões de quilómetros. Reia exibe nesta imagem a grande cratera Tirawa (a norte), enquanto que na superfície de Dione são visíveis, de sul para norte, a grande bacia de impacto Evander e as três crateras Erulus, Lagus e Sagalis.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

Dione pouco antes de realizar um trânsito sobre a face de Titã. Imagem obtida pela sonda Cassini a 07 de Dezembro de 2011. Dione encontrava-se a 1,61 milhões de quilómetros, enquanto que Titã encontrava-se quase ao dobro da distância.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

Tétis passando entre os anéis de Saturno e a sua maior lua, Titã. Imagem obtida pela sonda Cassini a 08 de Dezembro de 2011. Tétis encontrava-se a 2,19 milhões de quilómetros, enquanto que Titã pousava mais distante, a cerca de 3,14 milhões de quilómetros.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

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Tétis passando acima do hemisfério norte de Titã. Animação composta por 25 imagens obtidas a 10 de Dezembro de 2011. Destaca-se na superfície de Tétis a grande bacia de impacto Odysseus.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/animação de Sérgio Paulino.

Reia pairando sobre o hemisfério norte de Titã. Imagem obtida a 10 de Dezembro de 2011. Nesta imagem, Reia encontrava-se muito mais próxima da sonda Cassini que a lua Titã.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

sábado, 10 de dezembro de 2011

A chegada da sonda Mariner 9 a Marte em filme

No passado dia 13 de Novembro completaram-se 40 anos sobre a chegada da sonda Mariner 9 a Marte. Este foi um marco histórico da exploração robótica do planeta vermelho, pois até essa data nenhuma outra sonda havia concretizado uma inserção bem sucedida na órbita marciana. Para assinalar este aniversário, um dos membros do fórum Unmanned Spaceflight.com, o checo Daniel Macháček, criou este espectacular vídeo que mostra a perspectiva da Mariner 9 sobre Marte durante a última fase de aproximação ao planeta.


O vídeo é composto por 40 imagens individuais combinadas num software de metamorfose de imagens para suavizar a animação. As imagens originais cobrem um intervalo de 43 horas (aqui compactadas em pouco mais de 2 minutos), e foram obtidas a distâncias da superfície marciana que variam entre os 850 e os 350 mil quilómetros.
À sua chegada a Marte, a Mariner 9 encontrou um planeta envolto numa densa tempestade de areia, que escondia todos os detalhes da superfície à excepção de quatro grandes manchas escuras. Na altura, os cientistas da missão concluíram que estariam a observar quatro gigantescas montanhas a espreitar no meio da poeira. A maior parecia situar-se na mesma posição de Nix Olympica, uma mancha brilhante até então apenas observada através de telescópios na Terra.
Depois da poeira assentar ficou claro que as quatro montanhas eram volumosos vulcões que excediam em altura qualquer congénere terrestre. O maior é hoje oficialmente designado Olympus Mons, e é a maior montanha do Sistema Solar. Os outros três são os grandes vulcões-escudo de Tharsis.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

20 Hz: uma visão artística de uma tempestade geomagnética

A Lighthouse é uma instituição cultural britânica que recruta artistas e realizadores cinematográficos para o desenvolvimento de trabalhos para exposições temáticas. Recentemente, a Lighthouse organizou em Barcelona a exposição Invisible Fields, uma mostra de trabalhos dedicada ao mundo invisível das ondas de rádio e das telecomunicações.
Um dos grupos de artistas participantes tem ganho particular notoriedade na internet devido ao espectacular vídeo realizado para a exposição. Denominado 20 Hz, o vídeo é uma animação digital criada a partir dos sinais electromagnéticos detectados pelo magnetómetro canadiano CARISMA durante uma tempestade geomagnética. Vejam:

20 Hz, um trabalho da autoria de Ruth Jarman e de Joe Gerhardt. Sinais de rádio obtidos durante uma tempestade geomagnética na frequência de 20 Hz são convertidos em audio e transformados num elemento visual que se move em harmonia com o elemento sonoro.
Crédito: Semicondutor.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Opportunity descobre mais uma evidência do passado húmido de Marte

No início de Novembro, o robot Opportunity observou uma estranha linha esbranquiçada a sobressair ligeiramente da superfície rochosa no extremo noroeste do Cabo York. Baptizada com o nome Homestake pela equipa da missão, a pequena formação não tinha mais de 40 a 50 cm de comprimento e 1 a 2 cm de largura, mas destacava-se claramente pelo seu intenso brilho na paisagem desta região da superfície marciana.

Um pequeno veio mineral conhecido informalmente por Homestake, observado pelo robot Opportunity no extremo noroeste do Cabo York. Imagem obtida a 07 de Novembro de 2011 pela sua câmara frontal.
Crédito: NASA/JPL-Caltech.

