sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Yutu completa primeira fase da sua jornada na superfície da Lua

O robot chinês Yutu visto pela Chang'E-3, a 22 de Dezembro de 2013.
Crédito: CNSA.

Começou a tão aguardada viagem do pequeno explorador lunar Yutu nas vastas planícies basálticas de Mare Imbrium. No dia 20 de Dezembro, o robot chinês acordou de uma pequena "sesta" de alguns dias e moveu-se em redor da Chang'E-3 para completar uma última sessão fotográfica envolvendo os dois veículos.

A sonda Chang'E-3 numa imagem obtida pelo robot Yutu, no passado fim-de-semana.
Crédito: CNSA.

"Até agora foram obtidas dez fotografias em cinco pontos distintos, e todas elas ultrapassam as nossas expectativas", afirmou no passado Domingo à CCTV Wu Weiren, responsável do programa Chang'E. "O rover moveu-se num semicírculo em redor do veículo de alunagem. Mais tarde, os dois irão dar início à exploração científica da geografia e da geomorfologia do local de alunagem e áreas vizinhas, e de materiais, como minerais e elementos, que aí poderão ser encontrados. Iremos também explorar áreas 30 a 100 metros abaixo do solo lunar. A exploração será mais longa do que tínhamos planeado, porque todos os instrumentos e equipamentos estão a funcionar muito bem."

Rota seguida pelo robot Yutu desde a sua chegada à superfície da Lua, a 14 de Dezembro de 2013.
Crédito: CNSA/NASA/GSFC/ASU/Phil Stooke.

No Domingo, o Yutu abandonou definitivamente o local de alunagem, embarcando numa curta jornada de 18 metros em direcção a sul. A viagem foi, entretanto, interrompida, devido à chegada da longa noite lunar.

De acordo com a agência noticiosa Xinhua, anteontem, ambos os veículos entraram em hibernação, devendo ser reactivados dentro de 12 dias, quando o Sol surgir acima do horizonte. Esta segunda paragem é motivada não só pela falta de luz solar, mas também pelas baixíssimas temperaturas que assolam o local de alunagem durante a noite, temperaturas que deverão ser inferiores a -180 ºC.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Hubble procura... mas não encontra qualquer sinal do cometa ISON

Na passada quarta-feira, o telescópio espacial Hubble tentou observar pela última vez o cometa ISON. As imagens que obteve são esclarecedoras. Como muitos esperavam, o Hubble não detectou qualquer vestígio do núcleo do ISON, o que sugere que o cometa se desintegrou completamente durante a sua recente passagem pelo periélio.

Quatro observações realizadas a 18 de Dezembro de 2013, pelo telescópio espacial Hubble, na direcção onde os astrónomos esperariam encontrar o cometa ISON. Cada imagem resulta da combinação de duas exposições distintas. Caso fosse visível, o cometa apareceria no centro de cada imagem sob a forma de um objecto difuso.
Crédito: NASA/ESA.

Como o cometa não voltou a ser observado depois da sua passagem junto ao Sol, persistiam algumas incertezas quanto à sua localização. Para garantir que o ISON seria detectado pelo Hubble, o astrónomo Hal Weaver, mentor da estratégia de busca do cometa, planeou as observações em duas posições distintas, calculadas de acordo com medições realizadas quando o ISON se encontrava ainda visível.

Composições de diversas exposições obtidas pelo Hubble em duas posições distintas, processadas de forma a remover objectos que não se repitam nas diferentes exposições. Não é visível qualquer sinal do cometa ISON (apenas estão presentes rastos subtis de estrelas e artefactos produzidos no interior da câmara pela luz das estrelas mais brilhantes).
Crédito: NASA/ESA.

De acordo com Weaver, estas observações teriam sensibilidade suficiente para detectar objectos com um brilho até à magnitude 25. Este limite implica que qualquer fragmento sobrevivente não deverá ter agora mais que 160 metros de diâmetro.

Embora não se possa excluir, definitivamente, a possibilidade de ainda existirem pedaços do cometa à deriva no espaço, estes são certamente muitos pequenos para serem detectados pelo Hubble. Outrora um belíssimo objecto numa primeira visita ao Sistema Solar interior, o ISON não é, agora, mais que uma vasta nuvem de gás e poeira, ponteada por minúsculos fragmentos.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Solstício de Inverno 2013

Solarografia de solstício a solstício, obtida em 2013, em Zierikzee, na Holanda (vejam mais pormenores sobre esta técnica aqui).
Crédito: Jan Koeman.

