sábado, 30 de março de 2013

Swift tira medidas ao cometa ISON

O cometa ISON visto pelo telescópio UVOT do observatório Swift a 30 de Janeiro de 2013.
Crédito: NASA/Swift/D. Bodewits, UMCP.

Astrónomos americanos usaram recentemente o telescópio UVOT do observatório espacial Swift da NASA para obterem imagens do cometa C/2012 S1 (ISON), um objecto com potencial para se tornar um dos mais brilhantes cometas dos últimos 50 anos. Com os dados recolhidos, a equipa realizou as primeiras estimativas das suas emissões de água e poeira, e utilizou-as para inferir as dimensões aproximadas do núcleo cometário.
Tipicamente, a água de um cometa mantém-se congelada a distâncias do Sol superiores a 3 UA. Quando o cometa se aventura nas proximidades do Sol, os gelos do núcleo cometário entram em rápida sublimação, alimentando poderosos jactos que libertam poeira altamente reflectiva. Uma vez no estado gasoso, as moléculas de água são quebradas pela luz ultravioleta do Sol, dando origem a moléculas de hidróxilo (OH). Embora o telescópio UVOT não consiga observar directamente o vapor de água de um cometa, consegue detectar a luz emitida pelas moléculas de hidróxilo e de outros compostos moleculares, bem como a luz solar reflectida pela poeira.
As observações realizadas em Janeiro passado revelaram que o cometa ISON estava a libertar cerca de 51 toneladas de poeira a cada minuto. Em contraste, o cometa emitia na altura apenas 60 kg de água por minuto, o equivalente a quatro vezes o débito de um sistema de aspersão doméstico. De acordo com os investigadores, a discrepância observada pelo Swift indica que os jactos emitidos pelo núcleo cometário não estão a ser alimentados pela água, mas sim por outros compostos voláteis como o dióxido de carbono ou o monóxido de carbono, compostos que sublimam a maiores distâncias do Sol. Na altura, o cometa ISON encontrava-se a 4,04 UA da Terra e a 4,95 UA do Sol, e brilhava a apenas 15,7 de magnitude aparente, um brilho 5.000 vezes inferior ao limite da visão humana. Observações realizadas em Fevereiro revelaram níveis de actividade semelhantes.
Apesar destes valores serem nesta altura relativamente incertos, devido à debilidade do brilho do cometa, os investigadores podem compará-los com os valores médios observados noutros cometas conhecidos, e assim estimar o diâmetro do núcleo do cometa. De acordo com os dados recolhidos pelo Swift, o núcleo do cometa ISON tem cerca de 5 km de diâmetro, um valor típico para um objecto desta natureza.


Animação mostrando a trajectória do cometa ISON no Sistema Solar interior no final de 2013.
Crédito: Goddard Space Flight Center Scientific Visualization Studio.

O que nos dizem estes dados relativamente à sua passagem periélica em Novembro próximo?
"Parecem promissores, mas isso é tudo o que podemos dizer com certeza neste momento", afirmou à NASA o astrónomo do Observatório Lowell e membro da equipa do observatório Swift, Matthew Knight. "No passado, muitos cometas falharam as expectativas quando chegaram ao Sistema Solar interior. Apenas a realização de novas sessões de observação nos próximos meses poderá melhorar o nosso conhecimento o suficiente para determinarmos com rigor o futuro desempenho do ISON."
O cometa ISON irá realizar no final de 2013 uma primeira visita ao Sistema Solar interior. Antes de iniciar a sua longa viagem em direcção ao Sol, o cometa residia na distante nuvem de Oort, uma vasta região ocupada por biliões de objectos gelados, localizada muito além da órbita de Neptuno.
A 1 de Outubro, o cometa fará uma passagem a cerca 10,8 milhões de quilómetros de distância de Marte, uma oportunidade para os exploradores robóticos aí estacionados concretizarem as primeiras observações a curta distância. 58 dias depois, o ISON aproximar-se-á a apenas 1,2 milhões de quilómetros da superfície do Sol. As estimativas actuais apontam para uma perda de cerca de 10% do diâmetro do núcleo cometário durante a sua passagem periélica, um valor à partida insuficiente para colocar a integridade do cometa em risco. Caso sobreviva intacto ao encontro escaldante com o Sol, o cometa avançará a 26 de Dezembro para uma passagem a 64,2 milhões de quilómetros da Terra (cerca de 167 vezes a distância entre a Terra e Lua), altura em que será visível no céu vespertino, na direcção da constelação dos Gémeos.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Sistema Solar à escala

