sexta-feira, 31 de maio de 2013

Descobertas 28 novas famílias de asteróides

Representação artística de uma colisão entre asteróides.
Crédito: NASA/JPL-Caltech.

Astrónomos americanos usaram dados obtidos pelo observatório espacial WISE para desenharem uma nova e melhorada árvore genealógica dos objectos que povoam a Cintura de Asteróides. A equipa de investigadores liderada por Joseph Masiero do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA, analisou milhões de imagens obtidas na banda do infravermelho médio para determinar o diâmetro e o albedo de 112.286 asteróides, cerca de um terço dos mais de 600 mil objectos catalogados na região entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Ao combinarem esses parâmetros físicos com os respectivos parâmetros orbitais, a equipa associou 38.298 asteróides a 76 famílias diferentes, 28 das quais nunca antes identificadas.

Gráficos de distribuição dos membros das 76 famílias identificadas (esquerda) e de todos os objectos analisados (direita), de acordo com a inclinação orbital (em graus) e o semi-eixo maior da respectiva órbita (em UA). As cores representam os diferentes albedos (escala à direita).
Crédito: Joseph Massiero e colegas/adaptado por Sérgio Paulino.

Gráficos de distribuição dos membros das 76 famílias identificadas (esquerda) e de todos os objectos analisados (direita), de acordo com a excentricidade orbital e o semi-eixo maior da respectiva órbita (em UA). As cores representam os diferentes albedos (escala à direita).
Crédito: Joseph Massiero e colegas/adaptado por Sérgio Paulino.

As famílias de asteróides são geradas pela colisão de dois objectos de grandes dimensões. Alguns destes eventos rasgam grandes crateras, como as bacias de impacto Rheasilvia e Veneneia no hemisfério sul de Vesta, por exemplo. Outras colisões são catastróficas e despedaçam os objectos envolvidos em numerosos fragmentos, como é o caso dos membros da família Eos.
Os objectos forjados por estes acontecimentos tendem a viajar em trajectórias semelhantes, que se vão afastando gradualmente ao longo do tempo. Alguns pedaços acabam em órbitas instáveis que os desviam para perigosas incursões no Sistema Solar interior. Muitos destes objectos vêm mais tarde a engrossar as populações de asteróides próximos da Terra. Com este novo trabalho, os cientistas dispõem de uma nova ferramenta para traçar as rotas de migração destes fragmentos exilados, desde a sua origem na Cintura de Asteróides.
Podem ler mais sobre este estudo aqui.

Surpresa! Asteróide 1998 QE2 tem uma lua!

Hoje, ao início da noite, o asteróide (285263) 1998 QE2 fará uma aproximação a apenas 5,86 milhões de quilómetros da Terra (cerca de 15 vezes a distância entre o nosso planeta e a Lua), . Com cerca de 2,7 quilómetros de diâmetro, um valor ligeiramente superior ao comprimento da ponte 25 de Abril, este será um alvo particularmente favorável para os sistemas de radar de Goldstone e de Arecibo, pelo que os cientistas da NASA têm programadas extensas campanhas de observação para o período entre 30 de Maio e 7 de Junho. Os dados recolhidos nestas sessões irão permitir calcular com maior precisão os parâmetros orbitais do asteróide e alguns dos seus parâmetros físicos.

Primeiras imagens de radar de 1998 QE2 obtidas pela antena de Goldstone, quando o asteróide se encontrava a 6 milhões de quilómetros de distância da Terra.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/GSSR.

Ontem foi divulgada a primeira sequência de imagens de radar obtida em Goldstone, cobrindo cerca de duas horas com uma resolução aproximada de 75 metros por pixel. As imagens mostram que 1998 QE2 tem um período de rotação inferior a 4 horas, e uma série de formações escuras na superfície, provavelmente, grandes crateras ou outras concavidades. Esta primeira sessão revelou, ainda, a presença de uma pequena lua na órbita do asteróide. Apesar de invulgar, este não é de todo um fenómeno singular. Cerca de 16% dos asteróides próximos da Terra são sistemas binários ou triplos. Estimativas preliminares sugerem que o pequeno satélite terá, aproximadamente, 600 metros de diâmetro.