Hoje, pelas 17:11 (hora de Lisboa), o Sol atingirá a sua mínima declinação na esfera celeste. Este instante assinala o início do Inverno no Hemisfério Norte, uma estação que se prolongará por 88,99 dias, até ao próximo Equinócio, que ocorrerá no dia 20 de Março de 2013, pelas 16:57 (hora de Lisboa).

Em Astronomia, os Solstícios correspondem aos momentos em que o Sol atinge, no seu movimento anual aparente pelo céu, um dos dois pontos mais afastados do equador celeste. A palavra tem origem latina (Solstitium) e está associada à ideia de que o Sol fica estacionário ao atingir essas posições.

ESA lança ambiciosa missão de mapeamento da Via Láctea

Lançamento da missão europeia Gaia, a 19 de Dezembro de 2013.
Crédito: ESA/S. Corvaja.

Foi lançado anteontem, pelas 09:12 (hora de Lisboa), a partir do porto espacial europeu, em Kourou, na Guiana Francesa, um foguetão Soyuz VS06 transportando o observatório espacial Gaia, uma ambiciosa missão da ESA que irá estudar durante 5 anos mais de mil milhões de estrelas.

Equipado com uma câmara CCD com mil milhões de pixels, Gaia é o telescópio mais sensível alguma vez enviado para o espaço. A sua missão tem como objectivo principal a criação do mapa mais preciso de sempre da Via Láctea. Partindo de medições precisas da posição e movimento de 1% da população total de aproximadamente 100 mil milhões de estrelas, Gaia irá responder a questões fundamentais acerca da origem e evolução da nossa galáxia.



A separação dos três primeiros andares do foguetão ocorreu sem quaisquer problemas. O módulo superior Fregat accionou o seu propulsor cerca de 10 minutos após o lançamento, colocando o observatório europeu numa órbita temporária a uma altitude de 175 km. 11 minutos depois foi realizada uma segunda queima, o que impulsionou Gaia até à órbita de transferência. Esta manobra foi seguida da separação do módulo Fregat, cerca de 42 minutos após a descolagem.

A activação dos sistemas do observatório ocorreu logo após a aquisição da telemetria e do controlo de altitude pelos controladores da missão, no centro de operações em Darmstadt, na Alemanha. O escudo solar que mantém Gaia na temperatura ideal de funcionamento, e onde se encontram os painéis solares que alimentam os seus instrumentos, foi aberto numa sequência automática de 10 minutos, manobra que terminou cerca de 88 minutos após o lançamento.

Neste momento, Gaia encontra-se numa trajectória que a levará até uma órbita Lissajous em torno do ponto L2 do Sistema Sol-Terra, um ponto de estabilidade gravitacional situado a 1,5 milhões de quilómetros de distancia da Terra. Os engenheiros da missão realizaram ontem a primeira de duas manobras de correcção de trajectória. A segunda manobra ocorrerá dentro de 19 dias, e encaminhará Gaia até à sua órbita operacional em L2.



A fase científica da missão terá início dentro de 4 meses, quando todos os sistemas e instrumentos estiverem devidamente ligados e calibrados. Os seus sofisticados instrumentos científicos serão mantidos durante toda a missão num ambiente estável, protegido pelo escudo solar da luz e do calor do Sol e da Terra.

"A missão Gaia segue o legado da primeira missão de mapeamento de estrelas da ESA, a missão Hipparcos, lançada em 1989, para revelar a história da galáxia onde vivemos", afirma Jean-Jacques Dordain, director-geral da ESA. "É graças à perícia da indústria espacial e da comunidade científica da Europa, que esta missão está agora a caminho de fazer descobertas revolucionárias sobre a nossa Via Láctea."

Gaia irá examinar a esfera celeste repetidamente. Em média, cada estrela será observada 70 vezes ao longo dos 5 anos de missão. Os instrumentos de Gaia irão medir a posição e as principais propriedades físicas de cada estrela, incluindo o seu brilho, temperatura e composição química.

Tirando partido das mudanças de perspectiva proporcionadas pela sua órbita em redor do Sol, Gaia irá medir a distância a que se encontram as estrelas. Ao observá-las ao longo de toda a missão, o observatório irá registar, ainda, o seu movimento próprio no céu. Estes dados, em conjunto com as propriedades de cada estrela, providenciarão aos cientistas ferramentas essenciais para construírem a "árvore genealógica" da nossa galáxia.