Representação artística mostrando na mesma escala o Sol, os planetas do Sistema Solar, a Lua, e os planetas-anões Plutão, Haumea, Makemake e Éris. No lado direito é possível ver a distância relativa entre o Sol e os oito planetas.
Crédito: Roberto Ziche.

Esta fabulosa imagem remete-nos para a insignificância do nosso planeta quando comparado com os verdadeiros gigantes do Sistema Solar.

Lâminas de gelo na superfície de Europa?

Penitentes no monte Aconcágua, nos Andes.
Crédito: Tomasz Kobielski.

Europa é um mundo fascinante. A sua crusta gelada esconde um oceano profundo, um ambiente em muitos aspectos semelhante aos lagos subsuperficais existentes na Antárctica. Os cientistas anseiam pelo envio de um explorador robótico à superfície desta distante lua de Júpiter; no entanto, esta tarefa poderá apresentar desafios tecnológicos nunca antes ponderados.
Num trabalho apresentado na semana passada, na 44ª Conferência de Ciência Lunar e Planetária, um grupo de investigadores americanos sugeriu que a superfície de Europa poderá estar armadilhada com enormes lâminas de gelo. Denominadas penitentes, estas estruturas são relativamente raras na Terra, ocorrendo apenas em condições muito particulares. Tipicamente, os penitentes formam-se nos trópicos, em regiões montanhosas muito secas, onde o Sol se eleva alto no céu durante grande parte do ano. As lâminas extremamente afiadas são esculpidas pela rápida sublimação do gelo nos seus flancos, e podem atingir comprimentos de poucos centímetros até cerca de 10 metros.
De acordo com os autores do trabalho, a pequena inclinação de Europa relativamente ao Sol e a quase inexistência de uma atmosfera significativa na sua superfície criam condições muito favoráveis para o crescimento de penitentes nas latitudes inferiores a 20º. As suas propriedades reflectivas poderiam explicar os padrões térmicos observados nas regiões equatoriais desta lua de Júpiter. Infelizmente, apesar da sua beleza, a presença destas estruturas tornaria extremamente complicada qualquer manobra de alunagem na superfície europeana, pelo que esta deverá ser uma das possibilidades a ter em conta no planeamento de futuras missões a Europa.
Podem ler mais sobre este trabalho aqui.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Começou hoje a Primavera

O pôr-do-Sol na lagoa de Óbidos no dia 13 de Março de 2010, com as Berlengas como pano de fundo. No dia do equinócio o Sol pôe-se exactamente a oeste.
Crédito: Sérgio Paulino.

Ocorreu hoje, pelas 11:02 (hora de Lisboa), o equinócio da Primavera no hemisfério norte. Este instante é marcado, do ponto de vista astronómico, pela passagem do Sol no seu movimento aparente anual, pela linha imaginária do equador celeste, em direcção a norte. No dia do equinócio, o Sol demora aproximadamente 12 horas a percorrer o céu diurno (a palavra equinócio deriva do expressão latina aequus nox, que significa "noite igual ao dia").
Esta estação prolongar-se-á por 92,79 dias, até ao próximo Solstício que ocorrerá no dia 21 de Junho, às 06:04 (hora de Lisboa).

terça-feira, 19 de março de 2013

Lunar Reconnaissance Orbiter fotografa sepulturas das sondas GRAIL

A missão das sondas gémeas GRAIL foi concluída no passado dia 17 de Dezembro com duas violentas colisões na superfície da Lua. Localizadas na vertente sul de uma montanha com cerca de 2.500 metros de altitude, nas proximidades das crateras Philolaus e Mouchez, as crateras formadas pelo impacto das duas sondas foram recentemente fotografadas pela Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO).