A presença deste pequeno objecto na órbita do asteróide é particularmente vantajosa, porque permite aos cientistas calcular com maior precisão a sua massa. 1998 QE2 alcançará o ponto de maior aproximação à Terra pelas 21:59 (hora de Lisboa), altura em que as observações em modo bistático (com Goldstone como emissor e Arecibo como receptor) atingirão uma resolução máxima de 3,75 metros por pixel. Esta será a passagem mais próxima deste asteróide pela Terra dos próximos dois séculos, pelo que os cientistas encaram o encontro como uma oportunidade única para estudar em detalhe este invulgar objecto.
Podem acompanhar este evento em directo aqui.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Jovem Cunningham

Cratera Cunningham vista pela sonda MESSENGER a 05 de Maio de 2013.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington.

Cunningham é uma das estruturas de impacto melhor preservadas na superfície de Mercúrio. Com cerca de 36 quilómetros de diâmetro, esta espectacular cratera exibe vertentes com terraços bem conservados, um pico central bem definido, e um número limitado de pequenas crateras sobrepostas ao seu interior. Estas características, em conjunto com o impressionante sistema de raios brilhantes que a rodeia, mostram que esta estrutura terá sido formada, muito provavelmente, nos últimos mil milhões de anos.
Na imagem de cima, recentemente obtida pela MESSENGER, é possível ver todos os pormenores do interior de Cunningham, incluindo as enigmáticas cavidades do seu pico central, aqui visíveis como faixas de terreno intensamente brilhantes.

domingo, 26 de maio de 2013

Conjunção planetária no dia da toalha

Três planetas em conjunção nos céus crepusculares da praia do Guincho, numa imagem obtida a 25 de Maio de 2013.
Crédito: Sérgio Paulino.

Vénus, Júpiter e o elusivo Mercúrio iniciaram na semana passada uma dança nos céus crepusculares, que se prolongará até ao próximo fim-de-semana. Ontem, dia da toalha, rumei até à costa ventosa do Guincho para fotografar o trio planetário numa estreita formação, desenhando os vértices de um pequeno triângulo escaleno acima do horizonte.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Sobrevoando Mimas

Mimas vista pela sonda Cassini a 20 de Maio de 2013.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Na passada segunda-feira, a sonda Cassini realizou uma passagem a cerca de 200 mil quilómetros da pequena lua saturniana Mimas. A equipa de imagem da missão aproveitou este encontro distante para fotografar as regiões polares a norte da cratera Herschel (estrutura circular visível na imagem de cima junto ao terminador, à direita).

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Cratera concêntrica na Bacia Apollo

Pormenor de uma cratera concêntrica sem nome situada no extremo noroeste da Bacia Apollo, no lado distante da Lua. Imagem obtida a 03 de Maio de 2013, pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

A superfície da Lua encontra-se crivada de estruturas de impacto com uma grande variedade de dimensões e morfologias. No entanto, apesar de serem tão diversas, os astrónomos usam estas duas características para agrupar as crateras lunares em três categorias básicas: crateras simples, crateras complexas e bacias multianelares. As primeiras são estruturas circulares em forma de taça, com menos de 10 a 15 quilómetros de diâmetro. As crateras complexas têm, geralmente, uma dimensão superior a 10 a 20 km, e exibem uma morfologia mais complicada, caracterizada pela presença de um pico central bem definido, chão plano e, por vezes, terraços resultantes do colapso da orla. As bacias multianelares são estruturas remanescentes dos impactos mais violentos alguma vez ocorridos na superfície lunar, e apresentam dimensões na ordem das centenas de quilómetros, e dois os mais anéis montanhosos concêntricos no seu interior.
Algumas crateras lunares possuem, porém, características tão bizarras que as deixam fora de qualquer uma destas categorias. É o caso da cratera da imagem de cima.

Visão oblíqua sobre a cratera da primeira imagem, obtida a 12 de Julho de 2012 pela Lunar Reconnaissance Orbiter.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Esculpida nos depósitos basálticos que preenchem o interior da Bacia Apollo, esta invulgar cratera com apenas 11,5 quilómetros de diâmetro possui dois anéis interiores concêntricos. Ainda não é inteiramente claro o mecanismo responsável pela formação destas estruturas; no entanto, uma das explicações possíveis poderá ser que no local de impacto existam múltiplas camadas estratigráficas com resistências distintas ao poder destrutivo da energia libertada pela colisão.
Podem ver o resto desta bela cratera em alta resolução aqui.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Imperium Solis no Facebook


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sábado, 18 de maio de 2013

Cientistas observam uma explosão brilhante na Lua


Explosão na superfície lunar detectada por investigadores da NASA a 17 de Março de 2013, pelas 03:50:55 (hora de Lisboa).
Crédito: NASA.

