quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Novas evidências de um oceano global em Encélado

A lua Encélado vista pela sonda Cassini, a 08 de setembro de 2015.
Crédito: NASA/JPL/SSI/Sérgio Paulino.

Encélado poderá ter, afinal, um oceano interior de água líquida muito mais extenso do que se pensava. Um novo estudo baseado em imagens captadas pela sonda Cassini mostra que esta lua de Saturno possui uma libração longitudinal demasiado elevada para o que seria de esperar de um objeto com uma crusta gelada diretamente soldada ao núcleo rochoso no seu interior. Este resultado sugere que a massa de água que alimenta os géiseres observados nas proximidades do polo sul de Encélado não se encontra confinada a essa região, mas estende-se ao longo de toda a lua, por baixo da camada superficial de gelo. O trabalho foi apresentado num artigo publicado na passada sexta-feira na revista Icarus.

"Este foi um problema difícil que exigiu anos de observação e cálculos envolvendo um conjunto diverso de disciplinas, mas estamos confiantes de que resolvemos finalmente esta questão", afirmou Peter Thomas, investigador da equipa de imagem da missão e primeiro autor do artigo.

Durante a última década, a Cassini esteve ocupada a estudar em detalhe o sistema saturniano, fornecendo aos cientistas dados e imagens sem precedentes de Saturno e de muitas das suas luas. Antes da chegada da sonda da NASA, Encélado era visto como um pequeno mundo inativo, composto essencialmente por uma mistura de rocha e gelo. No entanto, esta conceção viria a mudar em 2005, quando a Cassini observou pela primeira vez um conjunto de majestosos géiseres erguendo-se a grande altitude sobre 4 proeminentes fraturas nas proximidades do polo sul da lua.

Trabalhos posteriores demonstraram que esta atividade só poderia ser explicada pela presença de um reservatório de água líquida escondido por debaixo da crusta gelada. Os dados reunidos pela Cassini revelavam-se, no entanto, insuficientes para que os cientistas determinassem quais as verdadeiras dimensões deste reservatório, pelo que o debate manteve-se aceso... até agora.

Representação artística da estrutura interna de Encélado, com um oceano global separando o núcleo rochoso da crusta gelada.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SSI.

Neste novo estudo, os investigadores analisaram milhares de imagens captadas pela Cassini ao longo de mais de 7 anos, com o objetivo de detetarem a presença de pequenas variações na rotação de Encélado. Usando como pontos guia diversas estruturas na superfície da lua (crateras, na sua maioria), a equipa descobriu que Encélado sofre uma pequena mas mensurável libração longitudinal ao longo da sua órbita em redor de Saturno. Depois de testarem diferentes modelos para determinar a fonte desta oscilação, os investigadores concluíram que a única explicação possível seria a presença de um oceano global separando a crusta gelada do núcleo rochoso.

"Se a superfície e o núcleo estivessem rigidamente conectados, o núcleo iria produzir tanto peso morto que a oscilação seria consideravelmente menor do que aquela que observamos", disse Matthew Tiscareno, investigador participante da missão e um dos coautores deste trabalho. "Isto prova que deve haver uma camada global de líquido a separar a superfície do núcleo."

Os cientistas desconhecem ainda qual será o mecanismo que impede o oceano de congelar. Uma das possibilidades é a de que a força de maré gerada por Saturno possa estar a criar muito mais calor no interior de Encélado do que os modelos à partida prevêem. No dia 28 de outubro, a Cassini tem agendada uma última passagem através dos géiseres da região do polo sul, pelo que esta será uma derradeira oportunidade para os cientistas da missão recolherem dados preciosos acerca dos processos geológicos que ocorrem no interior da lua.

Podem ler mais sobre este trabalho aqui.

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