Representação artística do observatório Gaia, com a Via Láctea como pano de fundo.
Crédito: ESA/ATG medialab (imagem de fundo: ESO/S. Brunier).

Os movimentos das estrelas poderão ser "rebobinados" de forma a desvendarem mais acerca da sua origem, e de como foi construída a Via Láctea ao longo de milhares de milhões de anos, a partir da fusão de galáxias mais pequenas. Os mesmos dados poderão ser também usados para avançar rapidamente as trajectórias das estrelas, de forma a mostrarem o seu destino final.

"Gaia representa um sonho para os astrónomos ao longo da história, desde as observações pioneiras do astrónomo grego da antiguidade Hiparcos, que catalogou a posição relativa de cerca de mil estrelas, apenas com observações a olho nu e geometria simples", diz Alvaro Giménez, director da Ciência e Exploração Robótica da ESA. "Mais de 2.000 mil anos depois, Gaia irá não só produzir um censo estelar sem rival, como também terá o potencial para desvendar novos asteróides, planetas e estrelas em fim de vida."

Através da comparação de repetidas observações do céu, Gaia irá descobrir, ainda, dezenas de milhares de supernovas, bem como, revelar a presença de planetas na órbita de estrelas distantes, através da detecção de oscilações periódicas na sua posição. O observatório europeu irá também revelar novos asteróides no Sistema Solar, aperfeiçoar os parâmetros orbitais dos asteróides já conhecidos, e realizar testes precisos à Teoria Geral da Relatividade de Einstein.

A missão deverá reunir em 5 anos mais de 1 Petabyte de dados (aproximadamente, 1 milhão de Gigabytes), o equivalente a 200 mil DVD de dados. A tarefa de processar e analisar esta montanha de dados ficará a cargo do Consórcio de Processamento e Análise de Dados da missão Gaia, que envolverá mais de 400 pessoas em instituições científicas em toda a Europa.

"Enquanto a Hipparcos catalogou 120 mil estrelas, Gaia irá examinar quase 10 mil vezes esse valor, e com uma precisão aproximadamente 40 vezes superior", afirma Timo Prusti, cientista da missão Gaia. "Em conjunto com dezenas de milhares de outros objectos [...], este vasto tesouro irá dar-nos uma nova visão da nossa vizinhança cósmica e da sua história, o que nos permitirá explorar as propriedades fundamentais do nosso Sistema Solar e da Via Láctea, bem como o nosso lugar no Universo mais abrangente."

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

LRO observa uma nova cratera na Lua

Jovem cratera fotografada recentemente pela Lunar Reconnaissance Orbiter, em quatro condições de iluminação distintas.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Cientistas da NASA observaram no passado dia 17 de Março uma das mais brilhantes explosões alguma vez registadas na superfície da Lua. A intensidade e duração do flash de luz sugeriam que o fenómeno teria sido produzido pelo impacto de um meteoróide com cerca de 40 centímetros de diâmetro, viajando a uma velocidade de 90 mil quilómetros por hora, pelo que a cratera formada não deveria ter mais de 20 metros de diâmetro.

11 dias depois, a sonda Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO) sobrevoou o local e... adivinhem? Na mesma área onde tinha sido observada a explosão, encontrava-se uma cratera com um aspecto muito fresco, com 18 metros de diâmetro. Uma comparação entre imagens obtidas antes e depois da explosão confirmou que esta era, de facto, uma das mais jovens crateras observadas pela sonda da NASA.

Comparação entre duas imagens obtidas no local onde se deu o evento de 17 de Março. A primeira data de 12 de Fevereiro de 2012, mais de um ano antes da explosão. A segunda foi obtida a 28 de Julho de 2013 e mostra uma cratera recém-formada com 18 metros de diâmetro.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

A pequena cratera localiza-se no sul de Mare Imbrium, a oeste da cratera Pytheas, e é apenas uma das centenas de recentes alterações observadas pelas câmaras da LRO na superfície da Lua. A equipa da missão tem procurado, de forma sistemática, nos seus arquivos, novas imagens que lhes permitam detectar mais estruturas como esta. Os resultados obtidos até agora foram apresentados na Reunião de Outono da União Americana de Geofísica, que decorreu na semana passada, em São Francisco, nos EUA.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

China concretiza a primeira alunagem do século XXI!

O robot chinês Yutu na superfície da Lua.
Crédito: CNSA/CCTV.

