O Verão é tipicamente uma estação propícia à merecida pausa das férias. Este ano o meu itinerário de férias teve paragem obrigatória em S. Pedro de Paus, freguesia do Concelho de Resende, local de origem da minha família paterna. Situado na margem sul do Rio Douro, o pequeno concelho nortenho é uma das portas de entrada no Alto Douro Vinhateiro, região classificada em 2001 pela UNESCO como Património Cultural da Humanidade. Inserido numa região essencialmente rural, com raízes anteriores à nacionalidade, Resende constitui um local aprazível para quem deseja umas férias tranquilas em comunhão com a natureza e com as velhas tradições.
Nas últimas duas décadas, o concelho viu o seu vasto património histórico enriquecido com uma série de importantes descobertas arqueológicas que muito engrossaram os conhecimentos existentes acerca do Megalitismo do Norte de Portugal. A área em redor do monte de S. Cristóvão, uma das mais altas elevações da Serra de Montemuro, demonstrou ser uma região particularmente rica em monumentos megalíticos, na sua maioria pequenos dólmenes encobertos por montículos artificiais de terra, designados por tumuli ou mamoas. Conhecido pelo magnífico miradouro situado a mais de 1.100 metros de altitude, o espaço em redor sempre me seduziu pela sua paisagem agreste, onde entre tojo, urze e outros pequenos arbustos rasteiros, se escondem perdizes, lebres e licranços, e por onde milhafres, falcões e raposas patrulham as encostas em busca das suas presas.
Vista do miradouro de S. Cristovão sobre o vale do Ribeiro Bestança. Ao fundo são visíveis o Douro e a Serra do Marão.
Crédito: Sérgio Paulino.
Dólmen I de S. Cristovão, uma das nove mamoas descobertas no planalto existente entre o monte de S. Cristovão e Feirão.
Crédito: Sérgio Paulino.
Como desde cedo me interessei pelo Megalitismo da Península Ibérica, foi com particular entusiasmo que tomei conhecimento da existência de monumentos megalíticos em S. Cristóvão. Inspirado pela beleza da paisagem, decidi aproveitar a estadia em S. Pedro de Paus para revisitar uma das mamoas de S. Cristóvão, o Dólmen 1 de S. Cristóvão, e para observar de perto e em pormenor um enigmático conjunto de menires, localizado a poucas centenas de metros da capela de S. Cristóvão. Depois de alguma pesquisa, percebi que este segundo monumento constitui uma descoberta arqueológica notável dada a sua singularidade entre os monumentos megalíticos conhecidos no Norte de Portugal. Implantado num anfiteatro natural orientado para nascente, o denominado Recinto Megalítico I de S. Cristóvão é composto por cerca de 40 monólitos graníticos erectos, envolvidos por uma estrutura de sustenção lítica que define um espaço aproximadamente oval, com uma área superior a 1.000 m2 e com uma largura de cerca de 40 metros. A sua complexidade inscreve-o nos monumentos megalíticos de tipo cromeleque, estruturas extremamente raras a norte do Rio Tejo.
Monólito granítico no Recinto Megalítico I de S. Cristovão.
Crédito: Sérgio Paulino.
Estrutura de sustenção lítica do tipo calçada existente no interior do recinto.
Crédito: Sérgio Paulino.
Dadas as características particulares do local onde se insere o recinto, parece óbvia a interpretação da equipa de arqueólogos da Universidade do Porto, responsável pelas várias escavações realizadas no local desde 1994, que sugerem possíveis ligações do monumento à arqueoastronomia. Esta hipótese foi confirmada pelo especialista Professor Michael Hoskin durante a sua visita ao local (ver artigo aqui), reconhecendo no recinto um possível local onde há milhares de anos as populações da região realizariam previsões dos solstícios de Inverno. A mesma equipa de arqueólogos viria a descobrir posteriormente, um segundo recinto (o Recinto Megalítico II de S. Cristovão) com características semelhantes, num local um pouco distante do primeiro. Situado numa depressão de terreno orientada para poente, este segundo monumento megalítico (o qual não consegui encontrar) parece partilhar as mesmas funções com o primeiro.