Depois de uma inspecção mais próxima ficou claro que a curiosa formação era um veio de um depósito sedimentar aparentemente constituído por gesso, um mineral muito comum na Terra (os maiores cristais terrestres de gesso encontram-se na famosa mina de Naica, no México). Formada por moléculas diidratadas de sulfato de cálcio, o gesso (também conhecido por gipsite ou gipsita) é depositado em veios rochosos pela circulação de soluções sulfatadas saturadas. No caso do veio descoberto pelo Opportunity, a solução aquosa que lhe deu origem resultou provavelmente da dissolução de cálcio e compostos de enxofre provenientes de rochas e gases vulcânicos.

Imagem em cores naturais de Homestake obtida a 07 de Novembro de 2011 pela câmara panorâmica do robot Opportunity.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Cornell/ASU.

Visão aproximada de um fragmento de Homestake obtida pela câmara microscópica do robot Opportunity.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Cornell/USGS.

Durante a sua longa viagem pelas planícies arenosas de Meridiani Planum, o robot Opportunity encontrou materiais rochosos compostos por sulfatos de magnésio, ferro e cálcio, minerais que apontam para um passado húmido em Marte. O veio brilhante encontrado no Cabo York apresenta altíssimas concentrações de cálcio e sulfato, numa razão que sugere a presença no local de cristais de sulfato de cálcio relativamente puros. Esta invulgar composição é um forte indício de que os depósitos de Homestake foram produzidos em condições mais neutras que as que geraram outras rochas analisadas pelo Opportunity. Homestake "poderá ter sido formado num ambiente aquoso diferente, um mais favorável para uma grande variedade de organismos vivos" afirmou ontem Benton Clark, um dos membros da equipa científica da missão, numa pequena conferência no encontro de Outono da American Geophysical Union.
O robot Opportunity prepara-se agora para passar mais um longo inverno marciano, o seu quinto desde que chegou ao planeta vermelho. Neste momento, o explorador da NASA dirige-se para uma vertente soalheira no extremo norte do cabo York, um local com vista para o interior da cratera Endeavour, pelo que deveremos vir a ter belas panorâmicas sobre a gigantesca cratera nos próximos tempos.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Missão Kepler confirma o seu primeiro planeta na zona habitável de uma estrela semelhante ao Sol

Representação artística de Kepler-22b, uma super-Terra recentemente detectada pelo telescópio espacial Kepler na zona habitável de uma estrela semelhante ao Sol.
Crédito: NASA/Ames/JPL-Caltech.

A equipa da missão Kepler anunciou ontem a confirmação do seu primeiro planeta na zona habitável de uma estrela semelhante ao Sol. Também conhecida como zona de Goldilocks, a zona habitável de uma estrela é uma região em seu redor onde a pressão e a composição da atmosfera de um planeta telúrico possibilitam a presença de água no estado líquido. O telescópio espacial Kepler já tinha identificado dezenas de potenciais candidatos planetários cuja órbita se situa em tais regiões; no entanto, até ontem, nenhum tinha sido confirmado com observações subsequentes.
O novo objecto denomina-se Kepler-22b e é uma super-Terra com um raio 2,4 vezes maior que o nosso planeta e um período orbital de 289,9 dias. A estrela hospedeira Kepler-22 (também designada KOI-087) encontra-se a cerca de 600 anos-luz da Terra, na direcção da constelação do Cisne, e tem um tipo espectral G semelhante ao Sol (embora seja ligeiramente mais pequena e fria).

Diagrama comparando o sistema de Kepler-22 com o Sistema Solar interior. Estão representadas as respectivas zonas de Goldilocks de cada estrela.
Crédito: NASA/Ames/JPL-Caltech.

Não se sabe ainda qual a composição de Kepler-22b pois a sua massa ainda não é conhecida com precisão. O novo planeta poderá ser maioritariamente metálico como Mercúrio, rochoso como a Terra, ou poderá ser um "planeta de água", um objecto pouco denso coberto por um profundo oceano global.
Podem ler mais sobre esta descoberta aqui e sobre todas as novidades da missão Kepler aqui.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Cometa rasante da família Kreutz descoberto por astrónomo amador

O astrónomo amador australiano Terry Lovejoy descobriu no passado dia 27 de Novembro um pequeno cometa numa trajectória que o torna verdadeiramente especial. Designado oficialmente C/2011 W3 (Lovejoy), o novo objecto vai passar no próximo dia 15 de Dezembro a cerca de 180 mil quilómetros da superfície do Sol, o suficiente para que não sobreviva intacto ao encontro.

O cometa C/2011 W3 (Lovejoy) numa imagem resultante da combinação de 10 exposições de 10 segundos cada obtidas no passado dia 02 de Dezembro.
Crédito: Michael Mattiazzo.