Locais dos impactos das duas sondas GRAIL vistos antes e depois de 17 de Dezembro de 2012. As duas imagens de baixo foram obtidas a 28 de Fevereiro de 2013 e mostram duas pequenas crateras com cerca de 5 metros de diâmetro.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Com dimensões semelhantes às de uma máquina de lavar, as sondas GRAIL tinham no momento do impacto uma massa aproximada de 200 kg. Ambas se precipitaram na vertente inclinada da montanha lunar a uma velocidade aproximada de 1,6 km.s-1, gerando crateras com cerca de 5 metros de diâmetro rodeadas por um manto de ejecta negro irregular.

Mapa topográfico mostrando os locais de impacto das duas sondas GRAIL. Os dois locais encontram-se separados na vertente sul da montanha por cerca de 2.210 metros.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Tipicamente, os ejecta das crateras lunares possuem um albedo superior ao do material circundante. Este contraste é devido à sua origem. Os mantos de ejecta são constituídos por materiais provenientes de camadas subsuperficiais, pelo que não estiveram expostos ao bombardeamento incessante da radiação cósmica, do vento solar, e dos micrometeoritos, processos responsáveis pelo lento escurecimento do regolito lunar. Porque é que as crateras formadas pelas sondas GRAIL exibem, então, raios mais escuros que os materiais em seu redor?

Local de impacto da sonda GRAIL-A (Ebb) antes e depois de 17 de Dezembro de 2012.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Local de impacto da sonda GRAIL-B (Flow) antes e depois de 17 de Dezembro de 2012.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Os cientistas da missão LRO não sabem ao certo qual a causa para esta interessante anomalia. Uma das possíveis respostas poderá estar nos materiais usados na construção das duas sondas. Grande parte da sua estrutura era formada por materiais ricos em carbono. No momento do impacto, as duas sondas carregavam, ainda, cerca de 0,5 litros de combustível. Devido à violência do impacto, o carbono proveniente destas fontes poderá ter sido libertado e misturado com os materiais ejectados da superfície lunar, formando um ejecta consideravelmente mais escuro.
Recentemente, os locais de impacto das sondas GRAIL receberam o epónimo de Sally Ride, o nome da primeira mulher americana no espaço. Tentem encontrá-los aqui!

Cometa PanSTARRS visto pelo observatório solar STEREO-B

Nos dias 9 a 16 de Março, o cometa PanSTARRS cruzou o campo de visão da câmara SECCHI HI-1B do observatório solar STEREO-B. Vejam em baixo:



O cometa surge nas imagens como um objecto exuberante, exibindo uma impressionante cauda estriada. São visíveis ainda os planetas Mercúrio e Terra (à esquerda e à direita, respectivamente), e uma série de ejecções de massa coronal partindo do Sol (oculto do lado esquerdo). Apesar de aparentemente seguirem numa rota de colisão com o cometa, imagens obtidas pelos outros observatórios solares indicam que este é apenas um efeito de perspectiva.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Finalmente, o cometa PanSTARRS!

Na semana passada, as nuvens frustraram as minhas primeiras tentativas de fotografar o cometa PanSTARRS. Hoje, à saída do trabalho, dei-me conta de que o céu se encontrava completamente limpo, pelo que não desperdicei a oportunidade. Peguei na máquina fotográfica e rumei em direcção a um local junto ao rio com o horizonte a poente desimpedido.
Aqui têm a minha primeira imagem do cometa PanSTARRS brilhando timidamente no céu vespertino de Lisboa.