A China alcançou no passado Sábado um momento histórico no seu programa espacial. Eram 13:11 (hora de Lisboa) quando a sonda chinesa Chang'E-3 poisou na superfície lunar, concretizando assim a primeira alunagem suave dos últimos 37 anos.

A descida até à superfície da Lua foi realizada cerca de meia hora antes do previsto, pelo que a Chang'E-3 poisou a leste do local programado. De acordo com a equipa de imagem da missão Lunar Reconnaissance Orbiter, a alunagem ocorreu na porção noroeste de Mare Imbrium, numa área muito perto da fronteira entre dois tipos de basaltos - um rico em titânio e o outro com baixas concentrações deste elemento.

Local de alunagem da sonda chinesa Chang'E-3 (centro), numa imagem obtida a 15 de Julho de 2009, pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

O robot Yutu tocou na superfície lunar aproximadamente 7 horas após a alunagem da Chang'E-3. As primeiras imagens foram enviadas pouco depois, e mostram um local rico em potenciais alvos científicos. O pequeno robot chinês deverá começar hoje a explorar a paisagem em seu redor.

Vejam em baixo este espectacular vídeo mostrando a descida da Chang'E-3 até às planícies basálticas de Mare Imbrium:


domingo, 15 de dezembro de 2013

NASA divulga um novo mapa da região do pólo norte de Titã

A mais completa visão sobre a região do pólo norte de Titã, num mosaico colorido construído com imagens obtidas pelo radar da sonda Cassini entre 2004 e 2013.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/ASI/USGS.

A equipa da missão Cassini divulgou na semana passada, na Conferência de Outono da União Americana de Geofísica, em São Francisco, um novo mapa das regiões mais setentrionais da lua Titã. Construído com imagens obtidas pelo radar da sonda da NASA, o novo mapa inclui todos os mares e a maioria dos grandes lagos que povoam esta região, num detalhe nunca antes alcançado.

"A aprendizagem acerca de estruturas da superfície, como lagos e mares, ajuda-nos a compreender como os líquidos, sólidos e gases de Titã interagem entre si para fazerem com que esta lua tenha uma aparência tão próxima à da Terra", afirma Steve Wall, líder da equipa responsável pelo radar da Cassini. "Embora estes dois mundos não sejam exactamente iguais, à medida que obtemos novas imagens, estas estruturas mostra-nos mais e mais processos [geológicos] semelhantes aos terrestres."

As novas imagens revelam que Kraken Mare é mais extenso e complexo que o assumido anteriormente. As imagens mostram, ainda, que quase todos os mares e lagos de Titã se encontram confinados numa área com somente 900 por 1.800 km. Apenas 3% da superfície líquida de Titã se localiza no exterior desta área.



"Os cientistas têm-se questionado porque se encontram os lagos de Titã no sítio onde estão", diz Randolph Kirk, um dos membros da equipa do radar da Cassini. "Estas imagens mostram-nos que o leito rochoso e a geologia criaram, certamente, no interior deste rectângulo, um ambiente particularmente convidativo para os lagos."

A equipa aplicou, ainda, de forma inovadora, um método anteriormente usado na análise de dados obtidos em Marte, para determinar, pela primeira vez, a profundidade de um mar ou lago de Titã. Baseados nesta nova análise, os cientistas conseguiram medir uma profundidade de cerca de 170 metros em Ligeia Mare, a segunda maior superfície líquida da lua de Saturno. Esta descoberta só foi possível porque o líquido é bastante puro, permitindo a passagem do sinal de radar até ao leito marinho. A superfície de Ligeia Mare deverá ser tão lisa quanto a pintura de um automóvel, pelo que provoca interferências mínimas no radar. Estes novos resultados indicam que Ligeia Mare deverá ser constituído predominantemente por metano, com uma pequena fracção de etano.

Podem assistir à apresentação destes resultados na Conferência de Outono de 2013 da União Americana de Geofísica aqui.

Hubble descobre jactos de vapor de água no pólo sul de Europa

Sobreposição na mesma escala de uma imagem em ultravioleta dos jactos de vapor de água europeanos sobre uma imagem real em luz visível de Europa e Júpiter.
Crédito: NASA/ESA/M. Kornmesser.

