sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Caronte teve um passado violento

Caronte em alta resolução. Imagem obtida pela Ralph/Multispectral Visual Imaging Camera (MVIC) da sonda New Horizons, a dia 14 de julho de 2015 (resolução aproximada: 1,5 km/píxel).
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute.

Caronte não é, definitivamente, o mundo monótono crivado de crateras que os cientistas antecipavam. Imagens enviadas na semana passada pela sonda New Horizons revelam uma paisagem surpreendentemente complexa, coberta de montanhas, falhas e extensos vales profundos.

"Pensávamos que seria baixa a probabilidade de vermos estruturas tão interessantes na superfície deste satélite de um mundo situado nos confins distantes do Sistema Solar", disse Ross Beyer, membro da equipa de geologia, geofísica e imagem da New Horizons. "Não podia estar mais satisfeito com aquilo que vemos".

A complexa paisagem de Caronte num mosaico construído com imagens obtidas pela câmara LORRI da sonda New Horizons, a 14 de julho de 2015. As cores baseiam-se nos dados obtidos pela MVIC. Resolução aproximada do mosaico: 0,44 km/píxel.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute.

Destaca-se entre as formações mais proeminentes nas imagens agora divulgadas uma enigmática cintura de canhões entrelaçados com mais de 1600 km de comprimento. Este gigantesco sistema circunda todo o hemisfério subplutoniano e prolonga-se provavelmente até ao hemisfério oposto. As suas dimensões sugerem que no passado a superfície de Caronte esteve sujeita a um levantamento tectónico de proporções colossais.

"Parece que toda a crusta de Caronte foi aberta", afirmou John Spencer, líder da equipa de geologia, geofísica e imagem da New Horizons. "No que diz respeito ao seu tamanho relativamente a Caronte, esta estrutura assemelha-se muito ao vasto sistema de canhões de Valles Marineris, em Marte."

Caronte e Plutão lado a lado. As duas imagens foram processadas de forma idêntica para permitir uma comparação direta das cores e brilhos dos dois objetos.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute.

As novas imagens permitiram ainda um olhar mais detalhado sobre as planícies a sul do sistema de canhões. Conhecida informalmente por Vulcan Planum, esta região destaca-se por possuir um número de crateras inferior ao dos terrenos acidentados mais a norte, o que indica que é consideravelmente mais jovem. As imagens revelam também uma rede de sulcos e cristas cruzando toda a região. Estas estruturas são um claro indício de que terá ocorrido em Caronte uma reformulação da superfície em larga escala.

De acordo com a equipa da missão, é possível que Vulcan Planum tenha sido moldada por fenómenos criovulcânicos. "A equipa está a discutir a possibilidade de que um oceano interior de água possa ter congelado há muito tempo, e que a alteração de volume daí resultante possa ter levado Caronte a rachar, permitindo que ‘lavas’ baseadas em água atingissem a superfície", explicou Paul Schenk, membro da equipa responsável pela New Horizons.

Estão ainda por enviar imagens de Caronte com uma resolução superior, bem como outros dados relativos à composição da sua superfície, pelo que devemos esperar nos próximos meses mais algumas surpresas.

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