O cometa C/2011 L4 (PanSTARRS) pairando no céu, junto ao edifício do Centro de Coordenação e Controlo de Tráfego do Porto de Lisboa, em Algés.
Crédito: Sérgio Paulino.

sábado, 16 de março de 2013

Olhar distante sobre Titã

Titã visto pela Cassini em cores naturais. Foram usadas nesta composição imagens obtidas a 13 de Março de 2013, através de filtros para o azul, para o verde e para o vermelho.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

Esta semana, a Cassini realizou um par de observações distantes do hemisfério subsaturniano de Titã, com o objectivo de monitorizar a presença de nuvens na sua densa atmosfera. A composição que aqui vos trago foi construída com imagens obtidas na primeira sessão, a uma distância aproximada de 2,57 milhões de quilómetros.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Um tributo à MESSENGER

O astrónomo Mark 'Indy' Kochte fez, recentemente, um belíssimo vídeo em tributo à venerável missão MESSENGER. Vejam em baixo:



Desde que entrou na órbita de Mercúrio há quase dois anos, a MESSENGER mapeou a quase totalidade da superfície do planeta, observou formações geológicas singulares denominadas cavidades no interior de várias crateras, e descobriu evidências da presença de água em regiões permanentemente sombrias nos pólos. O vídeo reúne uma pequena amostra dos milhares de imagens obtidas pela sonda, e algumas animações ilustrando como a MESSENGER se move na sua órbita em redor de Mercúrio, e como essa órbita se alterou ao longo do tempo.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Curiosity descobre vestígios de um ambiente favorável à vida numa antiga rocha marciana

Comparação dos padrões de difracção de raios-X obtidos nas areias de Rocknest (à esquerda) e nas amostras de rocha pulverizada de John Klein (à direita). A abundância de argilas (filosilicatos) e a pobreza de sais sugere que John Klein foi formada num ambiente de água doce ou ligeiramente salobra.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Ames.

Resultados divulgados ontem pelos cientistas da missão Curiosity sugerem que Marte poderá ter sustentado no passado condições favoráveis à vida tal como a conhecemos. Dados recolhidos pelos instrumentos CheMin (Chemistry and Mineralogy) e SAM (Sample Analysis at Mars) em amostras de rocha pulverizada indicam que Yellowknife Bay, a área que o Curiosity está neste momento a explorar, terá sido a zona terminal de um antigo sistema fluvial ou leito de um lago. Este ambiente poderá ter providenciado gradientes químicos e outras condições propicias para a vida microbiana.

Localização da rocha John Klein (círculo azul) em relação ao local de amartagem do robot Curiosity (cruz negra) e ao leque de aluvião que domina a paisagem de Aeolis Pallus, num mapa construído com imagens obtidas pelo instrumento THEMIS da sonda Mars Odyssey. A vermelho estão assinaladas as áreas com elevada inércia térmica (materiais que retêm o calor com maior eficiência).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/ASU.

John Klein é composto por argilitos de grão fino que contêm argilas, sulfatos e outros minerais. A rocha exibe, ainda, na sua superfície evidências de múltiplos períodos caracterizados por condições húmidas, incluindo veios e nódulos. As argilas resultam do contacto de água doce com minerais ígneos como a olivina, também detectada nas amostras analisadas. No caso de John Klein, as argilas encontradas poderão ter sido formadas por reacções químicas no local de repouso do depósito sedimentar, durante o seu transporte desde a orla da cratera Gale, ou a montante do sistema fluvial, no local de origem dos materiais que o compõem. A presença de sulfato de cálcio nas amostras sugere que as condições no local eram neutras ou ligeiramente alcalinas. Aparentemente, este antigo ambiente húmido era radicalmente diferente doutros ambientes extremamente oxidantes, hipersalinos ou altamente acídicos, presentes no passado noutros locais do planeta vermelho.
A variedade de compostos químicos identificados em John Klein surpreendeu os investigadores da missão. O instrumento SAM detectou enxofre, azoto, hidrogénio, oxigénio, fósforo e carbono - ingredientes essenciais para a vida. Foram encontradas, ainda, misturas de compostos químicos com diferentes níveis de oxidação, o que revela uma abundância de possíveis fontes de energia química essenciais para a sustentação dos processos biológicos.
Os cientistas da missão planeiam manter o Curiosity em Yellowknife Bay por mais algumas semanas. Depois de concluídos todos os trabalhos na área, o robot iniciará a sua viagem até ao sopé do monte Sharp, local onde investigará camadas de sedimentos mais recentes, em busca das argilas e dos sulfatos identificados a partir da órbita marciana.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Cassini completa última passagem programada por Reia

