quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Polígonos numa cratera boreal

Orla de uma cratera boreal em Marte. Imagem obtida pela câmara HiRISE da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, a 20 de setembro de 2015 (norte para a esquerda).
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

As colinas visíveis nesta imagem fazem parte da orla de uma antiga cratera de impacto com cerca de 6 km de diâmetro, localizada no extremo oriental de Vastitas Borealis, na superfície de Marte. A paisagem desta região é dominada pela presença de células poligonais com alguns metros de diâmetro, delimitadas por fraturas interligadas resultantes de tensões térmicas geradas sazonalmente no solo permanentemente gelado.

Estas estruturas são comuns nas latitudes polares do planeta vermelho, mas nem sempre são tão evidentes como as que podemos apreciar na camada de sedimentos que preenche o interior da cratera. Nesta área, as fraturas encontram-se realçadas pelo branco das geadas primaveris.

A orla da cratera restringe a propagação das fraturas, pelo que aqui tendem a formar-se polígonos rectangulares de maiores dimensões com uma disposição concêntrica. No centro da cratera, os polígonos vão-se fragmentando gradualmente em padrões fractais, criando uma estrutura reticulada muito mais típica.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Sobre um horizonte lunar

A Terra vista acima da superfície da Lua, numa imagem obtida pela Lunar Reconnaissance Orbiter, a 12 de outubro de 2015.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Esta fabulosa composição a cores foi construída com imagens captadas pela Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO) no passado mês de outubro e mostra o nosso planeta pairando sobre as montanhas a oeste da cratera Compton, no lado mais distante da Lua. A sequência completa revela o que aparenta ser a Terra a desaparecer gradualmente além do horizonte lunar, no entanto, este movimento não é mais do que o resultado da deslocação da sonda da NASA ao longo da sua órbita em redor da Lua.

Como o período de rotação da Lua coincide exatamente com o seu período de translação, a Terra surgiria no mesmo ponto do céu a um observador estático situado na superfície lunar, no lado da Lua mais próximo da Terra. Este fenómeno é uma consequência do efeito de maré produzido pela proximidade da Lua ao nosso planeta.

No caso da LRO a situação é diferente. Viajando dezenas de quilómetros acima da superfície lunar, a sonda da NASA passa diariamente por cerca de 12 "nasceres da Terra". Contudo, como quase sempre está ocupada a observar a superfície da Lua, são raras as oportunidades que a LRO tem para captar imagens do nosso planeta. Para o fazer, a sonda tem de rodar na direção do horizonte lunar e tombar no sentido do movimento, de forma a maximizar as dimensões do horizonte no enquadramento da câmara. Embora complicada, a manobra permite a captação de invulgares vislumbres do nosso frágil planeta pairando acima da paisagem desolada de outro corpo planetário.

Vejam a imagem de cima na sua máxima resolução aqui.

Cassini concretiza último encontro com Encélado

Encélado posando em frente a Saturno, numa imagem obtida pela sonda Cassini, a 19 de dezembro de 2015.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.

Já chegaram à Terra as imagens captadas pela Cassini no passado fim de semana, durante o seu derradeiro encontro com Encélado. "Esta última passagem evoca-nos em simultâneo sentimentos de tristeza e de triunfo", afirmou Earl Maize, um dos responsáveis da missão. "Apesar de estarmos tristes por termos concluído os encontros a curta distância, colocámos a pedra angular numa década incrível em que investigámos um dos mais intrigantes corpos do Sistema Solar."

Os desfiladeiros de Harran Sulci vistos pela Cassini, a 19 de dezembro de 2015, a uma distância aproximada de 34 mil quilómetros.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.

O encontro ocorreu a uma distância de 4999 km e teve como objetivo principal medir a quantidade de calor veiculada desde o interior de Encélado, através das fraturas que rasgam a crusta gelada na região do polo sul. A Cassini irá cumprir mais alguns passagens pela pequena lua saturniana, antes de concluir a sua missão em setembro de 2017, contudo estas ocorrerão a distâncias significativamente superiores.

A sonda da NASA detetou a presença de atividade geológica na superfície de Encélado pouco tempo depois da sua chegada a Saturno, em junho de 2004. A descoberta motivou uma série de mudanças no plano de voo da missão, de modo a maximizar o número de encontros com a pequena lua. Este último foi o 22º da missão.

A secção meridional de Samarkand Sulci num mosaico de 3 imagens obtidas pela Cassini a 19 de dezembro de 2015 (resolução aproximada: 74 metros/píxel).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute/Sérgio Paulino.

"Dizemos um adeus comovente às observações a curta distância deste magnífico mundo gelado", disse Linda Spilker, investigadora da missão no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA. "A Cassini realizou um grande número de descobertas empolgantes acerca de Encélado, contudo permanecem muitas outras por fazer, [em particular as] que permitam responder àquela pergunta essencial: Será que aquele pequeno mundo oceânico alberga vida?"