Investigadores da NASA testemunharam no passado mês de Março uma das mais brilhantes explosões alguma vez vista na Lua! A observação foi realizada no âmbito do programa de monitorização de impactos de meteoróides na superfície lunar, um programa que já permitiu a detecção de mais de 300 impactos nos últimos 8 anos.
"No dia 17 de Março de 2013, um objecto com o tamanho de um pequeno rochedo atingiu a superfície lunar, em Mare Imbrium", afirmou no site Science@NASA Bill Cooke do Meteoroid Environment Office da NASA. "Explodiu num clarão cerca de 10 vezes mais brilhante do que qualquer coisa que tenhamos visto antes".

Imagens em cores falsas mostrando a progressão da explosão. O seu brilho atingiu no seu ponto máximo uma magnitude 4.
Crédito: NASA.

Baseados na intensidade e duração do brilho da explosão, os cientistas estimam que o meteoróide teria entre 30 a 40 centímetros de diâmetro, e viajaria a uma velocidade aproximada de 90 mil quilómetros por hora. No momento do impacto, a pequena rocha espacial ter-se-á desintegrado com uma força de 5 toneladas de TNT, rasgando na superfície lunar uma cratera com um diâmetro que poderá atingir os 20 metros. Os controladores da missão Lunar Reconnaissance Orbiter foram, entretanto, notificados no sentido de procurarem esta pequena cratera na próxima vez que a sonda passar sobre o local do impacto.
Como a Lua não tem atmosfera, os meteoróides atingem a sua superfície na sua máxima força. O clarão observado no momento do impacto resulta não da combustão (pois não há oxigénio para a alimentar), mas sim do brilho da rocha fundida e dos vapores quentes produzidos pela total conversão da energia cinética do projéctil em energia térmica.
De acordo com os dados obtidos pelo programa da NASA mais de metade dos meteoros lunares têm origem em chuvas de meteoróides conhecidas, como por exemplo, as Perseidas ou as Leonidas. Os restantes são provocados pela queda de pedaços de cometas ou de fragmentos rochosos de proveniência desconhecida.

Meteoros lunares observados entre 2005 e 2013 pelo programa de monitorização de impactos de meteoróides da NASA. O impacto de 17 de Março está marcado a vermelho.
Crédito: NASA.

Bill Cooke acredita que o impacto lunar de 17 de Março poderá fazer parte de um evento mais alargado. "Na noite de 17 de Março, câmaras de monitorização da NASA e da Universidade do Ontário Ocidental detectaram um número invulgar de meteoros que penetraram até baixa altitude aqui na Terra", afirmou Cooke. "Estas bolas de fogo estavam a viajar ao longo de órbitas quase idênticas entre a Terra e a Cintura de Asteróides. A minha hipótese é que os dois eventos estão relacionados, e que tiveram origem num pequeno enxame de material, que terá encontrado o sistema Terra-Lua."
Se for este o caso, em Março do próximo ano, a Terra e a Lua voltarão a ser atingidas por meteoróides com características semelhantes, quando passarem pela mesma região do espaço. "Estaremos atentos a qualquer sinal de uma repetição destes fenómenos no próximo ano (...)" disse Cooke.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Descoberta bolsa de água com pelo menos mil milhões de anos!

Água saindo de uma fenda no chão da mina de Timmins, no Canadá. As bolhas visíveis na imagem contêm altas concentrações de hidrogénio e metano.
Crédito: J. Telling.

Uma equipa de investigadores liderada pelo geoquímico britânico Christopher Ballentine descobriu no Canadá uma bolsa de água isolada nas profundezas da crusta terrestre há pelo menos mil milhões de anos! O surpreendente achado aconteceu numa mina de cobre e zinco, situada a cerca de 2,4 quilómetros de profundidade, nas proximidades da pequena cidade de Timmins, no Ontario, numa secção do escudo pré-câmbrico canadiano formada por rochas com cerca de 2,7 mil milhões de anos.
Fluídos recolhidos em profundas fracturas nas minas de ouro na bacia de Witwatersrand, na África do Sul, tinham já fornecido aos cientistas fortes evidências de que os cratões continentais poderiam albergar bolsas de água com tempos de residência até 25 milhões de anos. Estes sistemas são particularmente fascinantes porque contêm concentrações muito elevadas de hidrogénio e metano, potenciais fontes de energia para comunidades de microrganismos quimioautotróficos.
Para calcularem a idade da bolsa de água, Ballentine e a sua equipa determinaram a composição isotópica dos gases nobres em amostras colhidas nalgumas das mais profundas fracturas da mina de Timmins. Os resultados mostram um excesso de isótopos 124Xe, 126Xe, 128Xe e 129Xe típico da atmosfera do Pré-Câmbrico, concentrações que sugerem um tempo mínimo de residência da água de 1,5 mil milhões anos. As concentrações de 129Xe encontradas nas amostras tiveram, provavelmente, origem em interacções da água com antigos sedimentos, ocorridas logo após a sua formação há pelo menos 2,64 mil milhões de anos. A equipa mediu, ainda, concentrações de gases nobres radiogénicos (4He, 21Ne, 40Ar, 136Xe) correspondentes a tempos médios de residência superiores a 1,14 mil milhões de anos.
De acordo com os autores deste trabalho, esta descoberta é "duplamente interessante", porque os fluídos analisados transportam consigo ingredientes necessários à vida. A equipa está agora a verificar se existem microrganismos a viver neste ambiente extremo. Caso sejam encontrados, a sua descoberta poderá ter implicações profundas na procura de vida em Marte. No passado, o planeta vermelho albergou na sua superfície água líquida, e as suas rochas são quimicamente semelhantes às da Terra, pelo que deverão existir, certamente, no interior da crusta marciana ambientes semelhantes aos observados nos sistemas de fracturas da mina de Timmins.
Podem ler mais sobre este trabalho aqui.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Mimas e Pandora sobre os anéis

