quinta-feira, 31 de julho de 2014

Missão Rosetta: divulgada nova imagem do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko

O núcleo do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko visto pelo sistema de imagem OSIRIS da sonda Rosetta, a 29 de Julho de 2014, a aproximadamente 1950 quilómetros de distância (resolução: 37 metros por pixel).
Crédito: ESA/Rosetta/MPS para a equipa OSIRIS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA.

A uma semana de completar a sua épica viagem de uma década, a sonda Rosetta continua a desvendar cada vez mais detalhes do núcleo bilobado do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko.

A imagem de cima foi divulgada hoje pela equipa da missão e revela um pequeno mundo com uma série de estruturas topográficas claramente discerníveis, e diversas manchas brilhantes visíveis ao longo da sua superfície. Uma destas manchas aparenta formar uma banda em redor do "pescoço" que une os dois lobos do núcleo do cometa.

Podem acompanhar a chegada das mais recentes imagens do cometa aqui.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Opportunity atinge marco histórico na história da exploração espacial

Lunokhod 2, uma pequena cratera situada a sul de Solander Point, na orla ocidental da cratera Endeavour. Imagem obtida pelo robot Opportunity a 24 de abril de 2014 (sol 3644 da missão).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Cornell/ASU.

O Opportunity detém agora oficialmente o recorde da maior distância percorrida por um rover numa superfície extraterrestre, depois de anteontem ter completado 40,25 quilómetros na paisagem poeirenta de Meridiani Planum, na superfície de Marte. O anterior recorde pertencia ao Lunokhod 2, um robot soviético que em janeiro de 1973 alunou na cratera Le Monnier, no extremo leste de Mare Serenitatis, na Lua.

"O Opportunity viajou mais longe do que qualquer outro veículo com rodas noutro mundo", afirmou o responsável do projeto Mars Exploration Rover (MER), John Callas. "Isto é particularmente notável considerando que se pretendia que o Opportunity completasse cerca de um quilómetro, e que não foi desenhado para uma distância superior. Mas o que é realmente importante, não é quantos quilómetros o rover já acumulou, mas sim a quantidade de exploração e descoberta que concretizámos nessa distância."

Se o robot da NASA se mantiver operacional nas próximas semanas, deverá conseguir alcançar a distância da maratona (cerca de 42,2 quilómetros) nas proximidades de Marathon Valley, o próximo grande objetivo científico da missão. Observações realizadas a partir da órbita marciana sugerem a presença de uma acumulação de diferentes minerais argilosos neste local. O vale encontra-se ladeado por encostas íngremes, onde a relação entre as diferentes camadas sedimentares poderá fornecer pistas fundamentais que possibilitem o enquadramento destes minerais na história geológica do planeta vermelho.

O Lunokhod 2 foi o sucessor da primeira missão Lunokhod, que poisou na Lua em 1970. Imagens recentemente obtidas pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter permitiram confirmar que o segundo rover soviético completou um total de 39 quilómetros nas 17 semanas de missão na superfície lunar.

"As missões Lunokhod permanecem ainda como dois grandes marcos do que eu penso ter sido a primeira era dourada da exploração espacial - os anos 1960 e 70", disse Steve Squyres, cientista da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, e investigador principal da missão MER. "Estamos agora numa segunda era dourada, e o que tentámos fazer em Marte com o Spirit e o Opportunity foi em grande parte inspirado pelas conquistas da equipa da missão Lunokhod, há tantos anos na Lua. Foi uma verdadeira honra termos sucedido aos seus rastos históricos." Recentemente, a equipa da missão MER homenageou o venerável robot soviético, atribuindo o nome Lunokhod 2 a uma pequena cratera com 6 metros de diâmetro fotografada em abril passado na vertente exterior da orla ocidental da cratera Endeavour.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Neve, gelo e água moldaram bacia marciana com metade da área do Brasil

Porção central de Hellespontus Montes, numa imagem obtida a 13 de janeiro de 2014, pela câmara HRSC da sonda europeia Mars Express.
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin.

Esta espantosa imagem divulgada recentemente pela ESA mostra a secção central de Hellespontus Montes, uma cadeia montanhosa localizada no extremo ocidental de Hellas Planitia, no hemisfério sul de Marte. Com cerca de 2300 quilómetros de diâmetro e 9 quilómetros de profundidade, Hellas Planitia é a maior estrutura de impacto do Sistema Solar. A sua área equivale a aproximadamente metade da área do Brasil.