Depois de desvendar a presença de atividade geológica em Encélado, a Cassini foi protagonista de uma série de surpreendentes descobertas acerca dos jatos de vapor e partículas de gelo de água que brotam da região do polo sul. Em setembro passado, após uma década de contínuas observações, os cientistas anunciaram, finalmente, a descoberta de fortes evidências da presença de um oceano global de água líquida escondido debaixo da crusta gelada de Encélado, firmando a posição deste pequeno mundo gelado na lista dos locais mais promissores no Sistema Solar para a procura de uma biosfera extraterrestre.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Começa amanhã o inverno

A Terra vista pelo satélite Deep Space Climate Observatory, a 16 de dezembro de 2015.
Crédito: NASA/NOAA.

Ocorre esta madrugada, pelas 04:48 (hora de Lisboa), o solstício de inverno - o momento exato em que se inicia o inverno no hemisfério norte. Do ponto de vista astronómico, o evento é assinalado pelo instante em que o Sol alcança a declinação mínima na esfera celeste (exatamente 23° 26′ 10″ a sul do equador).

A nova estação prolongar-se-á por 88,99 dias, até ao próximo equinócio que ocorrerá no dia 20 de março, pelas 04:30 (hora de Lisboa). A palavra Solstício tem origem latina (solstitium) e está associada à ideia de que o Sol ficaria estacionário ao atingir os pontos extremos de declinação.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Nix vista de perto

A lua Nix numa imagem obtida pela New Horizons a 14 de julho de 2015 (resolução aproximada: 0,44 km/píxel).
Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI.

Esta imagem foi enviada esta semana pela sonda New Horizons e mostra a lua Nix vista pela câmara MVIC (Multispectral Visible Imaging Camera) a uma distância de cerca de 22,2 mil quilómetros. Captada com um ângulo de iluminação de aproximadamente 90º, a imagem revela novos detalhes acerca do registo de impactos preservado na superfície desta pequena lua de Plutão.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Sucesso! Akatsuki está na órbita de Vénus!

O planeta Vénus visto pela sonda Akatsuki. Imagem obtida pela câmara de ultravioletas (UVI), no dia 07 de dezembro de 2015, a uma altitude de 72 mil quilómetros.
Crédito: JAXA.

A Akatsuki completou com sucesso a sua segunda tentativa para alcançar uma órbita em redor de Vénus, confirmou anteontem a JAXA num comunicado de imprensa. A sonda japonesa encontra-se agora a viajar numa órbita elíptica com uma apoápside de 440 mil quilómetros, uma periápside de cerca de 400 quilómetros, uma inclinação de 3º e um período orbital de 13 dias e 14 horas.

Nos próximos 3 meses, a Akatsuki irá completar o comissionamento dos seus 6 instrumentos científicos, incluindo as três câmaras já testadas na passada segunda-feira. Ao mesmo tempo, a sonda irá ajustar gradualmente a sua trajetória para uma órbita mais curta, com um período de cerca de 9 dias e uma inclinação de 25º. Se tudo correr bem, as observações científicas deverão arrancar no próximo mês de abril.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Encontros com as luas dos anéis

Este fim de semana, a Cassini realizou uma sequência de encontros relativamente próximos com três das pequenas luas que orbitam nas proximidades do limite exterior do sistema principal dos anéis de Saturno. Esta foi uma oportunidade para a sonda da NASA captar algumas das melhores imagens destes pequenos objetos.

No primeiro encontro, a Cassini sobrevoou Epimeteu a uma altitude de apenas 2616 km. A passagem permitiu a obtenção de dois conjunto de imagens a distâncias entre os 26 e os 36 mil quilómetros, e o mapeamento das temperaturas e composição da superfície recorrendo ao instrumento CIRS (Composite Infrared Spectrometer).

A lua Epimeteu vista pela sonda Cassini, a 06 de dezembro de 2015, a uma distância de 35 mil quilómetros (resolução da imagem: 212 metros/píxel). No hemisfério sul é possível observar as crateras Pollux e Hilairea.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SSI.

Uma segunda imagem de Epimeteu, obtida pela Cassini poucos minutos depois, a uma distância de 26,6 mil quilómetros.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SSI.

Depois do encontro com Epimeteu, a Cassini concretizou mais dois encontros, primeiro com a lua Atlas, a uma distância de 20857 km, e depois com Prometeu, a uma distância de 20985 km. Durante o encontro com a Atlas, a sonda da NASA obteve as melhores imagens de sempre da pequena lua.

Atlas vista pela sonda Cassini, a 06 de dezembro de 2015, a uma distância aproximada de 32 mil quilómetros (resolução da imagem: 190 metros/píxel). A pequena lua orbita Saturno no interior da divisão de Roche, entre os anéis A e F. Na imagem podemos ver o limite exterior do anel A.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SSI.