As luas Mimas e Pandora alinhadas sobre os anéis de Saturno, numa composição em cores naturais construída com imagens obtidas pela sonda Cassini a 14 de Maio de 2013, através de filtros para o vermelho, o verde e o azul.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

Mimas e Pandora posaram anteontem para as câmaras da sonda Cassini. A equipa de imagem da missão tomou partido de um raro alinhamento entre as duas pequenas luas de Saturno e a sonda da NASA para registarem mais um belo momento na órbita do planeta. Mimas encontrava-se a 1,11 milhões de quilómetros de distância e exibia na sua face iluminada a cratera Herschel, uma impressionante estrutura com aproximadamente 130 quilómetros de diâmetro. A lua Pandora pairava um pouco mais distante, nas proximidades do anel F, visível na imagem como um fino traço logo acima do anel A.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Anel de fogo matutino

No passado dia 10 de Maio, observadores na Austrália e no Pacífico Central puderam testemunhar um espectacular eclipse solar, o primeiro dos dois previstos para 2013. Durante os últimos dias foram publicadas na internet magníficas imagens mostrando o belíssimo anel de fogo que iluminou terras australianas nas primeiras horas da manhã.
Hoje, o astrofotógrafo Colin Legg deu a conhecer um novo vídeo onde inclui imagens deste evento obtidas em Pilbara, na Austrália Ocidental. Vejam em baixo:


terça-feira, 14 de maio de 2013

Actividade solar em alta: três fulgurações classe-X em 24 horas!

Três fulgurações classe-X em 24 horas. Imagens obtidas a 13 e a 14 de Maio de 2013 pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory, através de um filtro para o ultravioleta extremo (131 Å).
Crédito: NASA/SDO.

O Sol atingiu nas últimas 48 horas níveis de actividade que contrastam radicalmente com a relativa calmaria dos últimos meses. Depois de 2 fortes fulgurações classe-X em menos de 15 horas, a região activa 1748 emitiu no início da madrugada passada uma terceira fulguração com um pico de intensidade em X3,2!
As três fulgurações estiveram associadas à libertação de ejecções de massa coronal e a distúrbios na ionosfera terrestre no lado diurno do planeta que temporariamente degradaram a normal propagação de ondas de rádio. Dados preliminares indicam que a última ejecção de massa coronal partiu da superfície solar a uma velocidade de 2.250 quilómetros por segundo! De acordo com os modelos de previsão do NOAA, a nuvem de plasma deverá combinar-se com as outras duas produzidas pelas anteriores fulgurações, antes de atingir directamente a sonda EPOXI e os observatórios espaciais Spitzer e STEREO-B. Os responsáveis das missões foram, entretanto, notificados para procederem às medidas de segurança adequadas à protecção dos seus valiosos instrumentos.
A actividade solar deverá manter-se em alta até pelo menos o final da semana, com a possibilidade da ocorrência de novos eventos semelhantes. Neste momento, o disco solar exibe 8 regiões activas numeradas, sendo que a que requer mais atenção continua a ser a região 1748. Vamos aguardar por novidades nos próximos dias.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Duas fulgurações classe-X num só dia!