Hellespontus Montes é um produto das derradeiras fases de formação da bacia de Hellas Planitia. Elevada pelas tremendas forças que esculpiram a gigantesca bacia, esta cadeia montanhosa com pouco mais de 700 quilómetros de comprimento exibe uma interessante paisagem alterada ao longo de milhares de milhões de anos por fenómenos erosivos e por pequenos impactos.

Imagem de contexto mostrando toda a extensão de Hellespontus Montes. O pequeno retângulo branco evidencia a região visível na imagem de cima.
Crédito: NASA MGS MOLA Science Team/Freie Universitaet Berlin.

Na imagem podemos ver várias crateras com superfícies enrugadas no seu interior, algumas formando padrões concêntricos. Estas estruturas, conhecidas por "preenchimentos concêntricos", encontram-se provavelmente associadas a ciclos de precipitação de neve, ocorridos numa época em que Marte era um planeta muito mais húmido.

No final de cada ciclo, a neve acumulada no interior das crateras ficaria coberta por poeira e outros detritos, antes de ser compactada sob a forma de gelo. Estes depósitos tenderiam a fluir como um glaciar para o centro da crateras, adaptando-se aos contornos da paisagem à medida que se moviam. A quantidade de linhas concêntricas sugere que estes ciclos ocorreram diversas vezes, pelo que é possível que persistam alguns depósitos ricos em gelo a apenas algumas dezenas de metros de profundidade.

Perspetiva sobre Hellespontus Montes, criada com imagens obtidas a 13 de janeiro de 2014, pela câmara HRSC da sonda europeia Mars Express.
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin.

A imagem revela ainda outros pormenores interessantes. No interior de uma grande cratera podemos observar camadas sedimentares parcialmente erodidas pelos ventos marcianos. Partes destas camadas formam pequenas colinas com topos planos, provavelmente constituídas por materiais mais resistentes à erosão. O alinhamento e a forma das dunas visíveis no interior desta cratera indicam que os ventos na região sopram maioritariamente de leste.

A norte da cratera encontra-se uma rede de intrincados vales que descem ao longo das vertentes de Hellespontus Montes, e serpenteiam em direção às planícies a leste. Estas planícies exibem vastos mantos de depósitos, provavelmente criados pela presença de antigos lagos.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Terá o Curiosity descoberto solos semelhantes aos da Terra no interior da cratera Gale?

Veios num alforamento rochoso na unidade estratigráfica de Sheepbed, em Yellowknife Bay, no interior da cratera Gale. Imagem obtida pelo robot Curiosity, a 13 de dezembro de 2013.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS.

Sedimentos analisados pelo Curiosity no interior da cratera Gale contêm evidências de que Marte foi outrora um planeta muito mais quente e húmido, sugere Gregory Retallack, um geólogo especialista em paleossolos da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, num artigo disponibilizado online na semana passada pela conceituada revista Geology. De acordo com Retallack, imagens recentemente obtidas pelo robot da NASA revelam perfis de solos semelhantes aos de solos terrestres, com superfícies fraturadas raiadas com depósitos de sulfatos, cavidades elipsoidais e concentrações de sulfato comparáveis às de solos dos vales secos da Antártida e do deserto de Atacama, no Chile.

"As primeiras pistas foram as imagens, mas depois todos os dados acertaram em cheio", afirmou Retallack. "A chave para esta descoberta tem sido a excelente capacidade analítica química e mineral do rover Curiosity, que é uma ordem de magnitude superior em relação às anteriores gerações de rovers. Os novos dados mostram claras tendências de desgaste químico, e de acumulação de argilas à custa do mineral olivina, tal como seria de esperar nos solos terrestres. A diminuição de fósforo dentro dos perfis é especialmente tentador, porque na Terra é atribuída a atividade microbiana."

Segundo Retallack, os antigos sedimentos da cratera Gale não provam que Marte conteve vida no passado, mas adicionam uma importante peça no crescente corpo de evidências que sustenta a visão de um planeta vermelho com um clima outrora mais favorável à vida tal como a conhecemos. O Curiosity está agora a explorar unidades estratigráficas mais elevadas e geologicamente mais recentes, onde os solos parecem denunciar condições menos propícias à vida, pelo que serão necessárias novas missões para analisar registos geológicos de ambientes mais antigos e potencialmente mais habitáveis.