Cientistas anunciaram na semana passada a descoberta de jactos de vapor de água na região do pólo sul de Europa. Usando o telescópio espacial Hubble, a equipa liderada por Lorenz Roth do Southwest Research Institute, em San Antonio, nos EUA, observou as emissões ultravioletas do vapor de água pairando acima do hemisfério sul da lua de Júpiter, providenciando assim as primeiras evidências directas da presença de gêiseres na superfície europeana.

Observações realizadas pelas missões Voyager e Galileo tinham já sugerido a presença de um oceano líquido global debaixo da crusta gelada de Europa, o que tornou a lua joviana num dos principais alvos na busca por mundos potencialmente habitáveis além da Terra." A descoberta de que vapor de água é ejectado nas proximidades do pólo sul fortalece a posição de Europa como candidato de topo para uma potencial habitabilidade", afirma Roth. "No entanto, não sabemos ainda se estes jactos estão ou não ligados à água subsuperficial."

Esta descoberta torna Europa na segunda lua conhecida no Sistema Solar com gêiseres de vapor de água na sua superfície. Em 2005, a Cassini tinha já detectado estruturas semelhantes na região do pólo sul da lua saturniana Encélado.

Gêiseres na região do pólo sul de Encélado. O arco brilhante visível abaixo da pequena lua é formado pelas camadas superiores da atmosfera saturniana iluminadas pela luz solar. Imagem obtida pela sonda Cassini a 13 de Agosto de 2010.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Os gêiseres europeanos foram identificados a partir de dados recolhidos pelo Hubble em Dezembro de 2012. Observações realizadas pelo instrumento Space Telescope Imaging Spectrograph (STIS) permitiram a detecção de fracas emissões ultravioletas provenientes de uma aurora no pólo sul de Europa. As auroras de Europa são criadas pelo intenso campo magnético de Júpiter. À medida que a lua viaja na sua órbita, partículas aceleradas pela magnetosfera joviana atingem violentamente os jactos na região do pólo sul, provocando a quebra das ligações atómicas das moléculas de água. Os iões de oxigénio e hidrogénio gerados desta forma deixam uma assinatura característica nas cores da aurora.

"Levámos o Hubble até aos seus limites para vermos estas emissões muito fracas", diz Joachim Saur, investigador da Universidade de Colónia, na Alemanha, e co-autor deste trabalho. "Só depois de ter sido efectuada uma reparação numa câmara em particular, na última missão de serviço do Space Shuttle ao telescópio espacial Hubble, é que conseguimos a sensibilidade necessária para procurarmos a sério por estes jactos."

Até agora foi apenas detectado vapor de água nos jactos de Europa - por oposição aos jactos de Encélado, que também contêm gelo e partículas de poeira. "Estes podem ser jactos muito subtis, porque deverão ser muito ténues e difíceis de observar em luz visível", afirma Saur. A equipa sugere que os jactos poderão ter origem nos longos lineamentos visíveis na superfície de Europa. Fissuras semelhantes foram fotografadas pela Cassini nas proximidades do pólo sul de Encélado.

Roth e colegas descobriram, ainda, que, tal como acontece em Encélado, a intensidade dos jactos de Europa varia de acordo com a sua posição orbital. O Hubble apenas conseguiu observar gêiseres activos quando a lua joviana se encontrava nas proximidades do apojove, o ponto na sua órbita mais distante de Júpiter.

Esta variabilidade na actividade dos jactos poderá ser explicada pelo stress induzido pela força gravitacional de maré nos lineamentos de Europa ao longo da sua órbita. No apojove, estas estruturas tendem a abrir, permitindo a erupção dos gêiseres. À medida que a lua viaja em direcção ao perijove, os lineamentos vão fechando, extinguindo assim os jactos de vapor de água. "A aparente variabilidade das erupções suporta uma previsão chave de que, se existe um oceano subsuperficial em Europa, então devemos ver este tipo de efeito de maré", diz Kurt Retherford, investigador do Southwest Research Institute, e membro da equipa.

Curiosamente, os jactos de Europa e de Encélado têm abundâncias de vapor de água muito semelhantes. Como a força gravitacional é 12 vezes mais intensa em Europa do que em Encélado, o vapor de água não consegue escapar para o espaço. Em vez disso, os jactos elevam-se até 200 quilómetros acima da superfície, caindo depois, provavelmente, sob a forma de finas partículas de gelo nas áreas em redor. Este fenómeno deverá produzir manchas brilhantes na região do pólo sul, uma região mapeada pela sonda Galileo apenas em baixas resoluções.

