sábado, 23 de abril de 2016

Vulcões de lama em Acidalia Planitia

Possíveis vulcões de lama em Acidalia Planitia, na superfície de Marte. Imagem obtida pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter, a 12 de fevereiro de 2016.
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

Esta imagem mostra uma pequena porção de uma imensa planície repleta de colinas circulares com cerca de 1 quilómetro de diâmetro, localizada junto à cratera Bonestell, no extremo sul de Acidalia Planitia. Formadas sobre espessas camadas de antigos sedimentos aluviais, estas estruturas são muito provavelmente vulcões de lama edificados por antigas erupções de misturas pressurizadas de água e depósitos rochosos muito finos, acumuladas a centenas de metros ou quilómetros abaixo da superfície.

Os cientistas estão bastante interessados nestas colinas porque os sedimentos trazidos do interior da crusta marciana poderão conter materiais orgânicos capazes de providenciar possíveis evidências da presença, atual ou passada, de formas de vida microbiana na superfície de Marte. Acidalia Planitia reúne uma das maiores concentrações destas estruturas, pelo que esta região é um dos alvos primários para futuras missões ao planeta vermelho.

domingo, 17 de abril de 2016

Cassini deteta partículas de poeira interestelar

Representação artística da Cassini na órbita de Saturno, com o instrumento Cosmic Dust Analyser em evidência. No canto superior direito podemos ver uma partícula de poeira interplanetária recolhida na atmosfera terrestre.
Crédito: ESA; imagem da partícula de poeira: NASA/JPL; imagem de Saturno: NASA/JPL/Space Science Institute.

A Cassini caracterizou, pela primeira vez, a composição química de partículas de poeira provenientes do espaço interestelar. Os resultados foram divulgados num artigo publicado na passada quinta-feira na revista Science e irão ajudar os astrónomos a compreender a origem e evolução da poeira interestelar, e o seu papel na génese de novas estrelas e planetas.

Desde que iniciou a sua missão no sistema saturniano, em 2004, a Cassini tem usado o seu instrumento Cosmic Dust Analyser para determinar a composição química de milhões de partículas microscópicas de poeira ricas em gelo. A vasta maioria tem origem nos géiseres que emanam da superfície da lua Encélado. No entanto, entre a miríade de grãos de poeira analisados pela sonda da NASA, existe uma ínfima fração - apenas 36 - que se destaca claramente da multidão. Os cientistas concluíram que estas partículas são provenientes da nuvem interestelar local - uma nuvem de gás e poeira com cerca de 30 anos-luz de diâmetro, através da qual o Sistema Solar se encontra atualmente em movimento.

A primeira deteção in situ de poeira interestelar foi realizada no início dos anos 90, pela missão Ulysses, sendo mais tarde confirmada pela sonda Galileo. "A partir dessa descoberta, tivemos sempre a esperança de que seríamos capazes de detetar estes intrusos interestelares em Saturno com a Cassini", explicou Nicolas Altobelli, investigador da missão Cassini e primeiro autor deste trabalho. "Sabíamos que se olhássemos na direção correta, deveríamos conseguir encontrá-los. De facto, capturámos por ano, em média, alguns destes pequenos grãos, viajando a grandes velocidades e numa trajetória específica bastante diferente da seguida pelos grãos de gelo que habitualmente recolhemos em redor de Saturno."

As partículas interestelares detetadas em redor de Saturno moviam-se a velocidades superiores a 72 mil km/h - valores suficientemente elevados para que pudessem escapar à gravidade do Sol e dos planetas. No entanto, o mais importante foi que, ao contrário das sondas Ulysses e Galileo, a Cassini conseguiu determinar, pela primeira vez, a sua composição química, revelando a presença, não de materiais voláteis, mas sim de uma mistura muito específica de minerais.

Os resultados mostram que os grãos de poeira interestelar têm todos composições químicas surpreendentemente semelhantes e contêm alguns dos principais elementos constituintes de materiais rochosos, tais como o magnésio, o silício, o ferro e o cálcio, nas suas proporções cósmicas médias. Por outro lado, elementos mais reativos, como o enxofre e o carbono, encontram-se presentes em proporções significativamente inferiores às respetivas médias cósmicas.

"A poeira cósmica é produzida quando as estrelas morrem, mas tendo em conta a vasta gama de tipos de estrelas no Universo, esperávamos encontrar, naturalmente, uma enorme variedade de tipos de poeira durante o longo período do nosso estudo", disse Frank Postberg, investigador da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, e coautor deste trabalho.

Podemos observar poeira resultante da morte de estrelas no interior de alguns tipos de meteoritos. Estes materiais encontram-se, geralmente, preservados na sua forma original, desde o nascimento do Sistema Solar. "Surpreendentemente, os grãos por nós detetados não são antigos nem diversificados na sua composição, como os grãos de poeira estelar que encontramos em antigos meteoritos", explicou Mario Trieloff, coautor deste estudo, e colega de Postberg na Universidade de Heidelberg. "Os grãos tornaram-se, aparentemente, bastante uniformes através de algum tipo de processamento repetitivo no meio interestelar."