Retallack afirma que os complexos padrões de fraturas observados pelo Curiosity nas camadas mais profundas da cratera Gale são sugestivas de materiais terrosos tipicamente encontrados sobre as camadas rochosas na Terra. As cavidades vesiculares e as concentrações de sulfato são ambas características dos solos dos desertos terrestres.

"Nenhuma destas características é observada nos solos superficiais mais recentes de Marte", explica Retallack. "A exploração de Marte, tal como a de outros corpos planetários, leva-nos frequentemente a descobertas inesperadas, mas é igualmente inesperado descobrir um solo tão familiar."

Os solos recentemente analisados pelo Curiosity providenciam as condições mais benignas e habitáveis até agora descobertas em Marte. Com uma idade aproximada de 3,7 mil milhões de anos, estes solos foram formados numa época de transição entre um antigo ciclo da água benigno na superfície do planeta vermelho, e o ambiente árido e acídico que hoje conhecemos. Registos geológicos na Terra sugerem que a vida surgiu no nosso planeta há cerca de 3,5 mil milhões de anos, no entanto, alguns cientistas sublinham a possibilidade de potenciais vestígios de atividade biológica ainda mais antigos poderem ter sido destruídos pela tectónica de placas. Este processo não ocorreu em Marte, o que torna mais promissora a busca por antigos vestígios de vida nos solos fossilizados do planeta vermelho.

Podem encontrar mais pormenores deste trabalho aqui.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

O que nos diz a estranha forma do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko?

O cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko numa sequência de 36 imagens obtidas pela câmara de ângulo fechado do sistema de imagem OSIRIS da sonda Rosetta, a 14 de Julho de 2014, a uma distância aproximada de 12 mil quilómetros. A esta distância ainda não é possível resolver pormenores da superfície, pelo que as variações na sua textura poderão ser apenas falsas interpretações da câmara.
Crédito: ESA/Rosetta/MPS para a equipa OSIRIS/MPS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA.

À medida que a sonda Rosetta se aproxima do seu alvo, o sistema de imagem OSIRIS vai revelando aos poucos um objecto verdadeiramente surpreendente. Imagens divulgadas esta semana mostram que o núcleo do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko é, na verdade, constituído por dois componentes distintos! Um dos segmentos parece ser consideravelmente alongado, enquanto que o mais pequeno apresenta uma aparência mais bolbosa. “As imagens recordam-me vagamente um patinho de borracha com um corpo e uma cabeça”, disse o responsável pelo projecto OSIRIS Carsten Güttler.

Apesar dos binários de contacto serem relativamente comuns entre os cometas, o seu mecanismo de formação é ainda um foco de intenso debate científico. Uma das hipóteses mais populares sugere que estes objectos resultam de colisões a baixa velocidade, ocorridas no início da formação do Sistema Solar. Se o núcleo de 67P/Churyumov-Gerasimenko foi criado desta forma, então os seus componentes deverão ter colidido a uma velocidade relativa de apenas 3 metros por segundo.

Outra possibilidade é a de que o núcleo do cometa tenha sido esculpido pela força gravitacional de um objecto massivo como, por exemplo, Júpiter ou o Sol. Os cometas são objectos muito frágeis, pelo que se fragmentam com relativa facilidade quando são sujeitos a fortes tensões gravitacionais.

Outras hipóteses apontam ainda para a sublimação de quantidades substanciais de gelo em bolsas localizadas junto à superfície, ou para a destruição de parte significativa do núcleo provocada por um impacto quase catastrófico.

“Nesta altura vemos imagens que sugerem uma forma consideravelmente complexa, porém há ainda muito para aprender antes de avançarmos para conclusões, não só em termos do significado que isto poderá ter para a investigação científica dos cometas em geral, mas também em relação ao nosso planeamento das observações científicas e dos aspectos operacionais da missão, tais como a trajectória orbital e a aterragem”, afirmou o responsável da missão Fred Jansen.