Esta descoberta é uma importante notícia para a JUICE, a futura missão da ESA focada na exploração de Júpiter e das luas Europa, Ganimedes e Calisto. A JUICE deverá ser lançada em 2022 para uma missão de 3 anos no sistema joviano, com início previsto para 2030.

Podem ler mais sobre este trabalho aqui.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Curiosity encontra vestígios de um antigo lago de água doce no interior da cratera Gale

Ilustração mostrando a possível extensão de um antigo que terá existido no passado no interior da cratera Gale.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS.

Cientistas da missão Curiosity anunciaram na segunda-feira passada a descoberta de evidências de que a cratera Gale albergou no passado um lago de água doce com condições favoráveis à vida tal como a conhecemos. A equipa liderada por John Grotzinger, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), em Pasadena, nos EUA, examinou as características físicas de um conjunto de rochas sedimentares localizadas na área de Yellowknife Bay, e concluiu que estas representam vestígios de finos depósitos argilosos formados no leito de um lago de águas tranquilas, presente no local há cerca de 3,6 mil milhões de anos.

De acordo com os dados recolhidos pelo Curiosity, o lago ter-se-á mantido estável à superfície, pelo menos durante dezenas a centenas de milhares de anos. As suas águas teriam um pH neutro e uma baixa salinidade, e providenciariam elementos essenciais à vida, como o carbono, o oxigénio, o hidrogénio, o azoto e o enxofre. Tais condições teriam proporcionado um refúgio perfeito para comunidades de microrganismos quimiolitotróficos - organismos que obtêm energia a partir dos minerais de rochas e sedimentos.

"Este ambiente habitável existiu mais tarde do que muitas pessoas pensariam ser possível", afirma Grotzinger. "Isto tem implicações globais. [Este ambiente] é de uma altura em que existiam deltas, depósitos de aluvião e outros sinais de água superficial em muitos locais de Marte. No entanto, estas [estruturas] eram consideradas demasiado jovens, ou muito efémeras, para formarem minerais argilosos. O pensamento era que, se tivessem minerais argilosos, estes deveriam ter sido transportados pela água a partir de depósitos mais antigos. Sabemos agora que os minerais argilosos poderiam ter sido produzidos numa época mais recente, o que nos dá a indicação de muitos outros locais onde existiriam ambientes favoráveis à vida."

Unidades geológicas exploradas pelo robot Curiosity na formação de Yellowknife Bay. Estão assinalados os dois pontos onde foram colhidas amostras de rocha. Imagem obtida pela MastCam a 24 de Dezembro de 2012 (sol 137 da missão).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS.

O lago estender-se-ia além dos limites de Yellowknife Bay, cobrindo no total uma área de, pelo menos, 30 km2, e seria alimentado por um sistema fluvial que desceria pelas encostas da orla noroeste da cratera Gale até Aeolis Palus, a planície onde agora viaja o Curiosity. Os depósitos lacustres examinados pelo robot da NASA mostram poucas evidências de transformações químicas induzidas pela água no local de origem, a montante do sistema fluvial, o que sugere que o ambiente em redor do lago era frio e muito árido - um ambiente semelhante ao que hoje podemos encontrar, por exemplo, no deserto de Atacama, no Chile.

Apesar do contexto pouco favorável, os investigadores sugerem que as condições de habitabilidade poderão ter persistido no local por milhões a dezenas de milhões de anos. Durante esse período, os rios e lagos marcianos foram aparecendo e desaparecendo da superfície do planeta, em ciclos mais ou menos prolongados de seca extrema. Mesmo quando o lago secou na superfície, o subsolo reteve, provavelmente, grandes quantidades de água, como indicam os veios minerais depositados pela água subterrânea em fracturas presentes nas rochas examinadas pelo Curiosity.

Veios no interior da rocha John Klein. Imagem obtida pela câmara MAHLI a 10 de Maio de 2013 (sol 270 da missão).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS.

As amostras analisadas em Yellowknife Bay revelaram, ainda, uma outra surpresa. Quando foram aquecidas no cromatógrafo de gases do pacote de instrumentos Sample Analysis at Mars (SAM), as amostras de rocha pulverizada colhidas nos depósitos sedimentares do lago libertaram dióxido de carbono em quantidades muito superiores às medidas semanas antes, em idênticas porções de poeira obtida nas areias de Rocknest. Estes resultados sugerem que os sedimentos lacustres de Yellowknife Bay contêm concentrações substanciais de compostos orgânicos, não tendo sido possível, no entanto, determinar a sua origem.