C/2011 W3 (Lovejoy) é o mais recente membro da família Kreutz, um grupo de cometas rasantes ao Sol que partilham os mesmos parâmetros orbitais. A grande maioria destes objectos apenas se tornam suficientemente brilhantes quando se encontram a pouca distância do Sol, pelo que nos últimos anos têm sido identificados em grande quantidade em imagens obtidas pelo coronógrafo LASCO do observatório solar SOHO. Na verdade, este novo objecto tem a particularidade de ter sido o primeiro cometa rasante a ser detectado através de telescópios terrestres em mais de 40 anos - um feito verdadeiramente extraordinário! Curiosamente, Terry Lovejoy, o autor desta descoberta, é também um pioneiro na detecção de cometas em imagens do SOHO.
Espera-se que C/2011 W3 (Lovejoy) realize a sua primeira aparição nas imagens do coronógrafo LASCO a 12 de Dezembro. Os cometas são objectos imprevisíveis; no entanto é muito provável que este se torne num dos membros da família Kreutz mais brilhantes dos últimos anos. Por isso, olhos postos nas imagens do SOHO porque poderemos vir a assistir a um espectáculo memorável dentro de alguns dias.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Possíveis glaciares em montanhas marcianas

A água é certamente um dos recursos mais limitantes na exploração humana de Marte. O seu transporte até à superfície do planeta vermelho é impraticável dadas as grandes quantidades de combustível requeridas, pelo que embarcar futuros exploradores em tamanha empresa poderá depender tão somente da descoberta de fontes de água no subsolo marciano.
Desde a sua chegada a Marte, a Mars Reconnaissance Orbiter tem sondado a superfície marciana com o seu instrumento SHARAD (Shallow Radar) em busca de água líquida ou congelada no subsolo a profundidades até 1 quilómetro. Nos seus quase 6 anos de actividade, a sonda da NASA conseguiu detectar um número impressionante de vastas massas de gelo de água protegidas por mantos de fragmentos rochosos em encostas montanhosas situadas nas latitudes médias do planeta vermelho. Recentemente, a sonda europeia Mars Express fotografou uma dessas regiões.

Secção sul de Phlegra Montes fotografada pela câmara HRSC da sonda Mars Express, a 01 de Junho de 2011. A imagem tem uma resolução de cerca de 16 metros/pixel.
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin (G. Neukum).

Phlegra Montes é uma extensa cordilheira montanhosa que se prolonga desde a porção nordeste dos terrenos vulcânicos de Elysium Planitia até às terras baixas a leste de Arcadia Planitia. Pensa-se que as suas baixas montanhas e colinas terão sido elevadas da superfície pela acção de antigas forças compressivas numa longa falha existente na região.

Mapa topográfico mostrando a cadeia montanhosa de Phlegra Montes e os terrenos adjacentes. O rectângulo mais pequeno indica a região representada na imagem obtida pela Mars Express.
Crédito: NASA MGS MOLA Science Team.

As novas imagens obtidas pela Mars Express mostram que quase todas as montanhas de Phlegra Montes se encontram rodeadas por unidades geológicas morfologicamente semelhantes aos glaciares terrestres. Estudos anteriores demonstraram que os fragmentos rochosos observados na superfície destas estruturas fluíram lentamente pelas encostas montanhosas, o que sugere a presença de glaciares subsuperficiais nestas regiões. Estas interpretações são corroboradas pelas imagens de radar obtidas nestes locais pela Mars Reconnaissance Orbiter, que mostram evidências da presença de gelo provavelmente a profundidades de apenas 20 metros!
Pensa-se que estas estruturas poderão ter surgido várias vezes ao longo das últimas centenas de milhões de anos, em períodos em que o eixo de rotação de Marte apresentava uma inclinação significativamente diferente da observada nos dias de hoje. Segundo os cientistas, as diferentes condições climatéricas presentes nesse período poderiam ter gerado um ambiente propício à queda e acumulação de neve nestas regiões, que ao ser compactada nas vertentes inclinadas das montanhas e crateras marcianas produziriam grandes glaciares que esculpiriam as características formações actualmente visíveis nas latitudes médias do planeta vermelho.

Perspectiva frontal sobre um dos vales glaciares de Phlegra Montes. É visível ainda uma cratera coberta por uma estrutura lobada provavelmente formada por gelo de água coberto por detritos rochosos.
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin (G. Neukum).

Outra perspectiva sobre a mesma região. Reparem na extensa formação lobada que se espraia a norte do vale glaciar. Será esta uma vasta massa de gelo subsuperficial?
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin (G. Neukum).

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Júpiter sobre a Torre de Belém

Júpiter brilhando alto no céu vespertino sobre as águas tranquilas do estuário do rio Tejo.
Crédito: Sérgio Paulino.

Na passada sexta-feira, depois de sair do trabalho, parei junto ao edifício da Fundação Champalimaud para apreciar o desfile de cores garridas que animava o céu logo após o pôr-do-sol. À medida que o ambiente escurecia, dois pontos brilhantes foram tomando o protagonismo em lados opostos do céu. A oeste, sobre o Forte de São Lourenço do Bugio destacava-se (ainda timidamente) o planeta Vénus, enquanto que a leste, na direcção da ponte 25 de Abril, pairava o gigante Júpiter. A imagem que aqui vos trago retrata este último brilhando sobre as águas do estuário do rio Tejo, um cenário onde também se incluiam outros monumentos icónicos da paisagem lisboeta: a Torre de Belém e o Santuário Nacional de Cristo Rei.