“Necessitamos de realizar análises detalhadas e criar modelos da forma do cometa para determinar a melhor estratégia de navegação em redor de um corpo com uma configuração tão invulgar, tendo em conta o controlo da trajectória e a astrodinâmica, os requisitos científicos da missão, e os elementos relacionados com a aterragem, como a análise do local de aterragem e a visibilidade entre as duas sondas. Mas com menos de 10 mil quilómetros para percorrer antes do encontro de 6 de Agosto, as questões em aberto serão respondidas em breve.”

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Será o gelo seco o principal responsável pela formação dos barrancos marcianos?

Barrancos recentemente formados nas encostas de uma pequena cratera a leste de Gorgonum Chaos, em Marte. Imagens obtidas pela câmara HiRISE a 30 de maio de 2007 (à esquerda) e a 31 de maio de 2013.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Univ. of Arizona.

Observações realizadas pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) revelaram novas evidências de que os barrancos marcianos são esculpidos, não por água líquida corrente, mas por blocos de gelo de dióxido de carbono formados sazonalmente na superfície de Marte. Os novos resultados foram anunciados na semana passada num artigo publicado na revista Icarus.

Descritos pela primeira vez há cerca de 14 anos, os barrancos marcianos geraram grande interesse na comunidade científica, devido à sua semelhança com os barrancos terrestres – estruturas geológicas criadas pela ação erosiva de torrentes temporárias de água líquida. A atmosfera marciana, embora rarefeita, suporta a presença de vapor de água, e permite a manutenção na superfície de grandes quantidades de gelo de água; no entanto, como nunca foi confirmada a presença de água líquida no planeta vermelho, os cientistas procuraram respostas noutros fenómenos erosivos atualmente em atividade na superfície de Marte.

“Até há cerca de cinco anos, eu pensava que os barrancos em Marte eram indicadores de atividade de água líquida”, afirmou Colin Dundas, investigador do Centro de Astrogeologia da USGS, e principal autor do novo trabalho. “Conseguimos obter muito mais observações, e à medida que começámos a ver mais atividade, e a definir com precisão a altura em os barrancos se formavam e modificavam, verificámos que a atividade ocorre no inverno.”

A equipa liderada por Dundas usou imagens obtidas pela câmara HiRISE para monitorizar a formação de barrancos desde 2006, num total de 356 locais na superfície de Marte. Em 38 dos locais examinados, os investigadores observaram não só a formação de novos segmentos, como também um aumento do volume de detritos depositados a jusante de alguns dos barrancos. A análise destas estruturas ao longo do tempo revelou que a atividade observada coincide com períodos em que as temperaturas não possibilitam a fusão do gelo de água, mas permitem a acumulação de gelo de dióxido de carbono na superfície.

Conhecido vulgarmente por gelo seco, o gelo de dióxido de carbono não ocorre naturalmente na Terra, mas existe em abundância em Marte. A sua presença na superfície do planeta tem sido associada a uma série de processos geológicos que atualmente moldam a paisagem marciana, desde as “aranhas” observadas na primavera nas latitudes mais elevadas do planeta, até às estruturas lineares que adornam algumas das vertentes das crateras mais meridionais.

Um dos mecanismos pelos quais o gelo de dióxido de carbono poderá estar implicado na formação dos barrancos é através da lubrificação fornecida pelo gás formado por sublimação aos materiais secos que fluem pelas encostas abaixo. Um segundo mecanismo poderá ser a queda de materiais devido ao efeito de compressão criado pela acumulação sazonal de gelo de dióxido de carbono nas vertentes inclinadas.

Com este trabalho crescem as evidências de que os barrancos marcianos são estruturas formadas por processos geológicos atuais, e não por fenómenos ocorridos há centenas de milhões de anos, em períodos em que as condições climáticas permitiam a presença de água líquida na superfície do planeta. “Muitas das informações que temos acerca da formação dos barrancos, e de outros processos ativos, devem-se à longevidade da MRO e de outras sondas”, disse Serina Diniega, investigadora do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, e coautora deste trabalho. “Isto permite-nos realizar observações repetidas dos mesmos locais, de forma a examinarmos alterações na superfície ao longo do tempo.”