"Não podemos dizer nada acerca da origem deste carbono", afirma Daniel Glavin, membro da equipa do SAM. Marte é atingido com frequência por meteoritos e poeira interplanetária ricos em matéria orgânica produzida por reacções químicas no espaço. Os investigadores da missão estimam que estes compostos orgânicos de origem não biológica poderiam abastecer a superfície marciana com quantidades de carbono compreendidas entre 10 a várias centenas de partes por milhão (ppm), o suficiente para explicar as concentrações medidas em Yellowknife Bay.

Como terão sobrevivido estes compostos à intensa radiação que atinge continuamente a superfície do planeta? Aparentemente, os sedimentos estiveram protegidos durante milhares de milhões de anos por camadas de rocha com alguns metros de espessura. Dados obtidos pelo espectrómetro de massa do SAM mostram que estes antigos estratos foram expostos há apenas 30 a 110 milhões de anos, provavelmente pela acção erosiva do vento.

Estes resultados foram publicados na segunda-feira passada em seis artigos na revista Science. Podem consultá-los aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Chang'E-3 atinge a órbita lunar

Representação artística do pequeno robot Yutu na superfície lunar.
Crédito: Glen Nagle.

A Chang'E-3 completou hoje com sucesso a primeira fase da sua viagem à superfície lunar. A sonda chinesa realizou pelas 09:47 (hora de Lisboa) uma manobra de retro-travagem com a duração de 361 segundos, que lhe permitiu a inserção numa órbita polar em redor da Lua, a uma altitude de 100 km.

A alunagem está prevista para o dia 14 de Dezembro, entre as 15:22 e as 15:35 (hora de Lisboa). O pequeno robot Yutu deverá ser colocado na superfície lunar 5 a 7 horas depois, sendo que as primeiras imagens deverão ser enviadas apenas no dia seguinte.

Podem ver todas as fases operacionais desta missão nesta espectacular animação:


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

De olho na "Alameda das Tempestades"

O hemisfério sul de Saturno numa composição em cores falsas construída com imagens obtidas pela sonda Cassini a 02 de Dezembro de 2013, através de filtros para o infravermelho próximo.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/Sérgio Paulino.

Esta magnífica imagem, obtida recentemente pela sonda Cassini, mostra uma tempestade em actividade na chamada "Alameda das Tempestades", uma estreita banda atmosférica localizada nas regiões temperadas do hemisfério sul de Saturno. Com dimensões que atingem alguns milhares de quilómetros, estas tempestades são fenómenos extremamente violentos, onde são produzidos poderosos relâmpagos e ventos que sopram a mais de 2.000 quilómetros por hora!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Sonda chinesa Chang'E-3 está a caminho da Lua!

Lançamento da sonda Chang'E-3, a 01 de Dezembro de 2013.
Crédito: CNSA/CLEP.

A China lançou ontem a sua terceira missão à Lua. Denominada Chang'E-3, esta missão marca o início da segunda fase do programa lunar não tripulado da China, um programa que conta já com duas missões bem sucedidas na órbita lunar.

O lançamento teve lugar às 17:30 (hora de Lisboa), no Complexo de Lançamentos nº2 do Centro de Lançamento de Satélites de Xichang, na província de Sichuan, na China, e foi realizado pelo foguetão CZ-3B/GIII Chang Zheng-3B/GIII (Y23).

A Chang'E-3 é composta por dois elementos: um veículo de descida e um pequeno robot denominado Yutu. A missão tem como objectivo principal concretizar a primeira alunagem de um veículo chinês na Lua. A alunagem terá lugar a 14 de Dezembro, nas planícies basálticas de Sinus Iridum, no extremo noroeste de Mare Imbrium, e será a primeira desde a visita da sonda soviética Luna-24 a Mare Crisium, em 1976.

Podem ler mais pormenores sobre esta missão aqui e aqui.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Mars Orbiter Mission a caminho de Marte

Representação artística da trajectória da sonda Mars Orbiter Mission na órbita da Terra.
Crédito: ISRO.

A sonda indiana Mars Orbiter Mission (MOM) completou ontem a manobra crítica que a coloca numa trajectória em direcção ao planeta vermelho. A MOM inicia assim uma viagem interplanetária que durará cerca de 10 meses, a primeira alguma vez realizada por uma sonda indiana.