Fulguração classe-X2,8 desta tarde vista pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory, através de um filtro para o ultravioleta extremo (131 Å).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

Passavam alguns minutos das 17 horas (hora de Lisboa) quando o Sol produziu uma segunda fulguração classe-X, mais intensa que a ocorrida apenas 14 horas antes. O fenómeno teve origem na mesma região, entretanto designada AR1748, e foi a terceira maior fulguração do actual ciclo solar. Ambas as explosões arremessaram duas brilhantes ejecções de massa coronal no espaço, numa direcção que, aparentemente, as levará para longe de qualquer planeta.

Sol produz a mais intensa fulguração deste ano

Fulguração classe X1,7 vista a 13 de Maio de 2013 pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory, através de filtros para o ultravioleta extremo (131, 193, 304 e 335 Å).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium/montagem de Sérgio Paulino.

O Sol produziu na madrugada passada a primeira fulguração classe-X deste ano! O fenómeno teve origem numa região activa ainda não numerada, localizada no extremo nordeste do disco solar. Imagens obtidas pelo coronógrafo C2 do SOHO mostram uma brilhante ejecção de massa coronal a emergir do local da erupção. Estiveram ainda associados a este evento um surto de pequenos bloqueios nas comunicações rádio no hemisfério diurno, e uma chuva de partículas energéticas detectada pelo observatório STEREO-B. Dados preliminares sugerem que a ejecção de massa coronal não produzirá qualquer efeito significativo na magnetosfera terrestre.

domingo, 12 de maio de 2013

Space Oddity: a despedida do comandante Chris Hadfield

Chris Hadfield despede-se amanhã da Estação Espacial Internacional, mas antes deixa um presente memorável para o mundo: o primeiro vídeo musical a ser gravado a partir da órbita terrestre! Aqui têm Space Oddity de David Bowie, pela voz e guitarra do comandante da Expedição 35.


sábado, 11 de maio de 2013

Um mini-jacto no anel F de Saturno

Anel F de Saturno visto pela sonda Cassini a 06 de Maio de 2013.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Na segunda-feira passada, a sonda Cassini esteve ocupada a observar as diferentes estruturas criadas no anel F de Saturno pela interacção gravitacional entre as partículas anulares e a pequena lua Prometeu. Na imagem de cima é possível distinguir uma dessas estruturas, um aglomerado de partículas conhecido entre os cientistas da missão por mini-jacto. Podem ler mais sobre estas curiosas formações aqui.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A estranha anomalia dos 12,5 quilómetros

Eram 03:06 (hora de Lisboa) do dia 11 de Junho de 1985 quando o centro de controlo soviético do programaVega recebeu a confirmação da entrada do módulo de aterragem da sonda Vega 1 na atmosfera de Vénus. Depois de uma rápida desaceleração de uns estonteantes 10,75 km.s-1 para uma velocidade subsónica, o módulo de 750 kg de massa libertou-se do seu último pára-quedas a uma altitude aproximada de 47 km, mergulhando numa queda livre apenas amparada pela esmagadora pressão da atmosfera do planeta.
Subitamente, a cerca de 18 km da superfície, os sistemas vitais da sonda foram atingidos por uma série de sobretensões, acompanhadas de fortes flutuações nos dados de telemetria, e de um enigmático pico nas leituras do espectrómetro de absorção ISAV-S, um instrumento concebido para estudar a composição química das nuvens venusianas. O choque foi de tal forma violento que provocou uma momentânea ascensão do módulo de aterragem a uma velocidade aproximada de 30 metros por segundo! Este inesperado movimento teve como consequência a activação prematura dos instrumentos destinados à recolha e análise de amostras de rocha na superfície do planeta, o que condenou a principal experiência científica da missão a um amargo insucesso.

Réplica do módulo de aterragem das sondas Vega 1 e 2.
Crédito: NASA.

Infelizmente, este enigmático acontecimento não era novidade para os cientistas. As sondas soviéticas Venera 11, 12, 13 e 14 sentiram distúrbios eléctricos semelhantes a altitudes entre os 12 e os 18 km, e as quatro sondas atmosféricas da missão americana Pioneer Venus sofreram igualmente violentas sobretensões a cerca de 12 km de distância da superfície, fenómenos que provocariam avarias fatais em grande parte dos seus instrumentos. Tais falhas inexplicáveis viriam a ser conhecidas por "anomalia dos 12,5 quilómetros".
Qual seria a explicação para tão enigmáticos acontecimentos?
A resposta está, provavelmente, nas imagens de radar da superfície de Vénus, obtidas pelas sondas americanas Pioneer Venus e Magellan. Ambas as missões detectaram estranhos padrões brilhantes em todas as áreas situadas 3,5 quilómetros acima do datum geodésico do planeta (o equivalente ao nível do mar na Terra). No radar, tais reflexos brilhantes correspondem, geralmente, a superfícies irregulares; no entanto, em Vénus, os padrões brilhantes cobrem todo o tipo de elevações, desde as montanhas mais acidentadas até ao mais suave planalto.

