Sempre foi um mistério a inclinação extrema da rotação de Urano. Quase perpendicular ao plano orbital, o eixo de rotação do gigante gelado é certamente uma relíquia do passado violento do Sistema Solar. Desde cedo, os astrónomos sugeriram que esta característica singular teria sido produto do impacto de um corpo com pelo menos a massa da Terra. No entanto, esta teoria tem um problema. Tal catástrofe deveria ter deixado as órbitas das luas uranianas nas suas inclinações originais, e não, tal como observamos hoje, em órbitas regulares no plano equatorial do planeta.
A extrema inclinação do sistema uraniano reproduzida numa imagem obtida no infravermelho próximo, região do espectro luminoso onde o sistema de anéis é mais proeminente.
Crédito: Lawrence Sromovsky, (Univ. Wisconsin-Madison), Keck Observatory.
Um novo trabalho divulgado ontem na EPSC-DPS Joint Meeting parece trazer uma nova solução para este antigo problema. Através de simulações, uma equipa de cientistas liderada por Alessandro Morbidelli (Observatoire de la Cote d’Azur) testou vários cenários de impacto que pudessem reproduzir a actual inclinação do sistema uraniano. Descobriram que se o Urano tivesse sido atingindo quando ainda se encontrava rodeado por um disco protoplanetário (um disco de material donde posteriormente iria emergir o séquito de pequenas luas), então todo o sistema se reorganizaria na nova inclinação.
O novo modelo seria um sucesso, não fosse a simulação gerar um outro resultado intrigante. Depois da violenta colisão, muitas das luas de Urano passavam a exibir órbitas retrógradas, ou seja, no sentido contrário ao que se observa hoje. Para ultrapassar este impasse, Morbidelli e colegas reviram os seus parâmetros, e para sua surpresa, descobriram que duas ou mais colisões menores diminuíam significativamente a probabilidade da ocorrência de órbitas retrógradas nas luas de Urano.
Estes novos resultados prometem abalar alguns dos principais aspectos da actual teoria da formação dos planetas. Segundo Morbidelli, "a teoria da formação dos planetas actualmente aceite assume que Neptuno, Urano e os núcleos de Júpiter e Saturno foram formados pela acreção de apenas pequenos objectos do disco protoplanetário. Nenhum deveria ter sofrido qualquer colisão gigante. O facto de Urano ter sido atingido pelo menos duas vezes sugere que os grandes impactos foram fenómenos vulgares na formação dos planetas gigantes, pelo que a teoria vigente tem que ser revista."
A extrema inclinação do sistema uraniano reproduzida numa imagem obtida no infravermelho próximo, região do espectro luminoso onde o sistema de anéis é mais proeminente.
Crédito: Lawrence Sromovsky, (Univ. Wisconsin-Madison), Keck Observatory.
Um novo trabalho divulgado ontem na EPSC-DPS Joint Meeting parece trazer uma nova solução para este antigo problema. Através de simulações, uma equipa de cientistas liderada por Alessandro Morbidelli (Observatoire de la Cote d’Azur) testou vários cenários de impacto que pudessem reproduzir a actual inclinação do sistema uraniano. Descobriram que se o Urano tivesse sido atingindo quando ainda se encontrava rodeado por um disco protoplanetário (um disco de material donde posteriormente iria emergir o séquito de pequenas luas), então todo o sistema se reorganizaria na nova inclinação.
O novo modelo seria um sucesso, não fosse a simulação gerar um outro resultado intrigante. Depois da violenta colisão, muitas das luas de Urano passavam a exibir órbitas retrógradas, ou seja, no sentido contrário ao que se observa hoje. Para ultrapassar este impasse, Morbidelli e colegas reviram os seus parâmetros, e para sua surpresa, descobriram que duas ou mais colisões menores diminuíam significativamente a probabilidade da ocorrência de órbitas retrógradas nas luas de Urano.
Estes novos resultados prometem abalar alguns dos principais aspectos da actual teoria da formação dos planetas. Segundo Morbidelli, "a teoria da formação dos planetas actualmente aceite assume que Neptuno, Urano e os núcleos de Júpiter e Saturno foram formados pela acreção de apenas pequenos objectos do disco protoplanetário. Nenhum deveria ter sofrido qualquer colisão gigante. O facto de Urano ter sido atingido pelo menos duas vezes sugere que os grandes impactos foram fenómenos vulgares na formação dos planetas gigantes, pelo que a teoria vigente tem que ser revista."
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