A manobra teve o seu início pelas 19:19 (hora de Lisboa) e consistiu numa queima de combustível que durou cerca de 22 minutos, e que permitiu um aumento de velocidade de cerca de 647,96 m.s-1. A MOM deverá abandonar a esfera de influência gravitacional da Terra na próxima terça-feira, quando alcançar uma distância da superfície terrestre de cerca de 918.347 km.

Primeiros organismos vivos responsáveis pelo aparecimento dos continentes

Comunidades de cianobactérias hipolíticas vivendo na superfície de uma rocha no deserto de Mojave, nos EUA.
Crédito: NASA.

O aparecimento e evolução da vida na Terra teve, sem dúvida, um enorme impacto na evolução da química dos oceanos e da atmosfera. No entanto, a influência da biosfera no nosso planeta poderá ter sido muito mais alargada, e com implicações muito mais profundas.

Num artigo publicado recentemente na revista Planetary and Space Science, investigadores alemães mostram como os primeiros organismos moldaram a superfície terrestre ao ponto de desencadearem a formação dos primeiros grandes continentes. Usando um novo modelo numérico que relaciona a taxa de erosão continental promovida pela actividade biológica com o crescimento da área dos continentes e o estado de hidratação do manto, Dennis Höning e colegas demonstraram o papel fundamental que a biosfera teve na formação e dinâmica das placas continentais.

"Esta foi a primeira vez que a biosfera foi tida em conta em modelos de evolução do interior da Terra", afirmou à revista New Scientist Tilman Spohn, investigador do Instituto de Investigação Planetária, em Berlim, na Alemanha, e um dos co-autores deste trabalho.

A chave deste novo modelo é a erosão promovida nas superfícies rochosas pelos organismos vivos. De acordo com os autores deste trabalho, a actividade biológica amplifica a taxa de erosão dos continentes, aumentando assim o volume de sedimentos que entram nos oceanos e, como consequência, nas regiões de convergência da crusta terrestre nas margens das placas continentais. "Pensem nos líquenes que cobrem as rochas nuas, e que providenciam um contacto contínuo entre a água e a rocha. Ou as bactérias que produzem ácidos e dissolvem as rochas", afirma Spohn.

Neste novo modelo, os sedimentos retêm água nas camadas superficiais da crusta, impedindo a sua perda quando as placas atingem as zonas de subducção. Este processo conduz a um aumento da concentração de água no interior do manto e, consequentemente, a uma baixa viscosidade e elevada flutuabilidade das suas camadas superiores, pelo que o magma ascende e a emerge com maior facilidade na superfície da crusta, alimentando violentas erupções vulcânicas que aumentam a área das placas continentais. "Este é o principal factor que faz com que a vida aumente a taxa de formação dos continentes", afirma Höning.

No modelo, o equilíbrio é atingido quando as taxas de destruição e de formação de crusta continental são equivalentes. No fim, os continentes ocupam cerca de 40% da superfície terrestre, um valor muito semelhante ao que actualmente observamos na Terra.

Höning e colegas aplicaram o mesmo modelo a uma Terra alternativa, sem a intervenção de seres vivos. O que descobriram foi deveras fascinante. Durante os primeiros 1,5 mil milhões de anos, a evolução geológica é muito semelhante à da Terra com biosfera. No entanto, ao fim de 2,5 mil milhões de anos, tudo começa a divergir. Apesar de nesse período emergirem as primeiras placas continentais, a hidratação do manto decresce ao ponto deste não conseguir suster o crescimento de massas continentais significativas. No final, tudo o que resta é um planeta coberto com um vasto oceano ponteado por vulcões.

Este trabalho sugere, ainda, a existência de um ponto de viragem na taxa de sedimentação, um ponto além do qual a formação de continentes é praticamente inevitável. No entanto, o modelo não permite determinar qual teria sido o nível de actividade biológica presente nos primórdios da Terra para induzir a formação das grandes massas continentais que hoje observamos.

Os processos descritos pelo novo modelo estão em consonância com as evidências indirectas de actividade biológica observadas em antigas rochas provenientes de zonas de subducção. A presença de óxidos de alumínio em rochas graníticas continentais sugere que os primeiros organismos vivos promoviam a erosão continental, produzindo sedimentos que seriam transportados até às margens das placas continentais. Tais óxidos têm origem em argilas, minerais produzidos, principalmente, pela degradação biológica de rochas.

Podem encontrar mais detalhes sobre este modelo aqui.