Maxwell Montes, a maior montanha de Vénus (cerca de 11 quilómetros acima do raio médio do planeta), numa imagem de radar obtida pela sonda Magellan. São notórios os padrões brilhantes cobrindo as regiões mais elevadas da montanha.
Crédito: NASA/JPL.

Em Vénus, tal como na Terra, as temperaturas diminuem progressivamente com a altitude. Apesar das terras baixas venusianas registarem temperaturas que rondam uns infernais 467º C, os pontos mais elevados do planeta arrefecem consideravelmente, atingindo valores próximos dos 387º C. Tais temperaturas são suficientemente baixas para permitirem a condensação de metais voláteis específicos, vaporizados nas escaldantes planícies situadas mais abaixo, pelo que os cientistas sugerem que as invulgares propriedades reflectivas das terras altas de Vénus poderão ser facilmente explicadas pela ocorrência de nevões de compostos metálicos semi-condutores nestas regiões. Até agora, os candidatos mais prováveis são os sulfuretos de chumbo (Pb) e/ou bismuto (Bi); porém, é possível que se formem outros condensados exóticos contendo elementos como o cobre (Cu), a prata (Ag), o arsénio (As) e o antimónio (Sb). Esta neblina metálica condensaria facilmente sobre as superfícies exteriores das sondas soviéticas e americanas durante a sua passagem pelas camadas inferiores da atmosfera venusiana, pelo que é possível que tenha sido esta a causa dos distúrbios observados entre os 12 e os 18 quilómetros de altitude.
Podem ler mais sobre a bizarra neve metálica de Vénus aqui e aqui.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Cratera marciana recebe nome de vila cabo-verdiana

Cratera Tarrafal vista pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter a 15 de Abril de 2012.
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

A União Internacional Astronómica aprovou ontem o nome da vila costeira cabo-verdiana do Tarrafal para uma cratera marciana. Com apenas 4,89 quilómetros de diâmetro, a pequena estrutura situa-se junto ao extremo norte de Mawrth Vallis, na transição entre os terrenos antigos de Arabia Terra e a bacia de impacto fortemente erodida de Chryse Planitia.

sábado, 4 de maio de 2013

Sol produz duas intensas fulgurações quase em simultâneo

Fulguração classe-M5 vista ontem pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory, através de um filtro para o ultravioleta extremo (131 Å).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

O Sol produziu ontem, ao final da tarde, duas fortes fulgurações quase em simultâneo. A primeira foi um evento classe-M1 com origem na região activa 1731, uma região que tem mantido nos últimos dias um campo magnético classe delta instável com energia para fortes fulgurações. A segunda foi um evento classe-M5 produzido pela região 1739, a mesma responsável pela violenta erupção da passada quarta-feira.
Imagens obtidas pelo Solar Dynamics Observatory mostram uma gigantesca pluma de plasma quente a ser arremessada do local. Os dados até agora disponíveis indicam que esta ejecção de massa coronal não encontrará a Terra no seu caminho, pelo que não se esperam quaisquer efeitos significativos na actividade geomagnética.


Ejecção de uma pluma de plasma quente associada à fulguração classe-M, ocorrida no dia 3 de Maio de 2013 na região activa 1739. Imagens obtidas pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory, através de um filtro para o ultravioleta extremo (304 Å).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium/Helioviewer.org.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Erupção solar no dia do trabalhador

Maio teve início com um espectacular fenómeno no extremo leste do disco solar. Vejam o vídeo em baixo:


Na madrugada do dia 1 de Maio, uma região activa ainda não numerada produziu uma violenta erupção, lançando uma gigantesca onda de plasma no espaço. Imagens obtidas pelos coronógrafos dos dois observatórios STEREO confirmam que a ejecção de massa coronal emergiu do local da erupção, a uma velocidade superior a 1,5 milhões de quilómetros por hora. A Terra não se encontra na linha de fogo, pelo que não são esperados efeitos significativos na actividade geomagnética.

Ejecção de massa coronal do dia 1 de Maio vista pelo Solar Dynamics Observatory na banda do ultravioleta extremo (304 Å), e pelos dois coronógrafos do SOHO (nas imagens o círculo branco representa os limites do Sol).
Crédito: NASA/ESA.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Calor cega observatório espacial europeu Herschel

Representação artística do observatório Herschel com uma imagem da Vela C como pano de fundo.
Crédito: ESA/Consórcios PACS e SPIRE/T. Hill/F. Motte/Laboratoire AIM Paris-Saclay/CEA/IRFU – CNRS/INSU – Uni. Paris Diderot/HOBYS.