Apesar destas observações apontarem para processos que não envolvem água líquida, a equipa da HiRISE anunciou recentemente a descoberta de pequenas estruturas lineares possivelmente rasgadas por recentes fluxos de água líquida na superfície do planeta vermelho. “Gosto de Marte ainda nos poder surpreender”, acrescentou Dundas. “Os barrancos marcianos são estruturas fascinantes que nos permitem investigar processos que simplesmente não vemos na Terra.”

Podem ler mais pormenores sobre este trabalho aqui.

sábado, 12 de julho de 2014

Cientistas descobrem meteorito possivelmente implicado em antiga colisão catastrófica na Cintura de Asteróides

Meteorito fóssil pertencente a uma nova classe (B), encontrado em 2011 na pedreira de Thorberg (A).
Crédito: Schmitz et al., 2014.

Investigadores identificaram um meteorito fóssil possivelmente associado a uma violenta colisão ocorrida há centenas de milhões de anos, na Cintura de Asteróides. O pequeno objeto foi encontrado numa pedreira de calcário do Ordovícico Médio, na Suécia, e aparenta ser o primeiro representante de um nova classe de meteoritos relacionados com os winonaítos - um grupo de acondritos primitivos dos quais só se conhecem 26 exemplares.

Cerca de um quarto de todos os meteoritos recuperados na superfície da Terra tiveram origem na fragmentação de um enorme asteróide do tipo espetral L, há aproximadamente 470 milhões de anos. O evento deixou marcas proeminentes no registo geológico do nosso planeta, e poderá ter estado na origem das atuais famílias de asteróides Flora e Gefion. Em 2007, um grupo de cientistas especulou uma possível ligação entre esta catástrofe e um dos maiores episódios de biodiversificação da Terra, ocorridos no Ordovícico Médio (ver mais pormenores aqui).

Nos últimos 20 anos, cientistas suecos recuperaram mais de uma centena de meteoritos fósseis em antigos sedimentos marinhos do Ordovícico Médio, nas proximidades de Thorsberg, no sul da Suécia. Distribuídos em estratos depositados durante aproximadamente 2 milhões de anos, numa área de apenas 20000 m2, estes pequenos objetos denunciam um súbito aumento do fluxo de meteoróides na direção da Terra, o que coincide com a antiga catástrofe ocorrida na Cintura de Asteróides.

Análises geoquímicas indicam que a maioria dos meteoritos de Thorsberg são condritos do tipo L. No entanto, recentemente, os cientistas identificaram um novo meteorito que não se enquadra em nenhuma das classes até agora conhecidas. Dados espetrométricos e radiométricos confirmam que o pequeno objeto atingiu a superfície da Terra na mesma altura que os restantes meteoritos encontrados no mesmo estrato, e que esteve exposto à radiação cósmica do espaço durante um período de cerca de 1 milhão de anos - um período idêntico ao dos condritos de tipo L encontrados na pedreira - o que sugere uma estreita relação entre este misterioso objeto e os outros meteoritos.

De acordo com os autores, esta relação sugere a intrigante possibilidade deste novo meteorito ser um pequeno pedaço do objeto que provocou a fragmentação do asteróide progenitor dos meteoritos de tipo L. Até agora, os cientistas não tinham encontrado qualquer vestígio de outro asteróide implicado na catástrofe, pelo que muitos sugeriam que este segundo asteróide tinha sido vaporizado no impacto. Com esta nova descoberta, os investigadores adicionam mais uma peça fundamental num dos eventos do Sistema Solar mais proeminentes dos últimos 3 mil milhões de anos.

Podem encontrar todos os pormenores deste trabalho aqui.

domingo, 6 de julho de 2014

Oceano subsuperficial de Titã poderá ser tão salgado quanto o Mar Morto

Representação artística da estrutura interna de Titã.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SSI/Univ. of Arizona/G. Mitri/University of Nantes.

Dados obtidos pela Cassini revelam que o oceano subsuperficial de Titã poderá ter uma salinidade comparável à do Mar Morto - um dos lagos mais salgados da Terra. A descoberta foi anunciada na semana passada, num artigo publicado na revista Icarus.

Estudos anteriores sugerem que a crusta gelada de Titã é uma estrutura rígida, num processo de completa solidificação. Dados topográficos e gravimétricos obtidos pela Cassini nos últimos 10 anos permitiram agora aos cientistas construir um modelo da atual estrutura interna de Titã, o que resultou numa melhor compreensão da estrutura e propriedades da camada mais exterior da maior lua de Saturno.