Lamentavelmente, durante a minha visita ao Recinto Megalítico I pude verificar algum desleixo na conservação do monumento. Lanço aqui um apelo às entidades responsáveis (em particular, à Câmara Municipal de Resende) para cortarem a densa vegetação que envolve as estruturas pétreas, vedarem o recinto, e colocarem sinalização na estrada e placas informativas junto ao local, para que os visitantes possam facilmente encontrar e aceder ao monumento.
Nas últimas duas décadas, o concelho viu o seu vasto património histórico enriquecido com uma série de importantes descobertas arqueológicas que muito engrossaram os conhecimentos existentes acerca do Megalitismo do Norte de Portugal. A área em redor do monte de S. Cristóvão, uma das mais altas elevações da Serra de Montemuro, demonstrou ser uma região particularmente rica em monumentos megalíticos, na sua maioria pequenos dólmenes encobertos por montículos artificiais de terra, designados por tumuli ou mamoas. Conhecido pelo magnífico miradouro situado a mais de 1.100 metros de altitude, o espaço em redor sempre me seduziu pela sua paisagem agreste, onde entre tojo, urze e outros pequenos arbustos rasteiros, se escondem perdizes, lebres e licranços, e por onde milhafres, falcões e raposas patrulham as encostas em busca das suas presas.
Vista do miradouro de S. Cristovão sobre o vale do Ribeiro Bestança. Ao fundo são visíveis o Douro e a Serra do Marão.
Crédito: Sérgio Paulino.
Dólmen I de S. Cristovão, uma das nove mamoas descobertas no planalto existente entre o monte de S. Cristovão e Feirão.
Crédito: Sérgio Paulino.
Como desde cedo me interessei pelo Megalitismo da Península Ibérica, foi com particular entusiasmo que tomei conhecimento da existência de monumentos megalíticos em S. Cristóvão. Inspirado pela beleza da paisagem, decidi aproveitar a estadia em S. Pedro de Paus para revisitar uma das mamoas de S. Cristóvão, o Dólmen 1 de S. Cristóvão, e para observar de perto e em pormenor um enigmático conjunto de menires, localizado a poucas centenas de metros da capela de S. Cristóvão. Depois de alguma pesquisa, percebi que este segundo monumento constitui uma descoberta arqueológica notável dada a sua singularidade entre os monumentos megalíticos conhecidos no Norte de Portugal. Implantado num anfiteatro natural orientado para nascente, o denominado Recinto Megalítico I de S. Cristóvão é composto por cerca de 40 monólitos graníticos erectos, envolvidos por uma estrutura de sustenção lítica que define um espaço aproximadamente oval, com uma área superior a 1.000 m2 e com uma largura de cerca de 40 metros. A sua complexidade inscreve-o nos monumentos megalíticos de tipo cromeleque, estruturas extremamente raras a norte do Rio Tejo.
Monólito granítico no Recinto Megalítico I de S. Cristovão.
Crédito: Sérgio Paulino.
Estrutura de sustenção lítica do tipo calçada existente no interior do recinto.
Crédito: Sérgio Paulino.
Dadas as características particulares do local onde se insere o recinto, parece óbvia a interpretação da equipa de arqueólogos da Universidade do Porto, responsável pelas várias escavações realizadas no local desde 1994, que sugerem possíveis ligações do monumento à arqueoastronomia. Esta hipótese foi confirmada pelo especialista Professor Michael Hoskin durante a sua visita ao local (ver artigo aqui), reconhecendo no recinto um possível local onde há milhares de anos as populações da região realizariam previsões dos solstícios de Inverno. A mesma equipa de arqueólogos viria a descobrir posteriormente, um segundo recinto (o Recinto Megalítico II de S. Cristovão) com características semelhantes, num local um pouco distante do primeiro. Situado numa depressão de terreno orientada para poente, este segundo monumento megalítico (o qual não consegui encontrar) parece partilhar as mesmas funções com o primeiro.
Lamentavelmente, durante a minha visita ao Recinto Megalítico I pude verificar algum desleixo na conservação do monumento. Lanço aqui um apelo às entidades responsáveis (em particular, à Câmara Municipal de Resende) para cortarem a densa vegetação que envolve as estruturas pétreas, vedarem o recinto, e colocarem sinalização na estrada e placas informativas junto ao local, para que os visitantes possam facilmente encontrar e aceder ao monumento.
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