O observatório espacial europeu Herschel esgotou anteontem a sua reserva de hélio líquido, um fluído refrigerante que permitiu aos seus três instrumentos científicos perscrutar regiões muito frias do Universo. Este era já um desfecho esperado para uma das mais bem sucedidas missões da ESA. Lançado a 14 de Maio de 2009, o observatório transportava mais de 2.300 litros de hélio líquido, um suprimento que foi evaporando lentamente até se esgotar ao fim de quase quatro anos.
De acordo com a ESA, as observações do Herschel excederam todas as expectativas. Os dados recolhidos pela missão permitiram aos cientistas aprenderem mais sobre a formação das estrelas, a frequência com que se formam em galáxias distantes, e a origem e presença de água em diferentes corpos celestes. Apesar das observações terem cessado definitivamente, a produção científica da missão não está esgotada. A imensidão de imagens e de espectros obtidos pelo observatório que se encontra ainda por explorar, será certamente terreno fértil para novas e importantes descobertas.
O Herschel era o mais poderoso telescópio de infravermelhos alguma vez construído. Os seus instrumentos eram sensíveis a radiação electromagnética nas bandas do infravermelho distante e submilimétricas, o que lhes permitia observar regiões do Universo muito frias (entre os -268 e os -223ºC) com grande sensibilidade.

Representação artística de uma galáxia com intensa formação de estrelas, alimentada por um fluxo de gás intergaláctico.
Crédito: ESA–AOES Medialab.

O objectivo principal do Herschel era o estudo da formação de estrelas ao longo da história do Universo, pelo que os astrónomos o usaram principalmente para monitorizar milhares de galáxias espalhadas pelo cosmos. Estes dados revelaram que nos primeiros milhares de milhões de anos após o nascimento do Universo, as galáxias produziam muito mais estrelas que o estimado a partir de observações realizadas a comprimentos de onda mais curtos e mais longos que aqueles a que o observatório da ESA era sensível. Estudos anteriores sugeriam, também, que as elevadas taxas de formação de estrelas em galáxias no passado eram resultantes de fenómenos episódicos, como por exemplo os intensos surtos de formação de estrelas provocados pela colisão de galáxias. As observações realizadas pelo Herschel fizeram os astrónomos repensar esta questão. "Os dados do Herschel sugerem que a colisão de galáxias poderá não ser um requisito para gerar a intensa formação de estrelas, como se pensava anteriormente, afirmou à ESA um dos cientistas da missão Göran Pilbratt. "O ponto crucial parece ser a disponibilidade de gás suficiente para a produção de estrelas. Galáxias com intensa formação de estrelas poderão ser alimentadas, não só, por outras ricas em gás, mas também por outros processos, como os fluxos de gás frio intergaláctico. A questão mantém-se em aberto; no entanto, a solução poderá vir a ser encontrada em novas análises dos dados do Herschel, em conjunto com a contínua monitorização destas galáxias com outros observatórios." Simulações numéricas baseadas nos dados do Herschel sugerem que estas galáxias prolíficas apenas se podem formar nos mais densos nós da rede cósmica de matéria negra, tipicamente naqueles com uma massa superior a 300 mil milhões de vezes a massa do Sol.
As alterações nas taxas de formação de estrelas ao longo do tempo poderão estar ligadas aos buracos negros supermassivos que se pensa existirem no centro da maioria das galáxias. A pressão da radiação criada pela acreção de material em torno destas surpreendentes estruturas desencadeia um fluxo de material para longe do centro da galáxia, o que poderá esgotar as reservas de gás e, assim, impedir o nascimento de estrelas. "Através da monitorização de um conjunto de galáxias activas próximas, detectámos pela primeira vez um fluxo de gás para longe do centro galáctico, que é de natureza molecular", comentou Albrecht Poglitsch, cientista do Instituto Max-Planck, na Alemanha, e investigador principal do instrumento PACS (Photodetector Array Camera and Spectrometer) do Herschel. "Isto mostra-nos que estes fluxos podem, de facto, esgotar as reservas de gás de uma galáxia ao ponto de a impedir de formar estrelas, pois as estrelas são produzidas a partir de gás molecular".

Nuvem IC 5146 vista pelo Herschel.
Crédito:ESA/Herschel/SPIRE/PACS/D. Arzoumanian (CEA Saclay).