Os novos resultados mostram que é necessária uma densidade relativamente elevada no oceano subsuperficial de Titã para explicar as anomalias gravitacionais observadas pela Cassini. Isto indica que o oceano é provavelmente formado por uma solução extremamente concentrada de sais de enxofre, sódio e potássio, numa concentração total semelhante à dos lagos mais salgados da Terra.

"Este é um oceano extremamente salgado, tendo em conta os padrões da Terra", afirmou Giuseppe Mitri, investigador da Universidade de Nantes, em França, e primeiro autor deste trabalho. "Este conhecimento poderá alterar o modo como vimos este oceano - como uma possível morada para a vida - no entanto, as condições poderiam ter sido bem diferentes no passado."

A equipa liderada por Mitri descobriu ainda que a espessura da crusta titaniana varia de região para região, o que confirma que a lua de Saturno possui uma camada exterior rígida, como seria o caso se o oceano no seu interior estivesse lentamente a solidificar. Este processo limita a troca de materiais entre o oceano e a superfície, o que tem fortes implicações na sua habitabilidade.

Uma outra consequência deste modelo é que a libertação de metano na atmosfera de Titã deverá ocorrer na superfície, apenas em "pontos quentes" intermitentes e muito localizados. "O nosso trabalho sugere que vai ser difícil procurar sinais da libertação de metano usando a Cassini, e poderá requerer uma futura missão que possa encontrar fontes de metano localizadas", disse Jonathan Lunine, investigador da missão na Universidade de Cornell, em Ithaca, nos Estados Unidos, e coautor deste trabalho. "Tal como em Marte, esta é uma tarefa complicada."

Podem ler mais sobre este trabalho aqui.

sábado, 5 de julho de 2014

Rosetta vê o seu alvo em rotação!

O núcleo do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko numa sequência de 36 imagens obtidas a 27 e 28 de junho de 2014 pela câmara de ângulo fechado do sistema de imagem OSIRIS da sonda Rosetta.
Crédito: ESA/Rosetta/MPS para a equipa OSIRIS MPS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA.

Com o seu destino a aproximar-se a bom ritmo, a sonda Rosetta começou na semana passada a vislumbrar os primeiros detalhes do núcleo do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko! Obtidas a uma distância de 86 mil quilómetros (pouco mais de 1/5 da distância média entre a Terra e a Lua), as imagens que compõem a animação de cima mostram um objeto com apenas 4 pixels de área, girando sobre o seu próprio eixo com um período de rotação de 12,4 horas.

Como seria de esperar, a esta distância, o cometa tem ainda um aspeto pouco nítido. O efeito é produzido pela luz refletida no interior do sistema de imagem, e deverá desaparecer dentro de duas semanas, quando o núcleo do cometa cobrir nas imagens uma área 100 vezes superior.

Neste momento, a Rosetta encontra-se a menos de 40 mil quilómetros de distância do seu alvo - o equivalente a pouco mais da altitude a que se encontram os satélites geostacionários. A sonda europeia tem ainda de completar mais cinco queimas de combustível antes de alcançar uma distância de apenas 100 quilómetros do núcleo do cometa, no próximo dia 6 de agosto.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Um mapa maioritariamente inexplorado

Superfícies de praticamente todos os objetos sólidos do Sistema Solar.
Crédito: Randall Munroe.

Randall Munroe publicou hoje no seu webcomic xkcd este magnífico mapa, onde é possível comparar as áreas das superfícies de praticamente todos os objetos sólidos do Sistema Solar.

Estão representados em territórios individualizados os quatro planetas telúricos (Mercúrio, Vénus, Terra e Marte), as dezassete maiores luas do Sistema Solar, os asteroides Ceres e Vesta, e os objetos da Cintura de Kuiper Plutão, Caronte, Éris, Makemake e Haumea.

Os restantes territórios são partilhados por asteroides com mais de 100 metros de diâmetro, pelos cometas e pelas restantes luas do Sistema Solar.

Encaixado entre os territórios da Terra e de Titã encontra-se um pequeno enclave que representa a área da pele dos mais de sete mil milhões de pessoas que atualmente habitam o planeta.