domingo, 26 de julho de 2015

O lado noturno de Plutão

A sonda New Horizons continua a enviar imagens assombrosas do seu recente encontro com Plutão. Anteontem, a equipa da missão divulgou um retrato fenomenal do lado noturno do planeta anão, visto a uma distância de 370 mil quilómetros.

O lado noturno de Plutão, visto pela sonda New Horizons, a 14 de julho de 2015.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute.

A imagem revela, pela primeira vez, a estrutura vertical da atmosfera plutoniana. Uma análise preliminar destes dados permite identificar duas camadas de neblina distintas - uma pairando a cerca de 50 km acima da superfície de Plutão e a outra a uma altitude de 84 km. Estas estruturas poderão ser elementos chave na produção dos compostos orgânicos complexos responsáveis pela tonalidade avermelhada da superfície de Plutão.

Estrutura vertical da atmosfera de Plutão. Imagens obtidas pela sonda New Horizons, a 14 de julho de 2015.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute (adaptado por Sérgio Paulino).

Modelos científicos sugerem que estas camadas se formam a partir da destruição de moléculas de metano presentes na atmosfera plutoniana, provocada pela sua exposição à radiação ultravioleta. Este processo desencadeia a produção de compostos orgânicos mais complexos, como por exemplo o eteno (C2H4) e o etino (C2H2), duas moléculas cuja presença foi já confirmada pela New Horizons. À medida que atingem as camadas atmosféricas mais profundas e frias, estas moléculas condensam sob a forma de partículas de gelo, criando as distintivas camadas de neblina observadas pela sonda da NASA. A luz ultravioleta converte quimicamente estas partículas em tolinas, compostos orgânicos incrivelmente complexos de cor avermelhada, que se precipitam lentamente sobre a superfície de Plutão.

Plutão visto pela sonda New Horizons, a 450 mil quilómetros de distância. Composição construída com 4 imagens captadas pela câmara LORRI a 14 de julho de 2015.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute/Sérgio Paulino.

A equipa da missão divulgou ainda um novo conjunto de imagens de Plutão, incluindo novas imagens em alta resolução de Sputnik Planum - a extensa planície que forma o lobo ocidental de Tombaugh Regio. As imagens mostram o que parecem ser línguas de gelo de azoto no bordo setentrional desta região. Estas formações estão em contacto com áreas mais acidentadas e parecem ter fluído de uma forma muito semelhante à dos glaciares terrestres.

A região de Sputnik Planum vista pela sonda New Horizons, a 14 de julho de 2015. Composição construída com 7 imagens captadas a cerca de 80 mil quilómetros de distância de Plutão.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute/Sérgio Paulino.

A New Horizons enviou, até agora, apenas uma pequena fração da imensidão de dados recolhidos durante o seu encontro com o sistema plutoniano. Os cientistas da missão esperam receber a totalidade desses dados até ao final de 2016.

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