A Cassini realizou anteontem o seu quarto e último encontro programado com Reia, a uma distância da sua superfície de apenas 997 quilómetros. O objectivo principal desta passagem foi determinar a estrutura interna da segunda maior lua de Saturno, através da medição precisa do efeito doppler nas ondas de rádio enviadas para a Terra durante o encontro. Os resultados irão permitir aos cientistas verificar se o interior de Reia é homogéneo, ou se se encontra diferenciado em crusta, manto e núcleo.
Durante o encontro, a Cassini realizou, ainda, a recolha de dados relativos ao ambiente em redor de Reia, o mapeamento das temperaturas da região do pólo sul, e a obtenção de imagens da superfície reiana, em particular, das regiões polares do hemisfério norte. Vejam em baixo algumas das belíssimas imagens captadas neste fim-de-semana:

Um crescente de Reia numa imagem obtida a 09 de Março de 2013 pela sonda Cassini, durante a fase de ingresso do encontro, a uma distância aproximada de 63 mil quilómetros.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Pormenor da superfície reiana numa imagem em alta resolução obtida a uma distância aproximada de 4 mil quilómetros.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Região do pólo norte de Reia em cores aproximadamente naturais, numa composição construída com imagens obtidas através de filtros para o violeta, o verde e o infravermelho próximo. É possível identificar no extremo direito Tirawa, uma cratera de impacto com cerca de 360 km de diâmetro.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

Mosaico da mesma região composto por 10 imagens obtidas pela Cassini a uma distância média de 78 mil quilómetros (resolução entre os 370 e os 520 metros/pixel). Cliquem na imagem para a ampliarem.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/Sérgio Paulino.

A Cassini não voltará a aproximar-se de Reia até 10 de Fevereiro de 2015, altura em que concretizará uma passagem distante, a uma altitude aproximada de 47 mil quilómetros.

domingo, 10 de março de 2013

Espectacular vista sobre os vulcões de Gruithuisen

A sonda Lunar Reconnaissance Orbiter captou, recentemente, uma magnífica vista oblíqua sobre as cúpulas vulcânicas de Gruithuisen. Situadas no extremo nordeste de Oceanus Procellarum, as três cúpulas são um exemplo notável de vulcanismo félsico na Lua, uma forma de vulcanismo caracterizada pela ocorrência de lavas muito viscosas ricas em sílica.

Vista oblíqua sobre a vertente norte de Mons Gruithuisen Gamma, uma das três cúpulas vulcânicas localizadas a norte da cratera Gruithuinsen (norte para a direita). Pormenor de uma imagem obtida pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter a 28 de Outubro de 2012 (explorem o resto da imagem aqui).
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Dados espectrais obtidos pelas sondas americanas Lunar Prospector e Clementine mostram que as cúpulas de Gruithuisen são constituídas por materiais diferentes dos encontrados nos maria e nos antigos terrenos acidentados da Lua. As suas superfícies são caracterizadas por um albedo relativamente elevado e por uma forte absorção espectral no visível e no ultravioleta. Os materiais que edificam as três cúpulas são, relativamente, pobres em ferro e titânio, quando comparados com os depósitos vulcânicos dos maria lunares. Dados recentes do instrumento Diviner da Lunar Reconnaissance Orbiter confirmam que estas estruturas são ricas em sílica.

As três cúpulas de Gruithuisen e os terrenos envolventes, numa imagem obtida pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter, a 13 de Agosto de 2009 (largura da imagem correspondente a 64 km).
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

São raros os vestígios de vulcanismo félsico na superfície lunar. A formação das cúpulas de Gruithuisen é anterior ao aparecimento dos maria que as rodeiam, pelo que algumas porções destas estruturas estão cobertas por materiais basálticos mais recentes. É provável que esta forma de vulcanismo fosse mais generalizada no passado geológico da Lua; no entanto, quaisquer evidências da sua presença poderão estar, irremediavelmente, subterradas debaixo dos vastos maria.