Na nossa Galáxia, as observações do Herschel desvendaram revelações extraordinárias sobre os processos físicos que estão na base do nascimento das estrelas. O observatório da ESA identificou a presença de uma rede filamentosa de gás que se infiltra no meio interestelar por quase todo o plano galáctico, e que aparenta estar associada à formação de estrelas. "Esperávamos que existissem filamentos no meio interestelar; porém o Herschel deu-nos finalmente a prova de que eles são omnipresentes, e de que são a chave que permite a ocorrência da formação de estrelas", disse o investigador principal do instrumento SPIRE (Spectral and Photometric Imaging Receiver) Matt Griffin. "Os belos detalhes das imagens do Herschel mostram como algumas nuvens desenvolveram filamentos de tal forma densos que estão a colapsar sobre o seu próprio peso, e a iniciar a formação de estrelas, enquanto outras nuvens exibem um emaranhado mais caótico de filamentos mais ténues (...)." A emergência dos filamentos e o seu subsequente colapso poderão estar também relacionados com os campos magnéticos das nuvens interestelares, pelo que os resultados da missão Herschel irão certamente estimular novos trabalhos científicos nesta área.
No campo da formação dos planetas, o observatório da ESA deu um contributo inestimável. O Herschel fotografou um impressionante disco de detritos em redor da estrela Fomalhaut, uma estrutura com características que fazem recordar a Cintura de Kuiper nos primeiros tempos de vida do nosso Sistema Solar. Discos semelhantes foram detectados em outras estrelas próximas, algumas com planetas em seu redor. Um exame mais detalhado a estes dados sugere que estas estruturas poderão sobreviver mais facilmente em sistemas planetários sem planetas massivos como Júpiter. "O estudo dos discos de detritos extra-solares dá-nos novas pistas acerca da formação dos sistemas planetários, e poderá eventualmente ajudar-nos a alcançar uma visão mais completa de como o nosso Sistema Solar se formou e evoluiu a partir da sua nuvem interestelar" afirmou Albrecht Poglitsch.

Disco de detritos em redor da estrela Fomalhaut visto pelo Herschel.
Crédito: ESA/Herschel/PACS/Bram Acke.

Outro foco da missão Herschel foi o estudo da composição química de uma variedade de objectos, em particular da origem e presença de água em diversos ambientes. Estudos baseados nos dados do observatório espacial europeu indicam que o núcleo frio da vasta nuvem molecular do Touro abriga um reservatório de gelo de água correspondente a alguns milhões de vezes o volume de água armazenado nos oceanos terrestres. O Herschel observou, ainda, quantidades de vapor de água equivalentes a vários milhares de vezes o volume de água dos oceanos do nosso planeta, no disco protoplanetário da estrela TW Hydrae. "Estes resultados mostram que existe imensa água disponível para enriquecer a superfície de futuros planetas, caso se formem em discos semelhantes em redor de outras estrelas" afirmou Frank Helmich, investigador principal do instrumento HIFI (Heterodyne Instrument for the Far Infrared) do Herschel.
O observatório da ESA contribuiu, ainda, para o debate acerca da origem da água no Sistema Solar, e na Terra em particular. A maioria dos astrónomos aceita que a água dos oceanos terrestres terá sido trazida por asteróides e cometas, logo após a formação do nosso planeta. Os asteróides eram considerados a origem principal da água terrestre, mas a balança tendeu para os cometas quando o Herschel detectou água no cometa 103P/Hartley 2 com a mesma composição isotópica da água dos oceanos terrestres. Observações posteriores do cometa C/2009 P1 Garradd levaram à descoberta de uma composição isotópica diferente, pelo que o papel dos cometas na chegada da água à Terra continua incerto.
Mais recentemente, o Herschel esclareceu a origem da água detectada em 1995 pelo ISO (Observatório Espacial em Infravermelho) na atmosfera superior de Júpiter. Observações realizadas pelo observatório espacial europeu mostram que a água da estratosfera joviana se encontra concentrada no hemisfério sul do planeta, em particular nos locais onde os fragmentos do cometa Shoemaker-Levy 9 colidiram em 1994, uma ligação óbvia entre este evento e a presença de água nesta região da atmosfera do gigante.
Até agora, os dados do Herschel deram origem a mais de 600 artigos científicos, publicados em revistas conceituadas com revisão por pares. O observatório vai agora ser transferido da sua posição em L2 do sistema Terra-Sol para uma órbita estável em redor do Sol, onde permanecerá para sempre.