Prometeu em cores naturais. Composição construída com imagens obtidas pela Cassini a 06 de dezembro de 2015, a uma distância aproximada de 37 mil quilómetros (resolução da imagem: 220 metros/píxel). Prometeu orbita Saturno junto ao limite interior do anel F (visível na parte superior da imagem).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SSI/Sérgio Paulino.

Dentro de duas semanas, a Cassini fará uma nova passagem por uma das pequenas luas dos anéis. No dia 19 de dezembro, a sonda da NASA sobrevoará a superfície de Egéon, a uma distância de apenas 2518 km. Egéon é a mais pequena das luas conhecidas do Sistema Solar e uma das mais alongadas. É também o local de origem dos materiais que constituem o anel G, um dos anéis menos brilhantes de Saturno.

domingo, 6 de dezembro de 2015

New Horizons envia as imagens mais detalhadas da superfície de Plutão

Na semana passada, a New Horizons enviou um novo conjunto de imagens fenomenais de Plutão, captadas durante o seu encontro com o planeta anão no passado mês de julho. As novas imagens fazem parte de uma sequência captada cerca de 15 minutos antes da sua maior aproximação à superfície plutoniana e revelam detalhes sem precedentes de uma grande variedade de terrenos, incluindo crateras, montanhas e planícies glaciares. A resolução varia entre os 77 e os 85 metros por píxel, o que permite identificar estruturas com uma dimensão equivalente a um quarteirão citadino.

A superfície de Plutão num mosaico de 19 imagens obtidas pela câmara LORRI (Long Range Reconnaissance Imager) da sonda New Horizons, a 14 de julho de 2015, a uma distância aproximada de 17 mil quilómetros.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute/Sérgio Paulino.

O mosaico de cima foi construído com uma fração das imagens disponibilizadas anteontem pela NASA e mostra uma faixa de terreno com cerca de 80 quilómetros de diâmetro, que se estende desde o horizonte recortado de Plutão, a norte da cratera Burney, até ao coração de Sputnik Planum. Pelo meio podemos apreciar um conjunto de maciços montanhosos conhecidos informalmente por al-Isidri Montes.

"As montanhas que limitam Sputnik Planum são verdadeiramente fenomenais nesta resolução", afirmou John Spencer, membro da equipa científica da missão New Horizons. "Os novos detalhes agora revelados, em particular as cristas enrugadas nos terrenos pedregosos que rodeiam muitas das montanhas, reforça a nossa primeira impressão de que estas montanhas são blocos de gelo enormes que foram empurrados e tombados, e que de alguma forma foram transportados até aos locais onde hoje se encontram."

Estas novas imagens têm uma resolução 5 vezes superior à das melhores imagens de Tritão, a lua de Neptuno "prima" de Plutão, captadas pela sonda Voyager 2 em 1989, e constituem os retratos mais detalhados da superfície de um objeto de grandes dimensões da Cintura de Kuiper, que iremos ter disponíveis nas próximas décadas. A New Horizons encontra-se agora a cerca de 173 milhões de quilómetros de distância de Plutão e a aproximadamente 5,23 mil milhões de quilómetros da Terra. Os sinais de rádio da sonda levam agora cerca de 4 horas e 50 minutos a alcançar o nosso planeta.

sábado, 5 de dezembro de 2015

New Horizons observa um plutino

1994 JR1 numa sequência de 4 imagens obtidas pela câmara LORRI da sonda New Horizons, a 02 de novembro de 2015. 1994 JR1 tem aproximadamente 127 km de diâmetro e, na altura, encontrava-se a cerca de 3,3 mil milhões de quilómetros de distância do Sol.
Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI.

No passado mês de novembro, a New Horizons captou imagens de um objeto distante da Cintura de Kuiper, demonstrando assim a sua capacidade para observar numerosos destes corpos durante os próximos 3 anos, caso a NASA aprove uma extensão à missão original, que incluirá o encontro em 2019 com 2014 MU69, um membro da população "fria" da Cintura de Kuiper.

O objeto agora observado denomina-se (15810) 1994 JR1 e é um plutino com um comportamento dinâmico bastante peculiar. Simulações da sua trajetória orbital sugerem que este objeto é um quase-satélite de Plutão, o primeiro e único conhecido numa órbita transneptuniana. Esta relação parece manter-se há quase 100 mil anos e deverá ser interrompida dentro de 250 mil anos, quando 1994 JR1 alcançar o ponto langragiano L5 do sistema Sol-Plutão.

As imagens da New Horizons foram captadas a uma distância de 280 milhões de quilómetros e mostram 1994 JR1 movendo-se sobre um fundo de estrelas brilhantes. Os responsáveis da missão pretendem usar estas observações para conhecerem melhor as características orbitais destes objetos.