SHARAD revela a presença de vales subterrados em Elysium Planitia

Localização dos mais de 1.000 quilómetros de extensão do sistema de vales de Marte Vallis. Mapa topográfico obtido a partir de dados do altímetro MOLA da sonda Mars Global Surveyor.
Crédito: NASA/MOLA Team/Smithsonian.

Dados recentemente obtidos pelo instrumento italiano SHARAD (SHAllow-RADar) da sonda Mars Reconnaissance Orbiter revelaram, pela primeira vez, a presença de vales subterrados nas jovens planícies vulcânicas de Elysium Planitia, em Marte. Estas estruturas incluem a origem e a maior parte dos mais de 1.000 quilómetros de extensão de Marte Vallis, o mais recente sistema de canais marcianos rasgados por inundações catastróficas. A sua descoberta é uma importante contribuição para a compreensão da hidrologia marciana dos últimos 2,5 mil milhões de anos, um período da história do planeta caracterizado por um clima extremamente frio e seco.

Radargrama construído com dados do SHARAD, mostrando a estrutura subsuperficial de um corte na região oeste de Elysium Planitia. São visíveis duas anomalias paralelas com propriedades reflectivas (L1R e L2R), interpretadas pelos cientistas como fronteiras entre camadas geológicas. Nos locais onde estão presentes os vales do sistema de Marte Vallis, estas camadas encontram-se seccionadas.
Crédito: Smithsonian/NASA/JPL-Caltech/Sapienza University of Rome.

Marte Vallis tem uma morfologia semelhante a outros sistemas de vales mais antigos, actualmente expostos na superfície marciana. Porém, como consequência do vulcanismo que moldou a paisagem de Elysium Planitia durante centenas de milhões de anos, grande parte da sua extensão encontra-se subterrada em materiais vulcânicos, pelo que, até agora, pouco se sabia acerca da sua formação. Usando os novos dados do SHARAD, cientistas da NASA conseguiram mapear os vales subterrados até à sua origem, uma secção até agora desconhecida do sistema de fracturas de Cerberus Fossae.
De acordo com os investigadores, a violência das cheias que rasgaram Marte Vallis foi muito superior ao assumido anteriormente. Os dados obtidos pelo SHARAD revelam que o vale principal atingiu uma profundidade máxima de 113 metros, um valor duas vezes superior às estimativas anteriores. A localização de seu ponto de origem em Cerberus Fossae sugere que as inundações catastróficas irromperam de grandes reservatórios subterrâneos, como consequência da actividade tectónica ou vulcânica na região.
Podem ler mais sobre este trabalho aqui.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Vénus visto da órbita de Saturno

A equipa de imagem da missão Cassini divulgou anteontem duas espectaculares imagens mostrando o distante planeta Vénus a brilhar intensamente através do sistema de anéis de Saturno. Vejam em baixo:

Vénus junto à orla de Saturno, logo acima do ténue anel G, numa imagem obtida pela sonda Cassini a 04 de Janeiro de 2013. A faixa difusa visível mais abaixo é o anel E, uma estrutura exterior ao anel G, criada pelos gêiseres da lua Encélado.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.

Outra imagem de Vénus, desta vez, espreitando através do anel C de Saturno. Composição em cores naturais obtida pela sonda Cassini a 10 de Novembro de 2012.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.

Mesmo nos domínios exteriores do Sistema Solar, Vénus surge como um ponto excepcionalmente brilhante nos céus. Esta característica deve-se à presença de uma densa camada de nuvens de ácido sulfúrico na atmosfera venusiana, capaz de reflectir cerca de 75% da radiação solar incidente. Nas duas imagens, a Cassini encontrava-se na sombra de Saturno, pelo que, apesar da sua proximidade relativa ao Sol, Vénus destacava-se com facilidade no negrume do espaço.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Terra receberá hoje a visita de mais um pequeno asteróide

Representação artística de um asteróide em aproximação à Terra.
Crédito: NASA (imagem da Terra)/ESA/DLR/FU Berlin (imagem de Deimos)/Sérgio Paulino.

