terça-feira, 13 de outubro de 2009

Descoberto um novo anel em Saturno

A NASA anunciou na semana passada a descoberta de um ténue disco de partículas de poeira e gelo em redor de Saturno. Com uma extensão que vai desde os 128 aos 207 RS (1 RS corresponde ao raio de Saturno, ou seja, cerca de 60.330 Km) e uma espessura vertical com cerca de 2,4 milhões de quilómetros, o novo anel ultrapassa de longe as dimensões de qualquer outro anel planetário conhecido no Sistema Solar. Apesar de gigantesco, a densidade de partículas de poeira no interior da estrutura não ultrapassa as 20 partículas por Km3, facto que o torna demasiado difuso para poder ser observado em luz visível. A sua descoberta só foi possível graças à câmara de infra-vermelhos do telescópio espacial Spitzer, que detectou em Fevereiro passado as fracas emissões térmicas geradas pelas minúsculas partículas do anel.


Representação artística de uma visão em infra-vermelho do gigantesco disco de grãos de poeira descoberto pelo telescópio espacial Spitzer. Saturno surge na imagem como um pequeno ponto no meio do difuso anel. Inserida na figura encontra-se uma imagem de Saturno em infra-vermelho, obtida no Observatório W.M. Keck, no Hawaii.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/W. M. Keck Observatory.

Segundos os autores da descoberta (ver artigo publicado on-line na revista Nature), as finas partículas do gigantesco disco terão provavelmente origem em material ejectado da superfície de Febe, a maior das luas irregulares de Saturno. Esta conclusão resulta do facto da inclinação orbital e da espessura vertical do disco coincidirem quase na perfeição com a órbita da pequena lua. Provavelmente, a população de partículas existentes no anel mantém-se estável devido ao contínuo bombardeamento da superfície de Febe com micrometeoritos provenientes não só do próprio anel, como também do espaço interplanetário.

A lua Febe vista pela sonda Cassini durante a sua aproximação a 11 de Junho de 2004.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.


Demasiado distante de Saturno, o novo disco sofre fracas perturbações gravitacionais, pelo que conserva uma inclinação de 27º relativamente ao equador de gigante gasoso. Neste cenário, a radiação solar assume-se como a principal força perturbadora da órbita das partículas. Simulações de computador levadas a cabo pelos investigadores demonstraram que a libertação da radiação absorvida pelos grãos de poeira exerce uma força que os impele para órbitas progressivamente mais próximas de Saturno e, consequentemente, mais próximas da órbita da lua Jápeto. Assumindo que se movem numa órbita retrógrada (semelhante à de Febe mas contrária à de Jápeto), as pequenas partículas em migração para o interior do sistema saturniano acabam por ter grandes probabilidades de colidirem directamente com o hemisfério líder de Jápeto, precisamente aquele que apresenta um brilho e composição comparáveis aos da superfície de Febe. Este mecanismo poderá ser a chave para um velho enigma com séculos de existência: o aspecto bi-tonal de Jápeto.

A aparência exótica de Jápeto num mosaico construído com imagens captadas pela sonda Cassini, durante a sua passagem em Setembro de 2007. Visível à direita, encontra-se a região de transição entre o hemisfério brilhante e o escuro hemisfério líder.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Sem comentários:

Enviar um comentário