Os autores especulam que as partículas de poeira interestelar detetadas pela Cassini poderão ter sido destruídas e recondensadas múltiplas vezes no interior de berçários estelares pela passagem de ondas de choque produzidas por estrelas moribundas. "A longa duração da missão Cassini deu-nos a possibilidade de a usar como um observatório de micrometeoritos, proporcionando-nos um acesso privilegiado a grãos de poeira provenientes de fora do Sistema Solar, que não poderia ter sido obtido de outra forma", acrescentou Altobelli.

Podem encontrar todos os detalhes deste trabalho aqui.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Efeito de oposição no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko

O cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko visto pela sonda Rosetta, a 10 de abril de 2016.
Crédito: ESA/Rosetta/MPS para a equipa OSIRIS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA.

A equipa da missão Rosetta divulgou hoje esta belíssima imagem do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko obtida com o Sol alinhado quase na perfeição por detrás da sonda europeia. Esta geometria de observação é particularmente interessante do ponto de vista científico porque revela características físicas da superfície do cometa que não poderiam ser observadas de outra forma.

Junto ao centro da imagem podemos apreciar um fenómeno ótico conhecido por efeito de oposição. Visível quando um objeto se posiciona em ângulos de fase muito próximos de zero, este halo brilhante resulta da ocultação total das sombras do cometa no ponto da superfície onde o Sol se encontra no zénite.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Uma aranha na superfície de Plutão

Fraturas radiais na superfície de Plutão. Imagem obtida pela sonda New Horizons, a 14 de julho de 2015 (resolução aproximada: 680 metros por píxel).
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute.

Cientistas da missão New Horizons identificaram uma estranha formação geológica na superfície de Plutão morfologicamente semelhante a uma gigantesca aranha. Imagens obtidas pela sonda da NASA no passado mês de julho mostram o que parece ser um conjunto de 6 fraturas que irradiam de um ponto central, na região a norte de Tartarus Dorsa.

"O padrão formado por estas fraturas difere de tudo aquilo que vimos até agora no Sistema Solar exterior", disse Oliver White, membro da equipa de geologia da missão New Horizons. "[Isto] mostra, mais uma vez, que onde quer que olhemos para Plutão, vemos sempre algo diferente."

Localização da aranha no extremo leste do hemisfério observado pela sonda New Horizons durante o seu encontro com Plutão, a 14 de julho de 2015.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute.

A fratura mais comprida, denominada informalmente Sleipnir Fossa, tem mais de 580 km de comprimento e estende-se de nordeste para sudoeste, desde o centro da "aranha" até aos terrenos cultriformes de Tartarus Dorsa. A norte e a oeste, as fraturas rasgam as planícies das altas latitudes do hemisfério norte, terminando abruptamente nos terrenos a sul e a leste da cratera Hollis. Curiosamente, todas expõem depósitos avermelhados das camadas subsuperficiais de Plutão.

Estas não são as primeiras formações desta natureza detetadas na superfície do planeta anão. Imagens da região a norte de Cthulhu Regio mostram claramente uma série de fraturas paralelas com cerca de 2 km de profundidade, que os cientistas pensam terem sido criadas pela expansão global da crusta de gelo de Plutão.

As estruturas que compõem a aranha desenham, no entanto, um padrão distintamente radial, comparável ao dos "centros radialmente fraturados" observados na superfície de Vénus e no interior da bacia de Caloris, em Mercúrio, pelo que é provável que devam a sua formação a um foco de stress localizado, gerado, por exemplo, por materiais em ascensão no interior da crusta plutoniana.

domingo, 10 de abril de 2016

Cometa em contraluz

O cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko visto pela sonda Rosetta, a 27 de março de 2016.
Crédito: ESA/Rosetta/NavCam.

No mês passado, a Rosetta concretizou uma incursão de cerca de 1000 km na direção oposta à do Sol, para estudar as características do ambiente que rodeia o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, agora que se encontra longe do periélio da sua órbita. A imagem de cima foi obtida quando a sonda viajava a aproximadamente 329 km de distância do cometa, e mostra os contornos dos dois lobos do núcleo envolvidos por jatos de gás partindo da sua superfície.

Na altura, o Sol iluminava o cometa a partir de um ângulo de 159º, pelo que são visíveis algumas porções da superfície na parte superior do núcleo. No lado oposto podemos observar as sombras dos dois lobos projetadas na cabeleira.

A Rosetta realizou ontem uma passagem a apenas 30 km da superfície do núcleo, completando assim esta sua aventura pelas regiões mais exteriores da cabeleira do cometa. No dia 21 de abril regressará às órbitas próximas do núcleo que tem mantido desde fevereiro passado.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Antigos depósitos de sal a oeste da cratera Knobel

Depósitos de sal junto à cratera Knobel. Imagem obtida pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter, a 24 de janeiro de 2016.
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

Nesta imagem podemos ver depósitos salinos formados nos terrenos adjacentes à cratera Knobel, no extremo setentrional de Terra Cimmeria. Os cientistas pensam que estes depósitos contêm uma elevada proporção de cloretos - provavelmente cloretos de sódio, cálcio ou magnésio, depositados no fundo de antigos lagos pela evaporação da água.

Estas estruturas são normalmente encontradas nas regiões mais antigas de Marte, e constituem uma forte evidência de que o planeta vermelho albergou no passado condições favoráveis à presença de massas de água líquida superficiais.