Hoje, pelas 07:35 (hora de Lisboa), uma rocha espacial passará em segurança, a cerca de 356 mil quilómetros da superfície terrestre, uma distância ligeiramente inferior à distância média que separa a Terra da Lua. Designado provisoriamente 2013 EC, o pequeno asteróide foi descoberto no Sábado passado, no Observatório de Mount Lemmon, no Arizona, e tem um tamanho semelhante ao do meteoróide que há cerca de duas semanas explodiu sobre a cidade de Chelyabinsk, na Rússia.

domingo, 3 de março de 2013

Sofrerá Marte uma catástrofe global em 2014?

Representação artística do núcleo de um cometa.
Crédito: ESA/NASA.

No início de Janeiro, o astrónomo veterano Robert H. McNaught descobriu o cometa C/2013 A1 (Siding Spring), usando um dos telescópios do Observatório de Siding Spring, na Austrália. Na altura, o objecto viajava a cerca de 7,2 UA de distância do Sol, na direcção da constelação da Lebre, pelo que exibia um brilho muito débil. Logo após o anúncio da sua descoberta, astrónomos do programa Catalina Sky Survey resgataram dos seus arquivos observações adicionais obtidas a 8 de Dezembro de 2012, o que lhes permitiu encontrar uma solução para a órbita de C/2013 A1 e, para sua surpresa, extrapolar uma passagem a curta distância de Marte a 19 de Outubro de 2014.
Estas primeiras observações eram, no entanto, insuficientes para excluir um possível impacto na superfície marciana, pelo que os astrónomos têm estado desde então a reunir mais dados astrométricos para reduzir as incertezas na trajectória do cometa durante o seu encontro com o planeta vermelho. Neste momento, estão já somadas um total de 157 observações, cobrindo um período de 148 dias. Estes novos dados sugerem que C/2013 A1 passará a uma distância nominal da superfície marciana de apenas 50,1 mil quilómetros, com uma probabilidade de impacto de 1 em 1250! A essa distância, o cometa brilhará nos céus marcianos a uma magnitude aproximada de -8,5, o equivalente a 40 vezes o brilho de Vénus nos céus terrestres!
Como as comas dos cometas se estendem, geralmente, a mais de 100 mil quilómetros da superfície do núcleo, é praticamente garantido que o planeta vermelho ficará exposto a uma chuva de partículas cometárias durante a fase de maior aproximação. A maioria destas partículas são submicrométricas, mas algumas podem atingir alguns milímetros de diâmetro, um tamanho suficiente para constituírem uma ameaça às sondas presentes na altura na órbita marciana, pelo que este será, certamente, um problema a ser analisado em pormenor pelos responsáveis das missões Mars Express, Mars Odyssey, Mars Reconnaissance Orbiter, MAVEN e Mangalyaan (estas duas últimas com chegada prevista para Setembro de 2014).
Caso se verifique o cenário de impacto, o desastre será dantesco. C/2013 A1 viaja numa órbita hiperbólica retrógrada, pelo que passará por Marte a uma velocidade estonteante de 56 km.s-1! Os dados actualmente disponíveis sugerem que o núcleo deste cometa terá entre 3 a 50 km de diâmetro, o que significa que, em caso de colisão, a energia do impacto libertada atingirá no máximo o equivalente a 20 mil megatoneladas de TNT, ou seja, 350 vezes a energia libertada pela Tsar-Bomba, a mais poderosa bomba nuclear alguma vez detonada! Uma explosão desta magnitude produziria uma cratera com cerca de 500 km de diâmetro e 2 km de profundidade, e seria facilmente visível a partir da Terra. Desnecessário será referir que tal evento seria catastrófico para os robots Curiosity e Opportunity, actualmente em actividade na superfície do planeta.
C/2013 A1 estará em breve em conjunção com o Sol nos céus terrestres, pelo que voltará a posicionar-se de forma favorável para a realização de novas observações apenas no final do Verão. Nessa altura, os astrónomos reunirão, certalmente, dados suficientes para diminuírem as incertezas na trajectória do cometa ao ponto de poderem excluir ou não uma colisão com Marte em Outubro de 2014. Vamos aguardar.